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Agricultura irrigada é tema de webinar na Agrobrasília Digital

O seminário on line foi realizado no dia 8 e a gravação pode ser acessada na página da Agrobrasília no Youtube


Foto: Marcel Oliveira

O uso e conservação de água no Planalto Central foi o tema de um dos webinars promovidos pela Agrobrasília Digital, evento encerrado no último sábado, 11. Participaram como palestrantes o pesquisador da Embrapa Cerrados, Lineu Rodrigues, que tratou dos desafios e oportunidades da agricultura irrigada nessa região e a produtora rural e presidente da Associação de Irrigantes do Noroeste de Minas Gerais, Rowena Petroll, que abordou os desafios diários dos produtores irrigantes. O seminário on line foi realizado no dia 8 e a gravação pode ser acessada na página da Agrobrasília no Youtube.

De acordo com o pesquisador da Embrapa, hoje o Brasil irriga em torno de sete milhões de hectares, o que representa cerca de 3% da área plantada, grande parte localizada na região do Cerrado. Os estudos mostram, no entanto, que o potencial de irrigação no Brasil é de 61 milhões de hectares, sendo 38 milhões se forem levados em consideração apenas regiões com solo e relevo de alta e média qualidade. "Não significa que temos que irrigar isso tudo, mas é bom ter esse número na cabeça porque a gente tem uma ideia de onde podemos crescer e até onde podemos ir", afirma.

Esse crescimento, no entanto, segue a passos lentos, segundo o especialista. Ele atribui essa realidade ao fato de a evolução da agricultura irrigada não se basear unicamente na questão da disponibilidade de terras. "Temos também que melhorar nossa infraestrutura, desamarrar a nossa legislação e dar mais legalidade para o nosso produtor, nosso irrigante", acredita. Segundo o pesquisador, 73% dos pivôs centrais do país estão localizados no Cerrado, com destaque para o município de Unaí (MG), cidade no Brasil que tem o maior número de área irrigada (74 mil hectares), seguida por Paracatu (MG) e Cristalina (GO).

De acordo com Lineu, a disponibilidade hídrica do Brasil, se excluída a Amazônia, fica em torno de 50 mil m3/s; já a vazão demandada pelos diversos usos representa apenas 5%, sendo 3% só a irrigação. "O fato é que utilizamos muito pouco da nossa água. Não quero criar a cultura do desperdício, sabemos que temos áreas com problemas hídricos, que estão em disputa, mas temos que usar a água disponível para promover um melhor desenvolvimento econômico das regiões brasileiras", defendeu. 

O pesquisador pontuou também que apesar de a vazão dos rios no Brasil ser considerada significativa, as formas de uso precisam ser melhor pensadas. Umas das importantes estratégias, segundo ele, são as barragens, consideradas essenciais para aumentar a disponibilidade hídrica nas bacias. "Temos caso em que essa disponibilidade aumentou em mais de 100% por conta das barragens". Ele afirmou, no entanto, que é preciso estudar de forma aprofundada esse tema para, assim, planejar melhor essa infraestrutura. 

Pesquisa e eficiência

Um dos focos da pesquisa aplicada para a região do Planalto Central é o aumento da eficiência de irrigação. O pesquisador apresentou alguns trabalhos que estão sendo conduzidos nessa área. "Quanto maior a eficiência, menos água o irrigante tem que tirar do rio. E hoje ele é atento a isso, especialmente porque eficiência de água está diretamente relacionada com energia. Como energia tem um custo elevado, esse é um ponto crítico, sem falar nos ganhos ambientais", explica.

Outro ponto destacado pelo especialista foi a importância de o produtor enxergar a questão da água como um bem coletivo. "Numa fazenda, tudo ele pode falar que é dele, a terra, os animais, mas a água não. Ela é dinâmica, apenas passa pela propriedade. Ele precisa saber que tudo o que ele faz afeta, de alguma forma, quem está abaixo dele". Lineu destacou, nesse sentido, especialmente a importância da questão da infiltração da água no solo. "Quando ela infiltra, ela recarrega os aquíferos e essa recarga aparece como vazão mínima que a gente vai precisar na época da seca. E para que haja uma boa infiltração, é preciso fazer um bom trabalho de solo e água", explicou. 

