Adubo químico afeta a atmosfera
O uso indiscriminado de adubo químico à base de nitrogênio contribui para o aquecimento global
O uso indiscriminado de adubo químico à base de nitrogênio, um dos principais nutrientes da planta, contribui para o aquecimento global. É que, no solo, microrganismos transformam a substância em óxido nitroso (N2O), um dos gases do efeito estufa. Relatório de 2006 do Ministério da Ciência e Tecnologia, a partir de dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), calcula que 128.850 toneladas do gás são liberadas por ano pela atividade agrícola no Brasil. Rio Grande do Sul e São Paulo lideram as emissões de N2O em nível nacional. No Nordeste, Pernambuco só perde para a Bahia em geração de óxido nitroso.
Na região, a cana-de-açúcar é uma das culturas que mais consomem nitrogênio. "A espécie é uma gramínea que tem mecanismo de fotossíntese muito exigente nesse tipo de nutriente", ensina o agrônomo Pedro Luís Pessoa de Mello Neto, superintendente agrícola da Usina Cruangi-Maravilhas. A empresa, emprega 400 quilos de adubo químico por hectare anualmente, dos quais 20% (80 quilos) são nitrogenados. Os custos com o produto, cuja matéria-prima é o petróleo, estão estimados em R$ 375 por hectare ao ano. Só na unidade de Goiana (Maravilhas) são 9.329,74 hectares plantados.
Pedro Luís não sabia que o uso de adubo gera óxido nitroso (N2O), gás contribuinte em 15% para o efeito estufa. Normalmente o problema ambiental associado ao uso do NPK (sigla em inglês para o trinômio nitrogênio, fósforo e potássio) é a contaminação do solo e dos recursos hídricos. Mesmo assim, preocupada com a redução dos custos, a Cruangi-Maravilhas se engajou em projeto da Embrapa realizado em usinas de São Paulo, Rio de Janeiro, Alagoas, Sergipe, Pernambuco e Piauí. O objetivo é eliminar, ou pelo menos diminuir, o uso do adubo através do emprego de microrganismos que fazem a fixação biológica do nitrogênio.
A experiência, iniciada em setembro em Pernambuco, consiste na inoculação das bactérias no colmo (caule) da cana-de-açúcar. "Nossa expectativa são taxas de 40% de fixação, ou seja, com a técnica será possível reduzir no mesmo percentual o uso de adubo nitrogenado. E isso contribuirá para reduzir o efeito estufa", explica Walane de Mello Ivo, da Embrapa Tabuleiros Costeiros, em Alagoas, parceira do projeto, coordenado pela Embrapa Agrobiologia, no Rio de Janeiro.
Os microrganismos, de cinco espécies (Gluconacetobacter diazotrophicus, Herbaspirillum seropedicae, Herbaspirillum rubrisubalbicans, Azospirillum amazonense e Burkholderia tropica), retiram o nitrogênio do ar e o transferem para a planta. Trata-se de uma relação simbiótica. Enquanto a cana oferta alimento para as bactérias, os microrganismos fornecem nitrogênio.
Por enquanto, os rebolos - pedaços de cana usados no plantio - são banhados na solução com as bactérias por uma hora. No futuro, o objetivo é pulverizar diretamente na plantação, no início de cada safra. Embora a cana suporte seis colheitas, 20% da área plantada são renovados anualmente. É nesse trecho das usinas que a técnica deverá estar sendo usada em breve.