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Produção Animal em Pastagens de Brachiaria humidicola na Amazônia Ocidental


Newton de Lucena Costa

As elevadas taxas de crescimento de B. humidicola permitem altas taxas de lotação, contudo a produção animal individual, que reflete o valor nutritivo da forragem é frequentemente baixo. Isto indica um baixo fornecimento dos nutrientes necessários para a máxima produção de carne durante o ano. No entanto, a utilização de práticas de manejo adequadas, notadamente em termos de carga animal e sistema de pastejo, podem atenuar tais limitações, viabilizando a obtenção de ganhos de peso/animal e por área satisfatórios. Em Rondônia, utilizando-se novilhos anelorados, foram obtidos ganhos de 150 e 107 kg/an e, 270 e 342 kg/ha, respectivamente para cargas de 1,8 e 3,2 an/ha. Na Colombia, os ganhos foram de 0,516 kg/an/dia para pastagens de B. humidicola, sob pastejo contínuo e taxa de lotação de 2,45 an/ha. Utilizando-se bubalinos, em pastagens de B. humidicola, submetidas a pastejo rotativo (14 dias de ocupação x 28 dias de descanso), o ganho foi de 0,651 kg/an/dia. No Pará, também com bubalinos, obteve-se um ganho de 0,458 kg/an/dia, o qual foi semelhante ao verificado com os dos animais que receberam misturas minerais contendo uréia. Não foram verificados efeito da carga animal sobre o ganho de peso/animal para bubalinos (0,666; 0,681 e 0,598 kg/an/dia), contudo os ganhos/ha foram significativamente incrementados (160; 282 e 365 kg/ha/ano, respectivamente para 1,0; 2,0 e 3,0 an/ha). No Amazonas, com bovinos de corte,utilizando-se pastejo alterno, obteve-se um ganho médio diário de 0,564 kg/an/dia. No Pará, foram obtidos ganhos de 0,264 kg/an/dia para o pastejo contínuo e 0,247 kg/an/dia para o rotativo (14 dias de utilização x 42 dias de descanso). O pastejo rotativo comportou uma taxa de lotação mais elevada (2,3 cab/ha) que o contínuo (1,9 cab/ha), proporcionando maiores ganhos/ha.

Com relação à produção de leite, poucos trabalhos foram realizados no trópico úmido utilizando pastagens de B. humidicola como principal fonte de alimentação dos rebanhos. Em Manaus, com bubalinos Murrah x Mediterrâneo de dupla aptidão (carne e leite), a produção média anual foi de 3,2 kg/vaca/dia, enquanto que em Belém, registrou-se uma produção de 6,7 kg/vaca/dia com um teor de gordura de 7,2%. Em Rondônia,utilizando-se vacas Girolandas, em pastejo contínuo e carga de 1,0 UA/ha, as produções médias diárias foram de 4,10 e 3,74 kg de leite, respectivamente, para os períodos seco de 1983 e 1984. Considerando-se que os teores de PB da gramínea eram inferiores a 7,0% (5,2 a 6,4%), a atividade bacteriana pode ter sido inibida e, por conseguinte, a digestibilidade, o consumo e a velocidade de passagem da forragem foram reduzidas. Sob estas condições, além da deficiência proteica, ocorreu também a energética, em função da baixa produção de ácidos graxos voláteis (propiônico, butírico e acético), fontes primárias de energia para o animal. Uma baixa produção de leite (3,64 kg/dia) foi obtida para vacas Holando-Zebu pastejando B. humidicola. Estes valores são inferiores aos reportados para pastagens de B. decumbens (5,6 kg/vaca/dia), no entanto são comparáveis aos relatados para pastagens de Cynodon nlemfuensis (4,5 kg/vaca/dia) e P. purpureum cv. Mercker (3,3 kg/vaca/dia). A possibilidade de obtenção de alta produtividade animal em pastagens de B. humidicola torna-se limitada, já que esta gramínea, quando em cultivo puro sem a aplicação de nitrogênio, apresenta uma marcada deficiência de proteína, com reflexos negativos no consumo e digestibilidade da forragem.

