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Sucessões em empresas rurais familiares “Conflito de Gerações”


Safras & Cifras
*Ciloter Borges Iribarrem
*Sandro Al-Alam Elias

Manutenção da escala de produção, crescimento da empresa, resultados positivos dos negócios, harmonia familiar, proteção patrimonial para pais e filhos é o objetivo da maioria dos empresários rurais de sucesso quando se fala em Sucessão. Mas isto não acontece automaticamente, é necessário planejar e administrar a relação Família x Negócio x Propriedade dentro de um contexto empresarial e não de uma simples relação de pais e filhos com um imóvel rural.

É bastante comum nas empresas rurais brasileiras, a figura do patrão paternalista, que é o líder da empresa familiar, tem experiência, informação e por este conjunto de atributos toma todas as decisões da empresa sozinho. Esta característica foi muito importante para a criação e o crescimento do negócio.

Um grande problema que este tipo de empresa enfrenta, é que, por depender demasiadamente de uma única pessoa, isto faz aumentar o risco desta empresa ao longo do tempo. Este risco pode se materializar em diversas situações como:

- Atritos entre os membros da família forçando a divisão do negócio;

- Sentimento de incompetência e impotência nos filhos que acabam por não ficarem na empresa;

- Despreparo dos sucessores para gerir o negócio quando necessitam assumir sem o comando;

- Perda de competitividade pelo não acompanhamento das mudanças no ambiente e no negócio;

- Incapacidade física do líder.

Portanto, a cultura de gestão concentrada numa única pessoa só é viável para empresas pequenas e que tenham pouco dinamismo junto ao mercado.

À medida que a empresa cresce, que é o caso das empresas rurais brasileiras de sucesso, e a família fica mais madura, a forma de Gestão da Empresa Rural Familiar tem que evoluir para um novo padrão cultural.

A mudança do padrão cultural da empresa rural familiar depende do seu líder, pai-patrão, entender que a sua geração é diferente da anterior e que a próxima será diferente desta e portanto novos processos serão necessários para fomentar novos comportamentos que permitam fazer a família e o negócio prosperarem conjuntamente.

Este novo padrão cultural implica em entender que a forma de gerenciar uma empresa pertencente a uma única pessoa é totalmente diferente da forma de gerenciar uma empresa que possui mais sócios, como será o caso da geração seguinte.

O momento da mudança é outro ponto importante, pois o segredo da Organização do Negócio Familiar e da Sucessão não é a idade biológica dos pais, mas sim o crescimento da idade dos filhos e a participação destes no negócio.

É preciso levar em conta que é cada vez maior a expectativa de vida das pessoas, mas isso não pode atrapalhar o momento da Sucessão, que é um dos pilares da longevidade das empresas familiares.

O pai tem saúde de ferro, o que é ótimo, todos estão de acordo que ele poderia continuar a frente dos negócios fazendo um ótimo trabalho. Por outro lado, o que ocorre é que os filhos já estão prontos, já passaram da hora, se frustraram e podem acabar abrindo mão de trabalharem na empresa para não se estressarem como o pai.

A grande pergunta que fica: e o dia que o pai não tiver mais condições de gerenciar a empresa, quem gerenciará a mesma? Todo o trabalho realizado que tornaram sonhos em realidade não terá seguidores da família? Quem serão os novos donos desta empresa?

Os pais, cada vez mais, estão percebendo que não precisam se afastar da empresa quando os filhos passam a trabalhar nela, mas que passam a desempenhar um outro papel extremamente importante, que é o de preparar o negócio e a família para que o fruto do trabalho de uma vida inteira tenha continuidade na próxima geração.

O crescimento de renda das empresas rurais dentro do agronegócio brasileiro tem atraído parte dos filhos para trabalharem nos negócios dos pais e isto trás como conseqüência uma nova relação Família x Negócio.

Antes, os pais eram somente pais, agora são pais, patrões e parceiros, assim como os filhos eram somente filhos, agora são também, empregados e ou parceiros.

Os filhos cresceram de idade rapidamente, passaram a ter uma nova família, novos objetivos e os pais continuam achando que os mesmos ainda são muito jovens, e continuam querendo administrá-los como se fossem crianças. Assim, os pais cultivam a ideia de que o poder continuará apenas de um lado e, ao mesmo tempo, querem os filhos trabalhando na empresa.

Daí então a importância de estabelecer claramente as funções de cada um na empresa e dos pais aceitarem que os filhos atuem ativamente no negócio e compartilhem com eles as deliberações e decisões importantes, sendo o momento ideal de os pais assumirem, como já mencionado, uma nova função, que é de conduzir a família para a transmissão do negócio.

E os filhos que não trabalham na empresa, como enxergam a relação dos pais com os irmãos que conduzem o negócio da empresa? E como estão sendo preparados para serem sócios de um negócio no futuro?

Podemos ver que a relação deixa de ser só familiar e passa a ser econômica. Além disso, devemos considerar ainda a participação de terceiros que se integraram ao núcleo familiar (genros e noras).

A forma de entender a constituição de uma empresa rural familiar é enxergar a mesma como um sistema constituído de três pilares: família, propriedade e negócio.

