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Ureia - vantagens, características e manejo deste adubo

Leia sobre o manejo e principais características deste produto.



Ureia

Devido a sua alta concentração de nitrogênio (45%), boa relação de custo-benefício e rápida absorção pelas plantas, é o fertilizante nitrogenado mais utilizado, sendo normalmente aplicado em gramíneas, pastagens, milho, trigo etc. Deve-se observar o clima no momento da aplicação para evitar perdas por volatilização, que podem resultar em grande prejuízo. Você pode ler sobre o processo de volatilização e outras perdas de fertilizantes nitrogenados clicando aqui. Outro cuidado é com a aplicação em linha de semeadura, altas doses de ureia aplicadas na linha podem causar danos às sementes.

A ureia possui grânulos relativamente grandes, duros e pouco afetados pela umidade do ar. É um produto adequado para ser utilizado em misturas, porém, é importante observar que a quantidade de ureia misturada com adubos fosfatados não deve passar de 15% devido à algumas reações indesejadas que ocorrem acima desta concentração.

Na reação no solo, quando aplicamos ureia, ocorre liberação de nitrato, dois hidrogênios e água. Porém, durante essa transformação no solo, ocorrem uma série de reações intermediárias que podem resultar em perdas de nitrogênio, principalmente na forma de amônia. 

As maiores perdas de nitrogênio ocorrem principalmente com o uso da ureia. Estudos apontam que podem ocorrer perdas de até 80% do nitrogênio aplicado, dependendo das condições. Em situações com aplicação superficial de ureia, temos um valor médio de 20% de perdas. Quando há presença de palha na superfície do solo, a ureia se adere, ficando suscetível à volatilização. A incorporação ou chuva / irrigação em 2 ou 3 dias após a aplicação diminuem as perdas. Você pode ler mais detalhes abaixo.

Em comparação ao sulfato de amônio, a ureia é mais barata por cada ponto de nitrogênio, mas possui maior volatilização do nutriente, não contém enxofre e possui maiores problemas de armazenamento e de mistura.

 

Manejo para evitar perdas de ureia

A hidrólise da ureia é rápida em solos úmidos e quentes, e é catalisada pela enzima urease, abundante em todos os solos. Na maioria das vezes, é transformada em NH4+ (forma absorvível pelas plantas) em alguns dias. Em sistemas de plantio direto, a enzima urease é mais numerosa quando comparada ao sistema convencional, pois a atividade da urease é proporcional ao tamanho da biomassa microbiana e ao conteúdo e tipo de matéria orgânica. O efeito da umidade do solo na atividade da urease é pequeno se comparado à temperatura e ao pH. Quanto maior a temperatura e pH, maior a atividade da urease, resultando em maior quantidade de amônia presente que pode ser perdida por volatilização.

Em geral, temos como fatores que favorecem as perdas de amônia, a presença de resíduos de culturas na superfície, a falta de chuva / irrigação após aplicação, alto pH do solo, altas temperaturas, baixo teor de argila e de MO (baixa CTC) e umidade seguida por tempo seco (a maior perda ocorre quando se aplica este fertilizante depois da chuva, e o solo está secando sob calor, vento e baixa umidade do ar). Outro fator importante, é que ao se aplicar após uma chuva / irrigação, quando as folhas ainda estão molhadas, a ureia pode provocar queimaduras irreversíveis na planta.

Em contrapartida, quando possível, podemos seguir estas orientações para evitar as perdas de ureia:

  • Aplicar quando o solo está frio, o que é um pouco difícil;
  • Incorporar logo que for possível, exceto para sistemas de manejo reduzido como o plantio direto. A profundidade ideal de incorporação da ureia é de 5 a 7 centímetros.
  • Substituir por outro fertilizante nitrogenado, caso o preço seja atrativo;
  • Aplicar antes da chuva e/ou irrigação. A irrigação deve ser de 10 a 20 mm para solos sem cobertura vegetal;
  • Utilizar inibidores de urease;
  • Parcelar o fertilizante, principalmente em casos de altas dosagens, reduzindo as perdas por volatilização / lixiviação;

 

Situações que podem causar altas taxas de volatilização da ureia são:

  • Altas temperaturas
  • Altas doses
  • pH acima de 7,0
  • Aplicação em solos compactados
  • Aplicação em solos com acúmulo de água

 

Ureia de liberação controlada e inibidores

No mercado existem alguns produtos que diminuem muito as perdas de ureia no solo, como por exemplo inibidores de urease, porém, deve-se prestar atenção ao custo benefício. Se o produto custar 25% a mais, apresentando 20% a menos de perda, pode não haver nenhuma vantagem no final das contas, podendo até haver prejuízo. Se os valores gastos forem semelhantes, podemos optar, quando possível, pelo produto com menor perda para o ambiente, visando uma maior preservação ambiental.

Solos com alto teor de matéria orgânica perdem menos amônia, pois devido a maior CTC, ocorre maior retenção do nutriente em suas cargas. Além disso, solos com maior teor de matéria orgânica são mais tamponados, com maiores quantidades de hidrogênio, ocorre maior estabilização da amônia na forma de amônio.

