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Pesquisa na Amazônia, realidade ou ficção?


Amado de Olveira Filho
Já é senso comum de que a Amazônia brasileira não é um tapete uniforme. Isto fica mais evidente quando incluímos as vastas florestas de transição encontradas em Mato Grosso. No entanto, não é isto que algumas Ong’s e o próprio Governo Federal, enxergam.
Ao estabelecer suas políticas públicas, especialmente no tocante a pesquisas científicas de interesse do resto do mundo, este pressuposto jamais poderia ser desconsiderado, mesmo porque, a chamada Amazônia brasileira representa mais de 60% do território Nacional. Recentemente, Philip Fearside, do Instituto de Pesquisa da Amazônia (Inpa), comentou estudo que aponta erro nas estimativas de biomassa na Floresta Amazônica. Novas equações mostram que emissões anuais de carbono podem ser cerca de 24 milhões de toneladas menores.
Este estudo é de grande importância porque calcular a biomassa presente em uma floresta é fundamental para estimar a quantidade de carbono que seria emitida em caso de queimadas e, consequentemente, para fazer avaliações ambientais e atribuir valor à floresta em pé. Mas nos estudos anteriores e que o mundo conhece, os resultados foram obtidos na extrapolação de dados obtidos exclusivamente na Amazônia central.
Ao considerarem apenas os dados das regiões de Manaus, Belém e de áreas de fitofisionomias florestais densas próximas do rio Amazonas, sem considerar as características de outros grupos florestais como a floresta menos densa, provocaram uma distorção superestimando as emissões de gases do efeito estufa de outras regiões, como a do arco do desmatamento ao superestimar a biomassa de suas florestas.
Discutir esta séria questão não se trata de apologia ao desmatamento ilegal, porém, das sérias conseqüências para toda a sociedade brasileira, da divulgação de pesquisa que carece de severa revisão, especialmente para a agropecuária, pois os dados de emissões anuais de carbono emitidos por desmatamentos estão acrescidos indevidamente de 24 milhões de toneladas/ano. Isto não é pouco, segundo o próprio Inpa, equivale ao triplo de todas as emissões da cidade de São Paulo. Como fica a imagem do Brasil mundo afora?
Outro aspecto não menos importante é a elaboração e execução de políticas públicas para o meio ambiente em toda a Amazônia brasileira. Se nossas florestas são diferentes é claro que precisamos de políticas diferenciadas. Certamente que um tratamento diferenciado não implica necessariamente em menos ação e sim em ações melhores dirigidas e mais efetivas. Em vez de concentrar esforços em uma região pode-se concentrar em outra, "que emita mais gases do efeito estufa", por exemplo.
Por outro lado, que resposta o Ministério do Meio Ambiente dará aos municípios do arco de desflorestamento quanto às penalidades a eles impostas em função de suas emissões, mesmo tendo o Inpa, desde 1997, resultados de pesquisas que mostram que a emissão de gases de efeito estufa proveniente da queima de biomassa florestal na Amazônia é bem inferior ao que se pensava? Desta forma é imperioso que o Governo Federal programe medidas que, além das diferenças florestais, contemplem as de cunho social, econômico e ecológico.
A boa notícia é que para entender melhor o assunto, recorri a alguns técnicos da Secretaria de Meio Ambiente de Mato Grosso e, pude constatar que dominam o tema e demonstraram preocupação em desmistificá-lo diante do Governo Federal, da Academia e de toda a sociedade. Entendem que as florestas menos densas, em eventuais queimas, emitem menos carbono não perdendo suas importâncias. Nesse sentido, Mato Grosso está sendo fortemente penalizado por pesquisas como esta que necessita de melhor aferição.
Fica claro, no entanto, que todos os Governos precisam somar esforços no sentido de se destinar mais recursos a pesquisa na Amazônia, única condição para avançarmos com pesquisas na mesma ordem da demanda por informações de qualidade que o mundo está exigindo do Brasil.
 
Amado de Oliveira Filho é economista, especialista em mercados de commodities agropecuárias e direito ambiental e escreve às Quartas Feiras em A Gazeta.

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