CI

Plantio da safra 2025/26 em andamento no Brasil

 No mercado interno, preços seguirão pressionados



Plantio da safra 2025/26 em andamento no Brasil, com retração na área plantada. A redução é reflexo de custos elevados, baixa rentabilidade e incertezas de mercado.

• Produtividade recorde esperada no Brasil, compensando a redução de área. O clima tem favorecido o desenvolvimento inicial, mas ainda é cedo para confirmações, devido ao risco nas fases críticas da cultura.

 No mercado interno, preços seguirão pressionados pela paridade de importação, com destaque para a competitividade do trigo argentino.

• Na Argentina, aumento da produção estimada para 2025/26, com prorrogação da redução dos impostos de exportação até março de 2026. O avanço do plantio foi favorecido por boas condições climáticas, aumentando a concorrência no mercado brasileiro.

• Cenário externo com ampla oferta global e preços internacionais enfraquecidos. A volatilidade cambial e o ambiente geopolítico seguirão como fatores-chave para a formação dos preços no Brasil.

A produção mundial de trigo está estimada em 809 MM t, um novo recorde histórico, segundo o USDA. O consumo global também alcança recorde, estimado em 808 MM t, aumento de 1,7 MM t em relação a 2024/25. A relação estoque/consumo global está em queda pelo sexto ano consecutivo, com estoques finais estimados em 262,8 MM t, o menor nível em 10 anos. Apesar da redução nos estoques finais, especialmente pela Rússia, principal exportador, o volume de exportações globais está projetado em 215,3 MM t.

Diante do cenário de ampla disponibilidade global, a concorrência entre exportadores está intensa, pressionando as cotações em Chicago (CBOT). A volatilidade cambial será determinante para a formação de preços locais. O ambiente geopolítico incerto também é um fator de atenção para esta safra, podendo elevar a volatilidade dos preços. O trigo também acompanha o comportamento do mercado do milho, já que ambos são substitutos em ração animal. Com a queda nos preços do milho, via de regra, o trigo também tende a acompanhar o comportamento baixista.

A produção brasileira de trigo para a safra 2025/26 está estimada em 8,19 MM t, um aumento de 3,8% em relação à safra anterior, segundo a Conab. A área plantada foi reduzida para 2,67 milhões de hectares (-12,6%), com queda em todos estados produtores. Por outro lado, a produtividade média esperada é recorde, com 3.066 kg/ha (+18,9%).

O início do plantio foi favorecido por boa umidade no solo, especialmente no Paraná e São Paulo, onde o frio e as chuvas beneficiaram a implantação da cultura. Mesmo com as geadas no Paraná, o período não é crítico para a cultura, podendo inclusive favorecer o seu desenvolvimento. No Rio Grande do Sul, o plantio foi dificultado pelo elevado volume de chuvas em junho, o que atrasou a semeadura em algumas localidades do estado. Em Santa Catarina, as chuvas também podem atrasar o avanço do plantio, o que pode gerar maiores riscos climáticos na fase reprodutiva da planta. A previsão climática para 2025 indica neutralidade, com baixa possibilidade de transição para La Niña no final do ano.

A principal preocupação é com possibilidade de geadas tardias nas fases de espigamento e floração. A redução da área plantada é reflexo dos custos altos e das incertezas de mercado, com baixa rentabilidade (negativa no caso do Paraná) e impactos no calendário da soja. O Paraná deve ter redução expressiva de 25% na área destinada ao cereal, segundo o Deral. No Rio Grande do Sul, as áreas também devem ser 4% menores em relação a 2024/25, segundo a Conab, com o risco desta queda ser ainda maior, devido ao atraso do plantio com as chuvas

O mercado doméstico enfrenta pressão nas cotações devido aos preços internacionais enfraquecidos. Durante a entressafra até a colheita da nova safra 2025/26, o Brasil terá seus preços direcionados à paridade de importação, considerando o trigo da Argentina, pela sua competividade internacional, sendo nosso principal fornecedor. A colheita coincide com a chegada de milho e soja aos armazéns, o que pode gerar pressão logística e forçar vendas no período, pressionando as cotações.

ssim, o câmbio será o principal norteador dos preços internos, podendo favorecer as importações em momentos de dólar desvalorizado e prejudicaria as exportações, após a colheita nacional. Na Argentina, a safra de trigo 2025/26 na Argentina apresenta área projetada de 6,7 MM ha e produção em 20 MM t, uma alta de 8% em relação à safra anterior. Apesar de atrasos devido ao excesso de umidade, o plantio avançou bem, sustentado por boas condições climáticas. O governo argentino anunciou a prorrogação da redução temporária das retenciones (impostos de exportação) para trigo até 31 de março de 2026. A medida, que expiraria em 30 de junho de 2025, mantém os direitos de exportação reduzidos de 12% para 9,5%, conforme anunciado pelo Ministério da Economia. Com maior
oferta de trigo na Argentina, preços internacionais pressionados e a redução dos impostos prorrogada, a concorrência será mais intensa para o mercado doméstico brasileiro.

