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“O agro tem que ser fiel ao agro”, diz presidente da John Deere

Executivo da marca falou do potencial e desafios do agro no Brasil


Foto: Eliza Maliszewski

A John Deere nasceu do talento de um ferreiro que adaptou um arado para facilitar a vida de produtores com solos arenosos em Grand Detour, Illinois (EUA), em 1837. Dez anos depois, agora como fábrica, a marca se muda para Moline, produzindo arados de última geração. No Brasil a trajetória começou em 1979. A história de sucesso que nasceu de uma ideia pequena transformou a John Deere em referência em tecnologia e agricultura de precisão, chegando aos tempos da moderna atividade agropecuária.

Hoje o Brasil representa o segundo maior mercado da marca no mundo e é líder na venda de tratores no país. Mesmo diante de um primeiro semestre difícil na economia brasileira, com pouco aporte de recursos de financiamento, a marca projeta recuperação até o final do ano, crescendo de 5 a 8%, um pouco acima do mercado.

Paulo Herrmann, presidente da John Deere no Brasil, acredita que o maior desafio do setor está em produzir mais com menos. Com uma estimativa da Organização das Nações Unidas para a Agricultura (FAO) de que a população mundial chegue a 9,8 bilhões, sendo 70% vivendo em áreas urbanas, a produção de cereais terá que aumentar para 3 bilhões de toneladas por ano. “Temos que pensar que o consumo vai aumentar significativamente e teremos menos pessoas produzindo no campo. Para aumentar produção, com menos gente produzindo só aumentando a tecnologia”, completa.

Herrmann não acredita que as máquinas evoluam para uma automatização completa, mas aposta em tecnificação em atividades que são repetitivas na lavoura e que podem ser realizadas com softwares.

Oportunidade Made In Brazil

Herrmann representa os negócios da John Deere no Brasil e é um defensor do potencial do país no agronegócio. Os números mostram que ele não está errado. O Valor Bruto da Produção Agropecuária deste ano (VBP) está estimado em R$ 600,93 bilhões. O último levantamento da Conab aposta em uma produção de grãos de 240,7 milhões de toneladas. O crescimento deverá ser de 5,7% ou 13 milhões de toneladas acima da safra anterior. 

Na próxima safra espera-se que o Brasil alcance a posição de líder mundial de produção de soja, com 7% a mais do que produz hoje. Já no milho a alta deve ser de 3% ou 100 milhões de toneladas a mais. Um estudo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) divulgado hoje aponta que, na próxima década, o Brasil vai produzir 300 milhões de toneladas de grãos, ou seja, mais 62,8 milhões de toneladas ou 27% a mais.

Para Herrmann o país é um celeiro de oportunidades e, cada vez mais, questões internacionais têm colaborado para isso. Entre as principais: a crise entre Estados Unidos e China, a quebra de safra norte-americana, maior produção do que consumo de grãos, setor produtivo saudável econômica e financeiramente e menos riscos de invasões de terras do que há uns anos atrás, por exemplo.

“Algo que pode gerar muitos benefícios aos produtores brasileiros é o surto de Peste Suína Africana na China. O país tinha o maior número de suínos do mundo e já teve que abater 20%. Temos um país faminto (a China) e estados como o Rio Grande do Sul produzem 66% de frangos e suínos do Brasil. É uma ótima oportunidade de exportar, fazer girar o setor do agro como um todo”, define. Devido à PSA, vírus letal para os porcos, já foram abatidos mais de 4 milhões de suínos nos países da Ásia infectados pela doença.

O presidente também destaca o potencial dos pequenos agricultores. No Plano Safra deste ano os beneficiários do Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar) têm R$ 31,22 bilhões à disposição para custeio, comercialização e investimento. “Temos que parar de falar em agricultura familiar e sim falar em pequeno produtor e oferecer soluções para ele também. Com meio hectare não se produz soja, mas pode se ganhar muito com morangos, suínos, cogumelos”, completa. 

Outro ponto é a qualificação. A John Deere é referência em agricultura de precisão e está se deparando com as novas tecnologias que estão chegando ao mercado: drones, tecnologias de monitoramento e aplicação, gestão rural por aplicativos, entre outros. A marca investe em cursos para que operadores de máquinas saibam operar a tecnologia também para tirar o melhor desempenho dela. “ Atualmente só 60% do potencial da máquina é usado. Poderia render bem mais”, aponta.

Prioridades

“O agro tem que ser fiel ao agro e não a um governo”. Esta é a resposta que Herrmann dá ao ser questionado sobre o apoio do setor ao governo Bolsonaro. Para ele o setor não tem do que se queixar já que sempre encontrou apoio para crescer em todos os governos anteriores e espera o mesmo do atual. Ele acredita que medidas como a liberação de novos defensivos agrícolas, anunciados nesta semana, podem ajudar a diminuir os custos de produção, com resultados utilizando menos produtos. “São moléculas aperfeiçoadas e podem facilitar tanto manejo quando gastos com insumos”, completa.

Entre as prioridades o setor de máquinas observa a necessidade de melhorar a estrutura para exportação e que cada país com os quais o Brasil tem relação comercial deveria ter um adido agrícola na embaixada. O profissional tem por função promover os produtos agropecuários brasileiros e remover obstáculos às suas importações pelos países consumidores. Esses profissionais trabalham ainda na identificação de tendências de mercados, barreiras e oportunidades para os produtos do agronegócio brasileiro, visando acelerar negociações entre os governos e ampliar o comércio de produtos agrícolas entre os países, bem como alertar para ameaças que possam causar impacto às exportações. Atualmente são 18 adidos agrícolas brasileiros pelo mundo: União Europeia (Bélgica), Argentina, Organização Mundial do Comércio (OMC - Suíça), Rússia, China, África do Sul, Japão, Estados Unidos, Vietnã, China, México, Coréia do Sul, Arábia Saudita, Tailândia, e Índia.

Planos de expansão

Está em discussão com o governo do Rio Grande do Sul uma iniciativa que prevê que a John Deere construa um anel viário em Horizontina, no Noroeste do Estado, onde a marca tem uma de suas fábricas. A planta tem dois mil funcionários e capacidade de produzir 100 tratores por dia. Além de tratores também produz três famílias de plantadeiras e sete tipos de colheitadeiras.

Segundo Herrmann, por dia, cerca de 200 caminhões transportando matéria-prima ou produto acabado passam por dentro da cidade. Para evitar esse transtorno à logística e aos moradores a ideia é construir esse sistema rodoviário que circunde o município com extensão de 10 km, obtendo, em troca, uma redução de impostos por parte do governo, em uma parceria público-privada. “Paralelo a isso pretendemos expandir esta fábrica já prevendo novos produtos para os próximos cinco anos”, acrescenta Herrmann.

Uma reunião deve ser realizada na primeira semana de agosto entre a administração estadual e a empresa para definir em que moldes esta obra deve ser realizada. 

Confira trechos da entrevista de Paulo Herrmann na reportagem completa em vídeo:

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