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Reduzir o período seco: é viável?


Danielle Maria Machado Ribeiro Azevêdo

 Parnaíba, PI, 06/12/2006 - Apesar da evolução da bovinocultura leiteira nas últimas décadas, a duração do período seco (PS) não sofreu alteração, continuando a ser recomendado 60 dias como ideal. Dentre os objetivos de realizar-se a secagem da vaca nos últimos dois meses de gestação pode-se destacar a regeneração dos tecidos epiteliais da glândula mamária, o acúmulo de colostro, assegurar o desenvolvimento do feto, e, promover o adequado acúmulo de reservas corporais pré-parto.

Entretanto, nos últimos anos, surgiu uma controvérsia quanto à duração ideal do PS. Alguns pesquisadores acreditam que sua redução traga vantagens, como o incremento na produção de leite na lactação em questão pelo aumento do número de dias em que a vaca é ordenhada, a simplificação do manejo de vacas secas e a diminuição de distúrbios metabólicos. 

Outros, no entanto, vêem com ressalva a redução do PS e sugerem que alguns fatores sejam considerados como se a produção de leite adicional excede a perda na lactação seguinte, a composição do leite, a qualidade do colostro produzido na próxima lactação, a incidência de doenças metabólicas e o desempenho reprodutivo do animal.

Agrupando-se os resultados de estudos realizados especificamente com o intuito de pesquisar os efeitos da redução do PS, percebe-se que, apesar de em alguns a adoção de um PS de 30 dias reduzir em até 25% a produção na lactação seguinte, ao computar-se a produção adicional na lactação estendida a perda líquida cai para apenas 5%, o que pode ser compensado pela redução dos custos com vacas secas.

Em relação à composição do leite, algumas pesquisas têm demonstrado aumento da proteína e da gordura com a redução do PS para 30 dias, o que pode ser explicado pelo maior impacto (redução) na produção de lactose que na destes constituintes. Considerando-se a qualidade do colostro, a concentração de IgG (imunoglobulina G) é reduzida apenas em vacas impedidas de ter PS, mas não quando este é de 28 dias.

Quanto aos aspectos reprodutivos, alteração do PS para 30 dias não afeta os parâmetros período de serviço, número de inseminações, taxa de prenhez e tempo entre o parto e a primeira ovulação.  O peso do bezerro ao nascer também não sofre influência com a redução do PS.

Diferenças no balanço energético estão associadas com enfermidades no pós-parto (síndrome do fígado gordo, cetose) e problemas reprodutivos (retenção de placenta). O encurtamento do PS reduz a magnitude do balanço energético negativo e, consequentemente a perda de condição corporal. Assim, vacas em balanço energético negativo por menos tempo são menos propensas a desordens metabólicas e retornam ao cio mais rápido após o parto.

Em relação à reconstituição da glândula mamária, a importância do PS está em permitir reparos de danos celulares e em aumentar a porcentagem de células epiteliais antes da próxima lactação, o que tem início apenas no 35º dia antes do parto. Algumas estratégias, como o uso do bST (somatotropina bovina) e o aumento no número de ordenhas para estimular a proliferação celular, podem, então, ser aplicadas durante os últimos 35 dias de gestação, a fim de aumentar a persistência da lactação e permitir a redução do PS.

A redução do PS deve ser adotada com restrição em alguns casos, como com novilhas de primeira lactação ou com vacas em estresse térmico e em rebanhos com registros reprodutivos pouco confiáveis e com alta incidência de partos gemelares. Nestes casos, o encurtamento voluntário do PS associada à redução involuntária intrínseca a cada uma destas situações pode encurtar excessivamente o PS e comprometer o desempenho na próxima lactação. A prática de reduzir o PS também deve considerar que atualmente os produtos veterinários utilizados para o tratamento intramamário são desenvolvidos para um PS de 60 dias, sendo necessário um ajuste por parte dos Laboratórios se esta prática for consolidada.

Todos os fatores citados devem ser considerados com parcimônia. É possível que em um rebanho a redução no PS seja altamente recomendável e em outro, não. Assim, um fato é certo: caso o encurtamento do PS para 30 dias seja recomendável em um rebanho, a não utilização desta prática pode levar o produtor a perder seus benefícios, como a simplificação do manejo das vacas secas e o conseqüente menor custo de manutenção das mesmas no rebanho.

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