Ureia de liberação controlada - possui grânulos revestidos que protegem a ureia, com o objetivo de aumentar a eficiência através de um fornecimento gradual de nitrogênio, reduzindo a perda por volatilização. Sua liberação ocorre em um evento chuvoso favorável para a incorporação do N no solo. Também possui o objetivo de reduzir a emissão de N2O devido à liberação gradual do nitrogênio no tempo. O revestimento é feito por materiais como enxofre ou formaldeído.

Ureia com inibidores de reação química - possuem o objetivo de inibir a nitrificação, através da redução da ação de bactérias nitrificadoras (que transformam o N-amoniacal em N-nítrico). O N-amoniacal é assimilável pelas plantas com menor custo metabólico para a planta, e é menos suscetível à lixiviação do que o nitrato. A ureia com inibidores da urease tem o processo de hidrólise retardado por 7 a 14 dias, ficando mais tempo no solo sem iniciar o processo de volatilização, possibilitando um maior intervalo de tempo hábil para ocorrência de chuva para incorporação desta ureia. Esta tecnologia é vantajosa para situações de alto potencial de perdas do nitrogênio por volatilização como em casos de aplicação superficial na presença de resíduos vegetais e solo úmido. 

Ureia com NBPT - O NBPT é um inibidor de reação química, que inibe a urease, e se apresenta como uma das mais promissoras tecnologias para a maximização do uso do nitrogênio da ureia no solo. Este produto atua atrasando o pico de volatilização (proporcionando maior tempo de incorporação através de chuva ou irrigação), ao mesmo tempo que também diminui a porcentagem de volatilização, reduzindo a perda de N por volatilização em 60% em média. Estudos apontam que a porcentagem de NBPT que apresenta os melhores resultados se situa entre 0,05% a 0,1% (500 a 1000 mg de NBPT para cada kg de ureia). Geralmente este produto tem um tempo total de armazenamento de até 3 meses em temperaturas de 25ºC (em temperaturas maiores, o tempo de armazenamento é menor). Se o tempo de armazenamento for maior, é indicado o aumento da dose de NBPT. 

Quando não é interessante usar a ureia protegida?

  • Locais frios onde a volatilização é baixa
  • Situações onde é possível aplicar a ureia antes da chuva / irrigação

 

Adubação com ureia nas culturas

Destacamos que as informações abaixo são generalizadas, principalmente quanto à dosagem. Cada propriedade possui suas particularidades, sendo necessário sempre um olhar técnico sobre o processo produtivo e situação do solo para se elaborar uma recomendação. 

 

Ureia no feijão

Apesar do feijão fazer fixação biológica de nitrogênio, esta não é eficiente como na soja, e desta forma não dispensa a adubação com nitrogênio.

O feijão absorve nitrogênio durante todo o seu ciclo, porém entre o 35º e 50º dia após a emergência ocorrem as maiores exigências do nutriente. Assim, normalmente a adubação é feita com 1/3 na semeadura, e 2/3 em cobertura entre 25 a 30 dias após a emergência.

As possibilidades de perda de nitrogênio aplicado em cobertura são grandes, principalmente em solo arenoso e com baixa CTC. No sistema convencional de semeadura com revolvimento da superfície do solo, parte do nitrogênio é aplicado no sulco, junto com o potássio e fósforo na semeadura, e parte em cobertura, cerca de 25 dias após a emergência. No sistema de plantio direto, a recomendação é aplicar em cobertura mais de uma vez, geralmente aos 15 e 30 dias após a emergência.

A dosagem varia conforme o sistema de cultivo. Por exemplo, para o sistema de plantio direto, a dose geralmente é de cerca de 120 kg/ha de nitrogênio. Já no sistema convencional, a dose pode variar de 90 a 100 kg/ha de nitrogênio, a depender do regime pluviométrico, textura do solo e teor de matéria orgânica. Para ambos os sistemas, é recomendado a aplicação parcelada em solos arenosos. Vale ressaltar que estes valores são informações generalizadas, não representando uma recomendação de adubação.

Em lavouras de feijão monitoradas com clorofilômetro portátil, a aplicação do nitrogênio é realizada quando o índice de leitura do aparelho for menor do que 3 unidades.

 

Ureia na soja

Devido à alta eficiência da fixação biológica de nitrogênio na soja, é dispensado o uso de fertilizantes nitrogenados. O uso destes fertilizantes pode até afetar o processo de simbiose da soja com bactérias que realizam a fixação biológica, sendo assim prejudicial.

As bactérias que realizam a inoculação começam a operar cerca de 10 dias após a semeadura, e os fertilizantes produzidos pelas indústrias possuem pequenas quantidades de N, que já ajudam no arranque inicial das culturas e não inibem a ação das bactérias fixadoras. Desta forma, é dispensada a aplicação de adubo nitrogenado para o "arranque inicial".