Na Rússia, a produção de trigo para a safra 2025/26 está estimada em 83 MM t, uma leve recuperação de 2% em relação à temporada anterior (81,6 MM t), mas ainda abaixo da média de 5 anos, segundo o USDA. Apesar de uma queda estimada na área, de 2% frente à safra passada e 4% inferior à média de 5 anos, a produtividade é 4% superior a 2024/25. Para a safra de inverno, a produção enfrentou alguns desafios com clima seco e quente durante o plantio, uma redução da camada de neve para dormência do trigo e as flutuações de temperatura no inverno e primavera. A principal preocupação atual é com a possibilidade de seca durante o período de florescimento e enchimento de grãos, que será essencial para a consolidação da produção russa.

O USDA estima que os envios russos na temporada 2025/26 devem ficar 1,5 MM t superiores a 2024/25, totalizando 45 MM t. A consultoria russa SovEcon é mais conservadora nas perspectivas, com 40,7 MM t, mas, no geral, espera-se que a Rússia mantenha os níveis consistentes com a média histórica, refletindo as boas perspectivas de produção, mas com um início mais lento que o normal. O país ainda enfrenta alguns desafios logísticos diante de uma janela limitada, além disso, é necessário aguardar uma consolidação da qualidade do trigo, que pode ter sido afetada pelas geadas e secas e limitar a aceitação em mercados exigentes.

A produção de trigo nos Estados Unidos está estimada em 52,3 MM t, uma queda de 3% em relação à safra anterior, segundo o USDA. Os estoques finais estão projetados em 24,4 MM t, 7% acima do ano anterior. Com isso, o preço médio ao produtor é estimado em US$ 5,40/bushel, levemente abaixo da safra anterior. Até o momento, tudo indica uma boa produção nos EUA. Com maior oferta e um dólar mais fraco, os preços do trigo dos EUA estão competitivos em relação a outros grandes exportadores.

Com isso, as exportações devem atingir 22,4 MM t, o maior nível desde 2020/21. No entanto, o crescimento das exportações pode ser limitado pela grande oferta de concorrentes como Rússia e União Europeia. Na União Europeia a perspectiva é de aumento da produção, para 137 MM t, um aumento de quase 14 MM t em relação a 2024/25. Na China, há uma preocupação com o clima quente e seco, que pode impactar nos rendimentos das lavouras, mas ainda assim a produção esperada é maior frente à temporada anterior, de 142 MM t, um aumento de 2 MM t. Mesmo com maior produção, a estimativa é de aumento nas importações de trigo pela China, somando 6 MM t.

O produtor brasileiro deverá enfrentar novamente um cenário de margens apertadas na safra 2025/26, em um contexto externo que mantém uma pressão baixista sobre os preços domésticos. Até o momento, não há sinais claros que indiquem espaço para altas expressivas, dada a conjuntura internacional. Apesar da oferta interna ser limitada no período de entressafra, a ampla disponibilidade de produto no mercado internacional, aliada a preços competitivos e à desvalorização do dólar, contribui para manter o custo de importação baixo. Esse cenário tende a sustentar a pressão sobre os preços pagos aos produtores, dificultando a retomada de investimentos mais robustos na cultura.

Diante desse ambiente, a adoção de estratégias sólidas de gestão de risco, como a fixação antecipada de preços, hedge cambial e comercialização escalonada, se mostra cada vez mais necessária para preservar a rentabilidade. Além disso, a atenção constante às variações do câmbio e à paridade de importação será um diferencial para que os produtores possam tomar decisões comerciais mais assertivas e se preparar para possíveis mudanças no mercado.

Em resumo, embora o cenário imediato seja desafiador, a adoção de práticas de gestão e monitoramento cuidadoso pode abrir espaço para que os produtores naveguem com maior segurança e estejam prontos para aproveitar oportunidades conforme o mercado evolua.

A indústria moageira brasileira inicia a safra 2025/26 respaldada por um cenário de maior oferta global, pressão sobre os preços internacionais e intensa concorrência entre as principais origens exportadoras.

Esse contexto deve abrir janelas estratégicas para aquisições vantajosas, mas também requer atenção especial à qualidade do trigo e à volatilidade cambial, que podem influenciar diretamente o custo e o resultado final. A qualidade do trigo russo apresenta certa variabilidade, o que demanda cautela na escolha dos lotes, enquanto o trigo argentino, tradicionalmente, mantém boa qualidade e regularidade, fator relevante para o planejamento das compras.

Ao longo do período da colheita, os preços tendem a recuar, especialmente se as condições climáticas continuarem favoráveis ao cultivo, criando oportunidades para moinhos com maior capacidade de armazenagem realizarem compras mais estratégicas no mercado interno. Já para as aquisições externas, o câmbio seguirá sendo um fator-chave para a competitividade do trigo importado, sobretudo para os volumes oriundos da Argentina e da Rússia.

Assim, a combinação de monitoramento do mercado, gestão da qualidade e avaliação constante do cenário cambial será determinante para que os moinhos possam aproveitar essas janelas de oportunidade, reduzindo riscos e fortalecendo sua posição competitiva ao longo da safra.

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.