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A grande ferramenta do campo

O clima é o principal responsável pelo sucesso ou insucesso de uma safra


O clima, que orienta a agricultura e pelo qual o produtor se baseia para o plantio e a colheita, é o principal responsável pelo sucesso ou insucesso de uma safra. Dentre tantos elementos que contribuem para o aumento da produtividade, este é o único que não pode ser controlado
 
A previsão é de tempo bom para 23 de março. A data foi escolhida como o "Dia Meteorológico Mundial" por ser o dia da fundação da Organização Meteorológica Mundial (OMM) da ONU, em 23 de março de 1950. Todos os anos é escolhido um tema voltado ao clima para ser debatido na data, que em 2013 é “Monitorar o tempo para proteger vidas e propriedades”, que também celebra os 50 anos de operação da Vigilância Meteorológica Mundial.

Para o pesquisador do Laboratório de Meteorologia Aplicada à Agricultura da Embrapa Trigo, Gilberto Cunha, 23 de março é uma data simbólica por se tratar de uma homenagem prestada pela criação de uma organização mundial de alta relevância. “São vários países que integram a Organização Meteorológica Mundial (OMM), entre eles o Brasil. Desde 1960, a OMM elege um tema para marcar as comemorações e que é discutido nos países membros. Nesse ano, está o monitoramento das observações meteorológicas que integram o programa chamado Vigilância Meteorológica Mundial, criado em 1963, marcando os seus 50 anos de funcionamento”, frisa ele.
 
        (Pesquisador do Laboratório de Meteorologia Aplicada à Agricultura da Embrapa Trigo, Gilberto Cunha / FOTO DIVULGAÇÃO

Passo Fundo

A estação meteorológica de Passo Fundo, sediada na Embrapa Trigo, faz parte dessa vigilância meteorológica mundial, pois a estação oficial do Instituto Nacional de Meteorologia, o INMET. “A vigilância meteorológica mundial é basicamente, na prática, a rotina das observações de tempo e clima que são feitas diariamente em três horários, 9h, 15h e 21h”, explica ele.

Para Cunha, dentre os principais usuários da informação meteorológica está a agricultura, juntamente com a navegação aérea. “A agricultura se beneficia do monitoramento do tempo e do clima para zoneamento agrícola, indicação de quais locais determinadas espécies tem maior chance de cultivo ou não, em estudos de riscos de natureza climática, envolvendo impactos nas plantas cultivadas e nos projetos e manejo de irrigação de culturas”, observa ele.

Ferramenta importante

A meteorologia não apenas orienta as pessoas que para uma programação de final de semana, por exemplo, se baseiam na previsão do tempo, como também auxilia e se torna uma ferramenta importante e indispensável para a agricultura e agronegócio. “A agricultura pode ser considerada uma indústria a céu aberto e depende totalmente do clima”, afirma o meteorologista do Inmet, Renato Lazinski.

A informação meteorológica, na opinião de Cunha, é importante no planejamento de sistemas de irrigação e no manejo da água em agricultura. “Há uma gama de aplicações na agricultura que pode iniciar com o zoneamento agrícola, definição de calendário de semeadura, manejo das culturas irrigadas, práticas do dia a dia das lavouras, previsão de curto prazo ligada à tecnologia de e manejo de produtos químicos, da necessidade ou não de aplicação de agrotóxicos”, informa o pesquisador, lembrando que todas essas informações são fundamentais nas práticas agrícolas em que a meteorologia otimiza e melhora a eficiência das aplicações.

Aplicação
(Observador meteorológico da Embrapa Trigo,
Ivegndonei Sampaio / FOTO DIVULGAÇÃO)
Segundo Cunha, na aplicação de agrotóxicos nas lavouras, a informação meteorológica é fundamental, pois aponta a necessidade ou não de aplicação frente ao risco de epidemia de doenças. “Elas (as doenças) estão associadas à suscetibilidade da planta hospedeira, a presença de patógenos e a ocorrência de ambientes favoráveis. Os sistemas de alertas sobre riscos de epidemia usam a informação meteorológica, conforme a previsão da temperatura de um dia de pode favorecer ou não a doença”, pondera o pesquisador, apontando que a meteorologia também é fundamental na eficiência dos produtos usados. “Determinados produtos exigem temperatura alta ou baixa, umidade relativa do ar alta ou baixa e a informação meteorológica garante maior eficiência do produto que é aplicado, conforme a sua reação frente às condições do ambiente”, conclui.

Para Lazinski, com a tecnologia existente, como melhoramento genético de sementes, manejo de solo, de pragas, doenças entre outros, os agricultores conseguem controlar vários campos da agricultura, mas o clima é o único que ainda não é possível controlar. “O agricultor faz a parte dele, mas depende do clima para que a safra tenha sucesso. Portanto, o clima é o fator fundamental de sucesso ou não da agricultura, justamente pelo fato do agricultor não ter controle sobre ele”, afirma, lembrando das safras do ano passado e deste ano no Estado. “No ano passado tivemos uma quebra significativa na safra de verão do RS, devido a falta de chuva, para a safra deste ano o clima foi bem mais favorável e as produtividades das lavouras serão maiores. Tudo devido ao clima”, pontua.