 

Ureia no trigo

A EMBRAPA TRIGO testou a campo a eficiência econômica de algumas cultivares no Rio Grande do Sul, sendo os melhores resultados alcançados com 83 kg/ha de N. A pesquisa indica uma dosagem de 60 a 120 kg/ha (a depender do teor de matéria orgânica, cultura precedente, região e expectativa de rendimento) sendo 15 a 20 kg/ha na semeadura e o resto em cobertura (perfilhamento e alongamento do colmo). A aplicação após o emborrachamento pode aumentar o teor de proteína do grão, mas geralmente não aumenta o rendimento de grãos. O cálculo da dosagem é feito com base na expectativa de rendimento da cultura e na quantidade de matéria orgânica do solo. Vale ressaltar que estes valores são informações generalizadas, não representando uma recomendação de adubação.

A aplicação de nitrogênio no trigo é uma prática segura em relação ao retorno econômico, com eficiência de 12 a 21 quilos de grão para cada quilo de N adicionado conforme as pesquisas.

 

Ureia no arroz

Muitas vezes a deficiência de nitrogênio limita a produtividade do arroz irrigado. A dosagem é determinada por vários fatores, tais como teor de matéria orgânica do solo, histórico de manejo, cultivar, etc. O arroz absorve N durante todo o seu ciclo, porém, é no perfilhamento e na diferenciação do primórdio floral os momentos mais críticos de absorção. As recomendações abaixo são para a região sul do Brasil.

Em sistemas de semeadura em solo seco, recomenda-se aplicar entre 10 e 20 kg/ha de N na semeadura (conforme a expectativa de produtividade, resíduos da cultura anterior, M.O. no solo...), e o resto em cobertura. Para a aplicação em cobertura, se a quantidade for de até 100 kg/ha, aplica-se cerca de 2/3 da dose entre V3 e V4 (início do perfilhamento) e 1/3 para fornecer o nutriente na iniciação da panícula (R0). Se a quantidade for acima de 100 kg/ha, podemos aumentar a proporção da dose da primeira aplicação em cobertura, porém, mantendo aproximadamente 40 kg/ha de N na segunda cobertura.

Em sistemas pré-germinado, não se recomenda aplicação de nitrogênio na semeadura, devido ao alto risco de perda do nitrogênio, e também porque a cultura não exige muito o nutriente nesta etapa.

  • Para cultivares de ciclo curto e médio, aplica-se cerca de 2/3 do nitrogênio entre V3 e V4, e o resto em R0 (iniciação da panícula). Em doses de 100 kg/ha ou mais, pode-se aumentar a proporção da dose da primeira aplicação, desde que mantendo cerca de 40 kg/ha para a segunda aplicação. 
  • Para cultivares de ciclo tardio (mais de 135 dias), a aplicação pode ser feita em 3 momentos: 1/3 da dose em V3 ou V4, 1/3 no perfilhamento pleno e 1/3 em R0.

 

Ureia no milho

Época: A adubação com nitrogênio é muito importante no milho, pois é o nutriente mais requerido, adubando tanto em base quanto em cobertura. A adubação em cobertura deve ocorrer até V8 (máximo de 8 folhas completas), sendo o ideal entre V3 e V6, em dose única ou parcelada (no caso de altas doses ou solos com baixa CTC). A adubação de cobertura não deve ser feita em plantas mais desenvolvidas (a partir de V8), pois não surtirá efeito significativo quanto à produtividade.

Parcelamento: No Brasil existe uma ideia de que aumentando-se o parcelamento da adubação nitrogenada aumenta-se a eficiência do uso do nutriente, reduzindo as perdas. Porém, estudos da EMBRAPA mostram que, em solos de textura média a argilosa, o parcelamento da adubação nitrogenada em duas, três ou mais vezes para o milho (dosagens de 60 a 120 kg/ha) não resultaram em maiores produtividades quando comparados à aplicação única na fase de maior exigência (30 a 35 dias após a semeadura). Vale ressaltar que tal fato não é válido para solos arenosos (80% a 90% de areia), onde o manejo do nitrogênio carece de cuidados especiais. Assim, no Brasil, o parcelamento do nitrogênio no milho é feito em condições de:

  • Altas doses de nitrogênio (120 a 200 kg/ha)
  • Solos de textura arenosa
  • Áreas sujeitas a chuvas de alta intensidade

A recomendação de adubação nitrogenada em cobertura para o milho de sequeiro geralmente varia entre 60 a 120 kg/ha, já em agricultura irrigada, em situações de alta produtividade, geralmente este valor é maior, entre 120 a 160 kg/ha aproximadamente. Vale ressaltar que são informações generalizadas, não representando uma recomendação de adubação.

 

Recomendamos também assistir ao vídeo abaixo, em que o Engenheiro Agrônomo Dr. Nelson Horowitz, do canal "Adubos & Adubações", esclarece dúvidas e os principais pontos para evitar perdas com a ureia durante o seu manejo. 

 

Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo

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