Baseado neste sistema, os pais começam a implantar nas suas empresas rurais práticas de governança corporativa que ajudarão a dar mais estabilidade às relações Negócio x Família.

Para atingir esta estabilidade, muitas vezes se faz necessário o uso de alguns instrumentos, com a finalidade de colocar no papel algumas regras, conforme relacionamos a seguir:

* Política de distribuição de resultados entre os membros da família, diferenciando os valores entre os que trabalham na empresa e os que estão fora dela.

* Estabelecimento de reuniões do conselho familiar, para apresentarem os dados do negócio e os planos de crescimento da mesma.

* Implantação de um Protocolo Familiar onde ficam estabelecidos procedimentos para a sociedade, com o objetivo de conseguir uma boa convivência familiar, assim como o fortalecimento do negócio.

* Acordo de sócios, com relação à compra e venda de participação.

* Estruturação tributária do negócio, com o objetivo de diminuir o custo dos impostos.

* Estruturação do processo sucessório, onde fica estabelecida a forma de transmissão, a proteção dos pais e dos filhos, e os direitos e deveres entre os membros da família com relação ao patrimônio.

Os instrumentos que acabamos de ver são alguns exemplos a serem adotados na condução das empresas rurais familiares, independente de os pais ainda serem jovens.

O melhor momento de implantar um processo de Organização do Negócio Familiar e Planejamento da Sucessão é quando a relação entre a família é boa e os pais ainda estão presentes para conduzir o processo, corrigir rumos e transmitir a sua experiência e valores nos negócios para os futuros donos da empresa.

Por outro lado, o processo sucessório só é tardio quando acontece após a morte dos pais, porque neste momento, além da forte emoção de perda dos pais, não existe mais a figura dos mesmos para liderarem o grupo familiar.

Se nunca tiverem sido trabalhadas anteriormente as diferenças de pensamentos quanto aos objetivos dos filhos, assim como os ressentimentos existentes entre os mesmos, estes afloram no momento da sucessão com uma intensidade tão alta, que muitas vezes faz estremecer o relacionamento familiar e a continuidade do próprio negócio.

Para que isto não aconteça, é que nós da SAFRAS & CIFRAS, temos atuado ao longo dos anos, junto às famílias de empresários rurais brasileiros, através de um Novo Modelo de Gestão, que prioriza a Organização dos Negócios Familiares e o Planejamento da Sucessão.

Custos, Orçamentos, Impostos, Parcerias de Pais e Filhos, Doações, Heranças, Poderes de Administração, Proteção de Pais e Filhos com relação ao patrimônio, são temas tratados conjuntamente, porque a falta de um prejudica os demais instrumentos de trabalho, que resulta numa má Gestão da Empresa Rural.

Não podemos falar em Gestão de uma Empresa Rural, quando tratamos só de Custos, porque se assim fosse, estaríamos esquecendo-se da família, que é o eixo de toda a condução do Patrimônio e do Negócio.

Neste sentido, tem se usado muito nas empresas rurais a Constituição de Pessoas Jurídicas e o estabelecimento de Parceria entre as Pessoas Físicas, com vários objetivos, que visam basicamente formalizar as regras da relação Negócio x Família x Propriedade, que são específicas para cada situação e fase em que o negócio se encontra.

As ferramentas que acabamos de ver têm sido implantadas por nós da SAFRAS & CIFRAS, em várias empresas rurais brasileiras, cujos resultados tem sido a harmonia das famílias que fazem parte da empresa e o planejamento de como a relação Família x Negócio deve ocorrer, além dos resultados imediatos, que são, a diminuição dos atritos, maior tranqüilidade dos pais, melhor convivência entre os irmãos e redução do custo dos impostos nos negócios e no patrimônio.

Todos nós que trabalhamos no meio rural, sabemos que a implantação de um processo de sucessão neste meio é bem mais difícil que em outros setores da economia, onde o fator terra não está envolvido.

Na mesma propriedade rural, temos solos diferentes e uma infraestrutura (silos, galpões, pivôs, barragens, rios, estradas, residências, etc.) distribuída de forma desuniforme dentro da propriedade, por isso, temos que levar em conta estes fatores no planejamento de um processo de sucessão.

Nesse sentido, e nos demais que já falamos ao longo deste artigo, é que temos nos dedicado como empresa e como técnicos em buscar todos os meios que nos permitam implantar a Organização dos Negócios das Empresas Rurais Familiares, assim como o Planejamento da Sucessão, visando dar continuidade no belo trabalho realizado pelos pais, perpetuando o patrimônio construído e a harmonia familiar através dos filhos e netos, consolidando a boa historia através das futuras gerações.

O Amor e o Dinheiro, embora antagônicos, poderão ser administrados, basta para isto que os empresários rurais do nosso país consigam entender que não são perpétuos, que as gerações são diferentes, que os filhos são diferentes, mas que a continuidade da empresa com sucesso e a harmonia da família depende só deles em dar a partida para estabelecer a nova relação Família x Negocio x Propriedade, e não mais a cultura individual de que tudo será resolvido pela forma de gestão do pai patrão.

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