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O Inevitável autofinanciamento no Agronegócio


Eleri Hamer
Em 2009, fez 20 anos que o setor agrícola experimentou um ponto de inflexão importante em se tratando do financiamento da produção. Desde o final da década de 80, o setor agrícola teve que se adequar à retirada do Estado no financiamento do setor agrícola e a conseqüente escassez de crédito público, substituído pelos demais players, principalmente as tradings.
Dado a um conjunto de fatores, dentre eles principalmente a gangorra cíclica dos preços das principais commodities, a desastrosa condução da política cambial e a deficiente gestão das propriedades o setor produtivo foi colocado numa situação de dependência e relação ao Estado e posteriormente de subserviência em relação a iniciativa privada, perdendo a capacidade de autofinanciamento.
Tivemos várias conseqüências negativas com o novo modelo, porém, o aspecto positivo e preponderante é que esta situação levou os produtores a se profissionalizar, tanto do ponto de vista tecnológico como em relação às questões gerenciais, melhorando a competitividade do setor como um todo.
Foi possível inclusive que melhorássemos o desempenho no mercado internacional, fazendo frente aos demais produtores mundiais, mesmo diante de consistentes projetos protecionistas, principalmente dos países desenvolvidos.
Nestes últimos 20 anos, do mesmo modo como os demais setores em expansão, o crédito foi se ampliando vertiginosamente e a capacidade empreendedora de boa parte dos produtores foi sendo revelada e executada.
Estes aspectos conjugados conduziram o país a se apresentar como um dos principais players mundiais num conjunto importante de produtos, mantendo o agronegócio como sustentáculo do PIB e da Balança Comercial, mas por outro lado colocou os produtores como reféns da conveniência e do crédito fácil.
Com a crise mundial, que se instalou a partir de meados de 2008, os recursos privados, que antes representavam 2/3 do financiamento do setor, escassearam, deixando boa parte dos produtores em situação de risco.
Esta condição se tornou ainda mais grave dado o histórico de descompasso entre produção, custos, gestão e câmbio, para um número expressivo de produtores, que já carregavam um volume significativo de inadimplência e renegociações.
Novamente se apresentou um grande divisor de águas, agora porém, com alguns agravantes. De um lado a escassez de crédito privado em função da crise, de outro a reduzida presença do Estado associado a sua comumente lerdeza operacional. E por fim, a descapitalização de parte dos produtores associado ao elevado grau de endividamento.
É sabido que os bancos públicos não vão conseguir suprir esta demanda por crédito. Primeiro em função do tesouro nacional não estar disposto a apostar recursos na agricultura, principalmente porque o reconhecimento do lobby ainda é pequeno e o poder do setor historicamente é subserviente ao modelo macroeconômico.
Segundo, que a capacidade de atender no prazo e com os volumes esperados de recursos nunca foi capaz de acontecer. O Estado parece não entender que na agricultura há prazos a serem obedecidos e que não há mais utilidade em liberar recursos da comercialização da safra quando ela já passou ou para o plantio quando a cultura já está plantada.
Desse modo, a situação que agora se apresenta é particularmente preocupante. Em resumo, os produtores deverão reunir esforços para serem capazes de inverter o perfil do financiamento para a sua produção. Já neste ano os recursos próprios devem assumir parcela expressiva (mais de 50% do total de recursos) do total necessário para financiar a produção.
A origem destes recursos é que no curto prazo deverá trazer muita dor de cabeça para uma parcela significativa, dado que ainda não foram resolvidas as contas de 2008 e o setor já está às voltas com as de 2009.
No médio e longo prazo porém, este novo formato deverá trazer maior sustentabilidade para o setor, motivado principalmente pela menor dependência e o menor custo financeiro das atividades o que pode trazer uma estrutura mais competitiva e menos vulnerável aos solavancos cíclicos do setor.
Boa semana de Gestão & Negócios.

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