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Porque o setor primário é incompreendido


Eleri Hamer
Embora o agronegócio represente um setor vital para o desenvolvimento e a manutenção econômica do País tem sido subserviente aos interesses e políticas macroeconômicas, dos demais setores ou dos próprios ministérios do planejamento e da economia.
Tanto no campo político como no econômico existe grande dificuldade para que, especialmente o setor primário, alcance reconhecimento e obtenha agilidade nos seus pleitos.

Independente de que os objetivos sejam simples ou complexos, sempre há necessidade de gastar muita saliva, tempo e dinheiro (que já é escasso) para que surta efeito. No final, a impressão que se tem é que tudo poderia ter sido mais simples, mas ágil e mais barato.
Parte dessa dificuldade em obter rápida atenção e, por conseguinte, o status quo de setor importante e reconhecido se deve a própria relutância em ser mais polido no trato comercial, político e principalmente no gap de comunicação existente entre o campo e a cidade.

Como já escrevi noutra ocasião, somos um país rural, mas de população urbana. Isso dificulta a necessária relação entre as estruturas da sociedade empresarial e a composição de Estado que juntas formam a estrutura de poder, e por fim, governam a nação.
Por exemplo, a imagem que o setor primário ostenta no meio urbano não é de se vangloriar e encher a moral de ninguém. A destacar a ridícula separação entre agricultura familiar e agronegócio , que antes era conceitual e até útil, mas que há muito se deslocou para o governo e as políticas públicas.

O Brasil é um dos poucos países que se dá ao luxo de ter dois ministérios (Ministério da Agricultura e Ministério do Desenvolvimento Agrário) para cuidar daquilo que possui interesses complementares e dificuldades semelhantes.
Os líderes, que nem sempre o são na essência, mas que estão à frente nos debates e nos encaminhamentos também necessitam mudar a sua postura e compreender que o setor como um todo está perdendo importância relativa.

Não há interesse ou vantagem qualquer tratar as políticas separando agricultura comercial, agricultura familiar e inclusive os movimentos sociais em busca de terra para plantar.
Há objetivos e interesses discordantes? Claro que há, mas existe um número muito mais significativo de aspectos concordantes e que poderiam dar significado melhor e estrutura mais robusta se fossem tratados de modo sistêmico.

Noutro lado sempre temos experiências de luta e de reconhecimento por interesses daquele grupo e que poderiam ser socializados e utilizados em conjunto, obtendo resultados mais eficazes para o setor como um todo.
Parece que todos estão ciclicamente pedindo ajuda para o Estado. A cada crise e a cada novo governo a celeuma se repete. A quem interessa que a agricultura, assim como o agronegócio, seja entendida e atendida por partes que ao final não se locupletam?

Como anteriormente foi questionado, qual a imagem que os urbanos fazem da agricultura comercial, da agricultura familiar e dos movimentos sociais por terra? Não vamos esquecer que nossos principais stakeholders estão na cidade, não no campo.
Embora eu pudesse escrever páginas e páginas a favor de todos, justificando a importância de uns e de outros, boa parte da sociedade não os vê assim.

Os primeiros não raras vezes são tachados de arrogantes e maus pagadores, o segundo grupo de míseros, que necessitam de subsídios diretos para sobreviver e produzir e por fim o grupo dos que, sem nada para fazer, invadem propriedades dos outros e querem as coisas de graça.

O setor primário perdeu ao longo do tempo a capacidade de engajamento na sociedade, mesmo sendo um setor que contribui muito, é espantoso verificar a dificuldade de angariar a simpatia da população urbana. Imagine se ainda tivéssemos que justificar os amplos subsídios que os produtores europeus e americanos recebem.
Precisamos urgentemente recuperar a capacidade de se comunicar com a sociedade, formando uma imagem positiva conjunta, de desenvolvimento econômico, seriedade nos negócios, e principalmente de participação social colaborativa. Mas para isso devemos unir forças e definir estratégias conjuntas. Articular mais e vender melhor são as palavras da moda.

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