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Agricultor endividado quer devolver máquina

Produtores do MT querem devolver máquinas agrícolas porque não conseguem pagar o financiamento



Após reduzirem a área plantada com soja em 300 mil hectares, por conta das dívidas da safra passada e dos preços baixos, os produtores de Mato Grosso agora dizem que querem devolver máquinas agrícolas porque não conseguem pagar o financiamento. De acordo com a Famato (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso), até o final de fevereiro 729 máquinas figuravam em uma lista elaborada pelos sindicatos rurais de 13 municípios. Embora não haja uma estratégia definida para a devolução, os agricultores afirmam que estão dispostos a ir à Justiça para entregá-las, antes que sejam tomadas pelos bancos credores.

Sinop (506 km de Cuiabá) é o município com mais máquinas na lista. São 443, que equivalem a cerca de R$ 100 milhões. O cálculo é de Antônio Galvan, presidente do sindicato rural do município, que produz ainda arroz e algodão, também afetados pela crise. "O agricultor acumulou uma dívida já do ano passado. Agora, neste ano, está acumulando uma nova dívida, da defasagem de preço. Como é que a gente vai conseguir pagar algum tipo de investimento?", questionou Galvan. Segundo ele, o preço pago pela soja na região está 25% abaixo do custo de produção. "Estamos pedindo prorrogação do pagamento dessas máquinas. É uma forma de pressão para que o governo entenda", diz.

Para Seneri Paludo, analista de mercado da AgRural, de Cuiabá, o grande problema é o câmbio, que reduz o preço pago ao produtor. "Se tivesse um câmbio de R$ 2,70, Mato Grosso não estaria em crise", disse ele, ao lembrar que as cotações da soja na Bolsa de Chicago, US$ 6 por bushel (27,2 quilos), estão na média histórica.

O produtor Neri José Chiarello colocou 35 máquinas, entre elas dois aviões, na lista do Sindicato Rural de Sinop. Ele não revela o tamanho da dívida, mas diz que nem mesmo prazos maiores resolveriam o problema. "O governo fala em prorrogar, mas com um juro que vai tornar ainda mais inviável. A gente quer resolver o problema já, devolvendo as máquinas. Não vamos mais plantar, mas mudar de ramo, botar um comércio, uma barraquinha de pastel", disse Chiarello, que na safra atual plantou os mesmos 1.700 hectares de soja do ciclo anterior.

No mês passado, o Banco do Brasil anunciou a flexibilização das condições de pagamento da dívida rural em Mato Grosso, que chega a R$ 960 milhões, ou 24% dos R$ 4 bilhões repassados pela instituição. A entrada a ser paga pelos produtores, que antes podia chegar a 42% do total devido, agora não passa de 20%. O restante pode ser pago em até cinco anos. Os produtores, porém, reclamam dos juros, maiores que os 8,75% ao ano do crédito rural. De acordo com o Instituto Mato-Grossense de Economia Agrícola, a dívida total do setor chega a R$ 3 bilhões.

O produtor Roque Lazari, de Primavera do Leste, foi mais rápido que os sindicatos rurais. Acionado na Justiça por um banco particular, ele entregou duas plantadeiras e um trator no final de janeiro, e quitou uma dívida de R$ 110 mil.

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