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"O futuro do agro é mais desafiador", diz presidente do Lide

Evento debateu segurança dos alimentos e o papel do agronegócio


Foto: Pixabay

A pandemia de Covid-19 mudou muitos aspectos no mundo. Com pessoas confinadas em casa os hábitos de consumo também mudaram, bem como o debate sobre as questões sanitárias que teriam originado a pandemia em um mercado chinês. Para debater esses impactos e potencialidades do agronegócio brasileiro, autoridades e especialistas do setor estiveram reunidos na última sexta-feira (23) no 9º Fórum Lide de Agronegócios. 

A resiliência do agronegócio brasileiro que não parou foi, certamente, um dos aspectos mais positivos deste ano. O setor se mostrou fundamental para a segurança alimentar não só de brasileiros mas de todo o mundo. A presidente do Grupo de Líderes Empresariais (Lide), Mônika Bergamaschi, destacou que a pandemia influenciou mudanças de comportamento e acendeu o debate sobre condições sanitárias. Ela acredita que abrir novos mercados em meio aos protecionismos, investir em infraestrutura e logística e aumentar a competitividade sob a espada da insegurança jurídica, melhorar a imagem do agronegócio e a percepção em um cenário de desinformação devem permear o debate. “O futuro será mais desafiador. Os temas não são novos. Novo terá que ser o meio de encarar isso”, diz.

O secretário de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, Gustavo Junqueira, estado onde o agronegócio é 15% dos empregos e o PIB agro é 20% do total brasileiro, evidenciou que o setor deve pensar em uma agenda estratégica neste momento. “O Brasil do agronegócio sai de 2020 mais forte do que entrou. Precisamos construir uma nova diplomacia do agro. Não na força e no aumento da produção mas na habilidade de negociarmos os nossos espaços. Mostrar para o mundo o que a gente faz e como a gente faz”, destacou.

O evento teve três painéis que trataram sobre segurança alimentar, segurança jurídica e a imagem do agro. 

Saúde, sanidade e sustentabilidade

O pilar dos “3S” é apontado pelo professor sênior de Agronegócio Global do Insper e titular da Cátedra Luiz de Queiróz da Esalq-USP 2019, Marcos Jank, como os maiores desafios do agronegócio brasileiro, além da segurança alimentar. Ele acredita que a crise sanitária não foi boa para todo mundo. Alguns setores dentro do agro sofreram e tiveram que se adaptar e amargar perdas. “Temos visto uma forte demanda pelos produtos brasileiros. Eu acho que o funcionamento das exportações foi muito bom e devemos pensar como melhorar ainda mais essa logística”, aponta.

Jank acredita que a pandemia mudou a relação de saúde entre animais e humanos e que isso pode ser vantagem para o Brasil. Países populosos como os da Ásia têm sistemas frágeis de produção e refrigeração das proteínas, o que também deixa frágil a qualidade. Na Índia, por exemplo, apenas 30% da população têm geladeira e na China essa dificuldade de refrigerar leva a abates em mercados livres e venda de carne fresca, sem condições sanitárias. 

“Isso é uma oportunidade para o Brasil. Valoriza nosso modelo integrado de produção em relação a outros países. Não vi em lugar nenhum um sistema que integrasse produtor e indústria, com animais estabulados, tudo controlado, refrigerado e assistência técnica. Temos que integrar as legislações municipais, estaduais e federais e melhorar o que temos e internacionalizar nosso modelo”, defende.

Victor Prado, diretor do Conselho e do Comitê de Negociações Internacionais da Organização Mundial do Comércio, concorda que a pandemia mexeu com muita coisa. A alimentação saiu de espaços públicos para a casa das pessoas. Governos se voltaram com medidas para apoiar a produção. O setor do agro se mostrou muito mais resiliente. Ásia teve quedas em exportação de produtos e o Brasil teve alta de soja, açúcar e carne, principalmente.“Todo mundo precisa comer então esse impacto foi menor do que o da industria mas devemos estar atentos que países que têm mais recursos, como Estados Unidos e União Européia, vão investir forte na agricultura e isso pode nos impactar”, aposta.

O economista e sócio-consultor da MB Agro, Alexandre Mendonça de Barros, citou outro exemplo de crise sanitária que mudou as relações: a Peste Suína Africana. A doença fatal para suínos desmontou o maior plantel mundial que é a China e impactou em preços da proteína pelo mundo. Hoje a China compra 45% da produção mundial de suínos do mundo e um terço de toda carne mundial. “Puxados pela recomposição do plantel suíno, os chineses subiram a régua da sanidade e a alimentação baseada em ração vai demandar de 25 a 30 milhões de soja a mais por ano”, avalia.

Esse mesmo impacto foi visto pelo Covid-19 e mudou os preços pelo mundo. Conforme os países foram parando os preços dispararam. No Brasil as grandes redes se adequaram rapidamente e adotaram o digital. O varejo conseguiu atender, aprendendo que muitos alimentos são mais consumidos dentro que fora de casa e passaram a pensar mais nesta necessidade. “Se formos olhar soja e milho já subiram 30% nesses últimos meses e isso impacta carne e toda cadeia produtiva. Olha tudo que gerou um problema sanitário de consumo de animal selvagem contaminado. Com a depreciação do câmbio nossa logística ficou barata. Custa o mesmo tirar soja dos EUA do que de Sorriso (MT)”, concluiu.
 

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