Em pastagens consorciadas, o desempenho animal está diretamente correlacionado, dentro de certos limites, com a percentagem de leguminosas, a qual deve oscilar entre 20 e 40% para que ocorram efeitos significativos na produção de carne e/ou leite. As leguminosas tropicais apresentam, em média, 17% de PB e as gramíneas 9%. Além da superioridade das leguminosas quanto ao teor de proteína, este decresce lentamente com a maturação da planta. A inclusão de leguminosas nas pastagens de gramíneas tropicais pode ser de grande importância para a manutenção de níveis adequados de proteína na dieta animal, pela ingestão direta da leguminosa, ou pelo efeito indireto, uma vez que são capazes de fixar quantidades consideráveis de nitrogênio, que contribuem para aumentar a fertilidade do solo, melhorando a concentração de PB da gramínea consorciada e, consequentemente, da produtividade animal. Em pastagens de B. humidicola consorciada com P. phaseoloides, durante o período chuvoso, os ganhos foram de 0,498; 0,582 e 0,557 kg/an/dia, respectivamente para cargas de 2,0; 3,0 e 4,0 an/ha. Na consorciação com D. ovalifolium, obtiveram-se ganhos de 0,726 kg/an/dia, o qual não diferiu do observado com a gramínea pura (0,722 kg/an/dia) e foi superior ao da consorciação com D. heterophillum (0,590 kg/an/dia). Estes valores são superiores aos obtidos em Cochabamba, Bolívia, para pastagens de B. decumbens consorciadas com D. ovalifolium (0,182 kg/an/dia) ou com P. phaseoloides (0,122 kg/an/dia). Na Colombia, comparando-se o desempenho produtivo de bovinos de corte em pastagens consorciadas, foram obtidos ganhos de 0,482 e 0,418 kg/an/dia, respectivamente para B. humidicola consorciada com A. pintoi e D. ovalifolium, os quais foram superiores aos obtidos nas pastagens de B. dictyoneura pura (0,409 kg/an/dia) ou consorciada com C. acutifolium (0,423 kg/an/dia). No entanto, na consorciação com D. ovalifolium ganhos foram de apenas 0,150 kg/an/dia. Para bovinos pastejando B. humidicola consorciada com A. pintoi, os ganhos de peso foram de 0,438 kg/an/dia e 320 kg/ha/ano, os quais superaram em 113 e 100%, respectivamente, os verificados com a gramínea pura.

Dentre as práticas de manejo de pastagens, a carga animal é a mais importante, pois determina a taxa de rebrota e influencia na composição botânica e morfológica da pastagem e, por conseguinte, a qualidade da forragem disponível, o que afeta decisivamente o desempenho produtivo dos animais. Em pastagens de B. humidicola, pura ou consorciada com P. phaseoloides e D. ovalifolium, verificou-se que os ganhos de peso/ha foram diretamente proporcionais à carga animal (2,0; 3,0 e 4,0 an/ha), ocorrendo o inverso quanto ao ganho/an/dia. Apenas com a utilização de 3,0 an/ha observou-se melhor desempenho animal para as pastagens consorciadas, em relação à da gramínea pura. A disponibilidade total de forragem foi negativa e linearmente influenciada pela carga animal. Nas pastagens consorciadas verificou-se uma tendência significativa de maior proporção de D. ovalifolium e redução de P. phaseoloides com o incremento da carga animal. Em Rondônia, registrou-se um decréscimo de 29% nos ganhos/an/dia e um incremento de 38% nos ganhos/ha para pastagens de B. humidicola consorciada com leguminosas (C. pubescens, P. phaseoloides e S. guiananeis) quando a carga animal foi incrementada de 1,8 para 3,2 an/ha. Já, para a mistura B. humidicola com A. pintoi, o aumento da carga animal de 2,0 para 4,0 an/ha resultou num decréscimo de 70% nos ganhos/an/dia.

Newton de Lucena Costa – Embrapa Amapá

 

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