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República dos bananas


Richard Jakubaszko
Rogério Arioli *
Ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira anunciou pomposamente a prorrogação da moratória da soja por mais um ano. Aplaudida pelas instituições patrocinadoras desta iniciativa, entre as quais a ABIOVE, ANEC, BB, Greenpeace, IPAN, WWF e outras mais, a Ministra usou como argumento o novo Código Florestal e as perspectivas de aumento na produção da oleaginosa, fundamentada nas suas altas cotações.

Para quem não acompanhou de perto esta novela chamada “Moratória da Soja”, cabem alguns esclarecimentos: A mesma foi instituída em 24 de Julho de 2006 para acalmar os clientes europeus que cismaram em dizer que era a cultura da soja quem estaria provocando o desmatamento do bioma amazônico. Em decorrência desta atitude, as principais compradoras da soja nacional recusaram-se a adquirir o grão produzido em áreas de abertura recente, mesmo que esta tenha sido feita de maneira legal. Após um amplo trabalho de mapeamento e identificação promovido pelo INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) a área encontrada com soja no Bioma Amazônico foi de apenas dezoito mil hectares. Significou dizer que menos de meio por cento do desmatamento se devia ao plantio da soja, dado este que não foi muito divulgado, pois provocaria uma desmesurável vergonha aos arautos do caos ambientalístico.

Embora algumas ONGs ligadas aos clientes europeus estejam imbuídas no sentido de denegrir a imagem da soja brasileira em boa parte do mundo, vinculando-a com o desmatamento amazônico, depois da farsa divulgada, não houve nenhuma ação no sentido de reparar tal engano, causador de prejuízos significativos a todo o complexo exportador. Ao assumir o discurso da moratória, o governo não apenas sucumbiu à fraude como também jogou na lata de lixo, um documento que, pelo menos por aqui deveria ter algum valor: A Constituição Brasileira. Como ficou a situação daqueles produtores brasileiros que, constitucionalmente, por se encontrarem no bioma amazônico, poderiam explorar os parcos 20% de área que a lei permitia? Pois a resposta é enigmática: ficaram impossibilitados de comercializar seu produto, mesmo tendo respeitado as leis vigentes do seu país. Parece que está instituída novamente a “República de bananas”, só que agora não se refere às frutas e sim às pessoas.

Aqueles que deveriam defender a autonomia brasileira sobre seu território vergam os joelhos e aplaudem o “defloramento constitucional” em nome do falso desflorestamento causado pela soja. A submissão prospera onde encontra a fragilidade de atitudes e convicções. Sempre foi assim desde tempos remotos, onde as riquezas brasileiras só tinham valor quando exploradas pelos outros.

Fala-se em desmatamento zero como se, a partir de agora, toda modificação da paisagem natural fosse criminosa. Mas apenas no Brasil, é lógico. E o resto do mundo produz em locais onde antes havia o quê? As lavouras devem ter brotado em locais assemelhados à paisagem lunar onde nada existia anteriormente, pois ninguém, absolutamente ninguém, desmatou nada a qualquer tempo. São todos inocentes. Os criminosos são apenas os brasileiros, e mais ainda aqueles que se localizaram no bioma amazônico. Basta que somente estes sejam crucificados, e todos estaremos absolvidos deste ímpeto criminoso e cruel de destruir o planeta, modificando sua idílica paisagem.

Entretanto é bom que se diga que a imensa maioria de produtores e técnicos atualmente é contra a substituição da paisagem natural, seja ela cerrado ou floresta, para a instalação de lavouras. Na verdade, o Brasil possui milhões de hectares de pastagens degradadas fornecedoras de áreas para a agricultura, sem que haja necessidade de derrubar uma árvore sequer. Mas trata-se do DIREITO de explorar as riquezas brasileiras que está sendo subtraído.

Quando se aceita a ingerência de estrangeiros deslumbrados nos assuntos de interesse nacional abre-se mão da soberania, algo que nenhum país está disposto a fazer, a não ser que seja uma republiquetinha qualquer.

Enquanto por aqui se festeja a renovação da moratória da soja, certamente em algum local requintado, alguém abre uma garrafa de champagne brindando às modernas formas de colonização que rendem, num só tempo, lucros e aplausos.
* O autor é Engº Agrº e Produtor Rural

COMENTÁRIOS DO BLOGUEIRO, ADICIONAIS AO ARTIGO DO ARIOLI
Richard Jakubaszko
1 - a Aprosoja foi um dos signatários desta moratória nos primeiros anos, não sei se ainda é signatária dessa empulhação feita pela indústria exportadora. Não gostei da "filosofia" discricionária, já desaprovei e denunciei essa bajulação aqui no blog e também na Agro DBO. Aposto que a diretoria não consultou nas bases.

2 - Quem desmata a Amazônia são os madeireiros (sob os aplausos dos fiscais do Ibama, todos em conluio, devidamente propinados), para atender Europa, EUA e Ásia, e não vejo ninguém reclamando da madeira que compram. São hipócritas os importadores, a mídia e ONGs. A mídia é omissa, vendida ou burra!