A importância da agricultura irrigada 

O Brasil possui em torno de 12% das reservas de água doce do mundo e ocupa a nona posição em termos de área irrigada. O mundo tem em torno de 340 milhões de hectares irrigados e o Brasil 5,4 milhões. Para Lineu, passa pela irrigação conseguir alimentar as 10 bilhões de pessoas, que é a previsão para 2050 da população  mundial. "Os estudos indicam que teremos que aumentar nossa produção em mais de 60%. Aliado a isso, tem-se o fato que está previsto um aumento na demanda de energia de cerca de 80% e de 55% de água. Esses elementos são fortemente conectados", afirmou. 

A agricultura irrigada é importante nesse contexto, explica o estudioso, pois ela proporciona estabilidade de produção, ao contrário da produção de sequeiro que é considerada muito variável. A irrigação também permite aumentar a produção. É o caso da soja, que sempre foi uma cultura de sequeiro e, agora, é cada vez mais irrigada. "A diferença de produtividade está em torno de 20 sacas. Se a gente pensar num pivô de 100 hectares, com 60 reais a saca, dá em torno de 110 mil reais de diferença. É isso que a irrigação traz. É desenvolvimento econômico para a região".

Ele também destacou os benefícios ambientais da irrigação. "No mundo, temos uma área cultivada em torno de 1,5 bilhão de hectares, sendo 80% sequeiro e 20% irrigado. Mas, em termos de produção total dessa área, o sequeiro produz 60% e o irrigado, 40%". Ele propôs um exercício. "E se não tivéssemos a agricultura irrigada? Teríamos que ter a produção de sequeiro, produzindo na área do irrigado, e ainda aumentar 20% a área plantada para produzir a mesma quantidade de alimento. O que isso significa? Teríamos que abrir mais ou menos em torno de 300 milhões de hectares para a agricultura. Isso é um ponto que mostra a importância ambiental da agricultura que intensifica e reduz a necessidade de se abrir novas áreas".

Desafios dos irrigantes

"A garantia da produção na nossa região vem da irrigação", afirmou a produtora rural e presidente da Associação de Irrigantes do Noroeste de Minas Gerais (Irriganor), Rowena Petroll. A região possui atualmente 270 mil hectares irrigados. "Aqui, por conta da sazonalidade das chuvas, quem planta sem irrigação corre sérios riscos de não conseguir pagar os custos de produção", conta.

Segundo ela, nos últimos anos, houve uma consolidação do conheicmento para produzir duas safras por ano, aproveitando a água da melhor maneira possível. "Há alguns anos, os irrigantes consumiam uma quantidade muito grande de água na irrigação. Atualmente, por conta das novas variedades de soja, feijão e outros produtos, e em função das orientações relativas às datas de plantio, nós conseguimos produzir duas safras com irrigação suplementar, usando cada vez menos água e menos energia", conta.

Ela citou, no entanto, alguns desafios que os produtores da região enfrentam, como a demora na análise dos processos de outorga. "Não é incomum um processo de outorga demorar dez anos para ser analisado. Isso é um atraso, em dez anos, temos vinte safras. Olha o que o estado de Minas Gerais está deixando de arrecadar com produção agrícola e com exportação", avalia. Outro problema, segundo ela, é a demora na liberação dos processos de licenciamento ambiental, mesmo com as recentes mudanças na legislação. 

De acordo com Rowena, um dos focos do trabalho da Irriganor é contribuir para melhorar o atendimento do uso de água nas áreas de conflito. "Minas Gerais tem atualmente 64 bacias consideradas áreas de conflito e hoje o uso da água numa bacia nessa situação precisa ser feito com a concordância de todos os usuários. Nós estamos crescendo nesse entendimento de uso múltiplo da água e mesmo numa bacia de conflito estamos conseguindo ampliar muito a irrigação", relata. 

Outro forma de atuação da associação, segundo ela, é auxiliar o estado sugerindo novas formas de análise dos processos de outorga. "Estamos trabalhando para apresentar um novo modelo de gestão hídrica em Minas Gerais, trabalho sendo feito em conjunto com instituições de ensino e pesquisa e órgãos governamentais. Nós não podemos demorar dez anos para outorgar uma água, precisamos ter mais agilidade nesses processsos, mas entendemos também que nós, produtores rurais organizados, sociedade civil organizada, precisamos sim ajudar o estado nessa gestão", finaliza.

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