Agronegócio

O agronegócio melhorou em vários sentidos, devido ao melhoramento genético de sementes, manejo mais adequado de solos, pragas e doenças, melhores equipamentos, armazenagem entre outros e, na opinião de Lazinski, a credibilidade e a melhora nas informações sobre o tempo e clima vem contribuindo para minimizar eventuais perdas devido às adversidades climáticas. “Os agricultores hoje, tem à disposição o zoneamento Agroclimático, que permite avaliar o melhor período de plantio, desenvolvimento e colheita das nossas lavouras, estes períodos são avaliados em função das condições climáticas de cada região, para uma determinada cultura”, salienta.

O meteorologista ressalta que as informações estão disponíveis via internet, rádio, programas de TV, jornal e nos órgãos oficiais, como EMATER, EMBRAPA, Ministério da Agricultura, INMET, entre outros. Com relação às previsões de tempo e clima, ele aponta que hoje existem várias fontes. “Temos os órgãos oficiais, empresas particulares, imprensa em geral. Estas informações são fundamentais para o planejamento de uma lavoura, uma vez que, a tecnologia usada no campo é muito alta e os investimentos significativos”, avalia ele, comentando que antes da internet, as informações eram divulgadas via boletins para os órgãos oficiais do governo ligados a agricultura que repassavam aos agricultores e também via telefone, jornais, rádios e TV.
 
        (Meteorologista do Inmet, Renato Lazinski / FOTO DIVULGAÇÃO)

Previsão do tempo

A grande dúvida de toda a população que se baseia nas previsões do tempo é saber como os meteorologistas conseguem fazer a previsão. Conforme Lazinski, ele levaria um bom tempo tentando explicar os modelos e fórmulas matemáticas que envolvem a confecção das cartas meteorológicas, sobre as quais os meteorologistas analisam as condições atuais e futuras do tempo e clima. “Deixando as complicadas fórmulas matemáticas de lado, basicamente os meteorologistas confeccionam cartas de pressão atmosférica, temperatura, ventos, entre outras e com estas informações analisam o comportamento das massas de ar, frentes frias (ou frentes quentes), para prepararem os prognósticos de tempo, já os prognósticos de clima (para mais longo prazo), são analisados em função das anomalias das águas superficiais dos Oceanos, anomalias de radiação solar, anomalia de ventos, entre outros”, explica ele. O índice de acerto é muito alto, acima de 90% para períodos curtos de até uma semana, a partir dais vai caindo à medida que o tempo vai aumentando.

Observador meteorológico

O observador meteorológico da Embrapa Trigo, Ivegndonei Sampaio explica que para atuar na profissão é preciso ter curso profissionalizante. “Meus cursos foram com meteorologistas da Aeronáutica, Marinha e Infraero, porque tem observadores em aeroportos, em navios e na Aeronáutica, que apesar dos pilotos dominarem a técnica, eles precisam saber das condições climáticas do seu destino”, afirma.

Responsável pelos índices pluviométricos e informações do clima na região, Sampaio explica que as coletas seguem padrões internacionais. “As leituras tem o tempo certo para o observador sair da estação em direção aos aparelhos às 08h50, 14h50 e 20h50, no total de três ao dia", explica, comentando que são 32 leituras. “As principais são a temperatura da hora com o termômetro úmido para o cálculo da umidade relativa do ar, direção do vento e a velocidade em nós, os tipos das nuvens se são baixas, médias ou altas, a leitura do pluviômetro para medir a quantidade de chuva, ver quantas horas de insolação diária através de um diagrama medido pelo heliógrafo e depois dentro da estação fazer a leitura do barômetro, do barógrafo e do anemógrafo para ver a velocidade do vento e qual foi a maior rajada do dia e quantos quilômetros por hora”, informa.

As observações meteorológicas em Passo Fundo começaram em agosto de 1912. “No Laboratório de Meteorologia Aplicada à Agricultura da Embrapa Trigo despendemos um grande esforço na recuperação e manutenção desse acervo”, frisa.

Hoje a margem de erro das previsões, para o intervalo de até 5 dias, é muito pequena. O índice de acerto supera 95%. “A estação meteorológica, operada conjuntamente pelo Inmet e pela Embrapa Trigo, é muito importante para a nossa região. Eu e o meu colega observador meteorológico do Inmet, Luis Sandri, temos orgulho de que, desde 1951, nunca faltou uma leitura meteorológica em Passo Fundo”, declara Sampaio.

Dia do Meteorologista

Comemorado em 14 de outubro, este dia foi oficialmente escolhido como o “Dia do Meteorologista” porque nesta data, em 1980, foi promulgada a lei que regulamentou a profissão de meteorologista. Anteriormente era comemorado no dia 03 de março.

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