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“Rodovia da Soja” completa 40 anos em Mato Grosso

A “rodovia da soja”, a construção da BR-163 foi um marco na história de Mato Grosso e um impulso no agronegócio


Conhecida como a “rodovia da soja”, a construção da BR-163, de Cuiabá (MT) a Santarém (PA) foi um marco na história de Mato Grosso. De acordo com o economista Vivaldo Lopes, a obra com 1.777 quilômetros entre os dois municípios que teve início em 1971, proporcionou um novo impulso no desenvolvimento econômico do estado, com foco no agronegócio. Nesta quinta-feira (20), a rodovia completa 40 anos, desde que foi entregue à população, em outubro de 1976, durante o governo de Ernesto Geisel. 

A abertura da estrada foi realizada por equipes de militares e civis contratados pelo Batalhão de Engenharia de Construção (9º BEC) sob o comando do Coronel José Meirelles e que seguiriam rumo ao Pará. A outra equipe do 8º Batalhão de Engenharia de Construção (8º BEC), instalado em Santarém (PA), partiu rumo a Mato Grosso. 

Cada equipe andaria cerca de 900 quilômetros e o ponto de encontro seria na Serra do Cachimbo, divisa dos dois estados. No entanto, a equipe que partiu de Santarém encontrou mais dificuldades ao longo do caminho e a equipe de Cuiabá continuou avançando rumo ao norte, totalizando 1.321 quilômetros de estrada. 

Com a rodovia pronta, o governo incentivou produtores rurais, especialmente da região Sul do Brasil, a ocuparem as regiões Centro-Sul e Norte mato-grossense, desde que usassem as terras para produção. “Até a entrega da rodovia, o estado teve ciclos como o da produção mineral (ouro e diamante), vegetal (seringais, erva-mate, madeira) e a pecuária no Pantanal e na região sul”, diz o economista. 

A obra fazia parte do Plano de Integração Nacional (PIN) do governo militar, que tinha o lema “Integrar para não entregar”. O objetivo era ocupar as terras inabitadas do Oeste do país de forma produtiva, para não perdê-las aos outros países da fronteira. “Os produtores receberam crédito do Banco do Brasil e do Banco da Amazônia para plantar ou criar gado em Mato Grosso”, conta Lopes. 

O agricultor Antônio Isaac Lira, 58 anos, natural de Lagoa Vermelha (RS) foi um dos produtores que comprou lotes em Lucas do Rio Verde (332 quilômetros ao norte de Cuiabá). Ele chegou na região do município em 1976, após ouvir que as terras no estado eram planas e ideais para o cultivo de lavouras. “A rodovia era toda elevada e cascalhada quando chegamos. Fomos os primeiros a chegar a Lucas. A BR-163 foi fundamental para todos nós do Nortão, pois sem a estrada nada se desenvolveria”, comenta Lira. 

Como a maioria dos agricultores que vieram a Mato Grosso na década de 1970, sua família primeiro semeou lavouras de arroz. Ele se recorda que a semeadura de soja começou em 1982 no município, quando nem havia pesquisa da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) sobre a forma de produzir a oleaginosa no Cerrado. 

A ocupação das novas áreas formou cidades ao longo da estrada, de Cuiabá à divisa com o Pará, como Rosário Oeste, Nova Mutum, Lucas do Rio Verde, Sorriso, Sinop, Guarantã do Norte e Peixoto de Azevedo. Além dessas, o economista Vivaldo Lopes destaca que outras cidades surgiram a uma distância média de 100 quilômetros do eixo da rodovia. “A BR-163, assim como a BR-070, é uma artéria muito importante que atraiu populações e promoveu o escoamento da produção para todo o país. Hoje Mato Grosso é um produtor mundial de alimentos”, comenta. 

Já o pecuarista João Conte, de Juara (690 km de Cuiabá), trabalhava como médico veterinário na regional do Ministério da Agricultura em Uberlândia (MG) quando comprou propriedades em Mato Grosso. “Tinha vontade em ir para o ‘sertão’, comprar terras e acreditar, porque o Brasil foi feito assim”, diz. 

Ele conta que as primeiras vacas matrizes levadas para a região Noroeste, onde fica o município, eram compradas em Rondonópolis e subiam a rodovia andando. “A BR-163 é tudo para nós do Noroeste de Mato Grosso. É nossa redenção, pois a partir dela cidades como Sinop conseguiram se desenvolver com o acesso ao escoamento dos produtos”, lembra Conte. 

“Olhando a longo prazo, podemos analisar que a estratégia do governo deu certo”, observa o economista. Mato Grosso é hoje o estado que mais produz soja (26 milhões de toneladas*), milho (15 milhões de toneladas*), algodão em caroço (2 milhões de toneladas*), girassol (35 mil toneladas de sementes*) e tem o maior rebanho bovino de corte (29 milhões). 

Exposição da BR-163 

Para relembrar a história da construção da rodovia, será realizada a exposição “40 anos da BR-163 – Uma estrada com quilômetros para contar”, em dois locais em Cuiabá. De 20 de outubro a 3 de novembro, a exposição estará no Pantanal Shopping e, de 5 a 20 de novembro, poderá ser vista no Goiabeiras Shopping. 

O evento é realizado pela Concessionária Rota do Oeste e o 9º Batalhão de Engenharia de Construção (9º BEC), com apoio da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja). 

Serão expostas fotos que mostram os trabalhadores durante a construção da estrada, assim como locais do dia a dia deles, como acampamentos e refeitórios. Um dos objetos é a flecha disparada pela tribo Kreen-aKore, conhecidos como os ‘Gigantes da Amazônia’, que feriu um dos trabalhadores da construção da estrada. 

O visitante poderá ainda viajar até a rodovia usando óculos de realidade virtual 3D e conhecer o trecho de 117 quilômetros duplicado pela Concessionária Rota do Oeste ao Sul da BR-163, na região de Itiquira a Rondonópolis. Será exibido também um vídeo com o depoimento do agricultor Munefumi Matsubara, que descobriu que havia comprado terras onde foi montado o acampamento dos militares durante a construção em Lucas do Rio Verde. 

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