3 - Depois dos madeireiros, quem derruba as árvores menores são os carvoeiros, para fornecer carvão às multinacionais do alumínio e outras. Se forem pegos pela polícia são acusados de trabalho escravo (pois os filhos trabalham com os pais, pela ausência de escolas). O mico fica com os ruralistas.

4 - Ninguém queima árvore na Amazônia, árvore é dinheiro vivo se for derrubada. O que se queima é um matagal precoce (chamado de capoeira) ao redor dos tocos, para implantar pastagens (que é sequestradora de CO2, e que nunca foi causadora de "aquecimento"). Os fogaréus duram 5 minutos, por ser mato ralo, apesar de verde e fazer muita fumaça. As opções para eliminar o mato seriam:a - herbicidas, e daria margem para acusações de agropoluição.
Ou:b - usar enxada, e não há caboclo macho que faça isso, pois tem de entrar na capoeira, onde tem cobras, aranhas, escorpiões e mosquitos.

5 - Ignoram os acusadores, e a mídia, que, para plantar soja, o solo precisa ser destocado, pois a soja é sucesso (entre outras coisas) por ser 100% mecanizada. E com toco não dá para passar semeadeira-adubadeira de R$ 300 mil em cima. Ignoram os acusadores que, para destocar uma árvore de tamanho médio, com mais de 5 metros de altura, há um tempo de espera de pelo menos 5 a até 10 anos para o toco secar e apodrecer, isto se não houver rebrota, sem o que o toco não sai de lá nem com reza brava, e impede a mecanização.

6 - Toda essa comédia teatral, com empresários circunspectos assinando contratos de moratória, ministros dando entrevistas, e os palhaços somos nós.

7 - Vivemos tempos pré-ditatoriais dos ambientalistas. Se for obtida a concordância de governos dos países membros da ONU para a instalação da pretendida Agência Ambiental Internacional, com poderes de multar e submeter países às suas vontades, como se pretende, aos moldes da Agência Internacional Nuclear, todo mundo pode se preparar para uma ditadura ambiental. Muito pior do que essa que já está aí, que é só politicamente correta.


8 - Parece que ninguém ouviu a confissão de James Lovelock, pai da “hipótese Gaia”, que se retratou de seu alarmismo em abril último. Leia aqui este post, publicado no blog em abril de 2012.

9 - Não são novas as ações e dificuldades impostas pelos EUA e Europa para frear o desenvolvimento brasileiro na produção de alimentos, onde eles não desejavam perder espaço, mas perderam, e vão perder mais ainda.

10 - Nos anos 1980 e até meados dos anos 1990 os países desenvolvidos ditaram normas ao Brasil para que a gente colocasse um fim aos subsídios agrícolas, que existia na forma de crédito mais barato para o custeio do plantio. Eles projetaram nosso crescimento e verificaram que perderiam a liderança ainda no final do século XX, o que os obrigaria a aumentar as bilionárias despesas com os subsídios gigantescos que sempre tiveram. A forma e pressão que usaram, para que cumpríssemos essa determinação, eram as cláusulas dos empréstimos concedidos via FMI, pois vivíamos endividados e com o chapéu na mão. O Brasil acabou com os subsídios agrícolas no início dos anos 1990. Com essa estratégia os países desenvolvidos seguravam o crescimento brasileiro e ainda recebiam os juros.

Já no final dos anos 1990 e início dos anos 2000, depois de perceberem que continuávamos competitivos, e que ainda crescíamos, apesar da dependência externa dos fertilizantes e de outras tecnologias, apesar da falta de poupança interna, apesar da falta de infraestrutura e de logística, iniciaram o movimento ambientalista, via ONGs e imprensa, para impedir o avanço da produção de alimentos (carnes e grãos), pois o Brasil iria superar, como superou, todos os obstáculos, até mesmo a nossa internacionalmente conhecida incompetência.

Assim, a partir de 2005 o Brasil assumiu a liderança nas exportações de carne bovina, e não deixou mais esse posto. Eles perceberam ainda que, a partir do final dos anos 2010, seremos os líderes das exportações em soja, apesar das novas limitações ambientais impostas para o plantio, seja em áreas de cerrado, seja em áreas que já estavam estabelecidas.

Que não se permita o avanço dessa atrocidade do novo Código Florestal, como querem os ambientalistas e os ruralistas americanos e europeus, e que se poderia chamar de "confisco de terras produtivas", através de APPs e áreas de reserva, evento sem paralelo na história humana, a não ser em termos político-econômico-ideológico na revolução bolchevique, que confiscou as terras não cobertas por gelo na Rússia de 1917.
Tudo isso o setor rural brasileiro já sabia, não há nenhuma novidade, no front, aliás, se há novidade, é que apenas agora os países desenvolvidos, mais a FAO e OCDE, reconhecem publicamente isso.

Será que eles ainda acreditam que poderão limitar nosso futuro crescimento via questões e pendengas ambientais, em nome da insuspeita sustentabilidade?

A conferir no futuro breve, pois do FMI somos credores nesses novos tempos, não há mais como usar essa arma contra os brasileiros.

10 - O que a gente realmente tem de tomar cuidado é com o fogo amigo dos brasileiros, governo, imprensa e indústrias exportadoras, travestidos de ambientalistas.

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