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Parte 8. Redução de Queimadas em Pastagens da Amazônia Ocidental. Controle das cigarrinha-das-pastagens


Newton de Lucena Costa

As cigarrinhas-das-pastagens representam um dos principais problemas que afetam a produção e persistência das pastagens cultivadas. A diversificação das pastagens com a utilização de gramíneas resistentes à referida praga é a alternativa mais prática e econômica para a sua solução, além de ser um dos fatores que contribui para reduzir a prática da queimada. As gramíneas forrageiras apresentam características e exigências específicas e podem ser destinadas a objetivos distintos. Considerando-se estes aspectos, sugere-se, na medida do possível, a inclusão de novas gramíneas durante a formação de novas áreas ou quando da renovação das pastagens.

A cigarrinha-das-pastagens é a principal praga das pastagens, podendo acarretar acentuado decréscimo na disponibilidade e valor nutritivo da forragem e até implicar na degradação da pastagem. São insetos sugadores, essencialmente graminícolas. Na fase adulta, os insetos sugam a seiva das folhas e inoculam toxinas, causando intoxicação sistêmica nas plantas (fitotoxemia), que interrompe o fluxo da seiva e o processo vegetativo, cujos sintomas iniciais são estrias longitudinais amareladas que aumentam para o apíce da folha e posteriormente secam, podendo, no caso de ataque intenso, ocorrer o amarelecimento e secamento total da pastagem. As ninfas sugam continuamente a seiva das raízes ou coleto, produzindo uma espuma branca típica, semelhante à saliva, a qual serve como proteção para os raios solares e de certos predadores. Nesta fase, ocorre um desequilíbrio hídrico e o esgotamento dos carbohidratos de reserva utilizados no processo de crescimento das plantas. Dentre as gramíneas forrageiras introduzidas e avaliadas em Rondônia, as que se mostraram resistentes às cigarrinhas-das-pastagens foram A. gayanus cv. Planaltina, B. brizantha cv. Marandu, Tripsacum. australe, Axonopus scoparius, Paspalum atratum cv. Pojuc, P. guenoarum FCAP-43 e P. secans FCAP-12.

A ocorrência das cigarrinhas-das-pastagens e seu comportamento estão diretamente relacionados com as condições climáticas, principalmente, elevada precipitação, umidade relativa do ar e temperatura. Quando estas são favoráveis, os ovos eclodem cerca de 22 dias após a postura, passando pela fase de ninfa até atingirem o estágio adulto, completando o ciclo biológico entre 67 e 69 dias, conforme a espécie. Caso contrário, os ovos entram em quiescência, mantendo-se viáveis durante vários dias no solo, a espera de condições climáticas favoráveis.  As espécies detectadas na região foram Deois incompleta, Deois flavopicta e Zulia entreriana, com predominância para a primeira, as quais atacam várias gramíneas (Brachiaria deccumbens, B. ruziziensis, B. humidicola e Panicum maximum). Recentemente, foram detectados surtos da espécie Mahanarva fimbriolata em cultivos simultâneos de milho, arroz e P. maximum cv. Tanzânia, havendo vários relatos de produtores e técnicos de ataque à B. brizantha cv. Marandu. A população de cigarrinhas-das-pastagens durante a estação chuvosa alcança níveis muito altos, podendo-se encontrar até 100 ninfas/m2. Em condições de campo, são parcialmente controladas por vários inimigos naturais, entre eles o mais importante é o fungo Metarhizium anisopliae que parasita as ninfas e os adultos. No entanto, a efetividade do fungo depende dos fatores ambientais, principalmente a temperatura e a umidade relativa do ar. Também tem sido observado larvas da mosca Salpingogaster nigra penetrando a massa espumosa para se alimentarem das ninfas. Recomenda-se as seguintes práticas para o controle das cigarrinhas-das-pastagens:

- manter, no mínimo, 30% das pastagens formadas com espécies resistentes à praga
- evitar a utilização de superpastejo, obedecendo a altura de pastejo recomendada para cada espécie
- reduzir a carga animal nas pastagens de gramíneas susceptíveis, durante o pico populacional das cigarrinhas (novembro a março), deslocando a maior parte do rebanho para as pastagens com gramíneas resistentes
- após abril, utilizar as pastagens com gramíneas susceptíveis, deixando as de gramíneas resistentes em descanso, visando acumular forragem para utilização durante o período de estiagem

Pastagens diversificadas e bem manejadas reduzem acentuadamente o risco representado pelas cigarrinhas-das-pastagens, bem como pelos demais insetos-praga, assegurando níveis adequados de produtividade, sem a necessidade de uso do fogo contra essas pragas.

Newton de Lucena Costa - Embrapa Amapá

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