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Agroindústria terá linha de R$ 12,6 bi

Os R$ 10 bi anunciados ontem beneficiarão principalmente os frigoríficos e devem ser aprovados pelo CMN no dia 30


O governo federal anunciou ontem pacote de ajuda ao agronegócio de R$ 12,6 bilhões. Do total, R$ 10 bilhões serão destinados a uma linha de crédito para indústrias de máquinas e equipamentos agrícolas e cooperativas agropecuárias. Outros R$ 2,3 bilhões irão para a estocagem de álcool e os R$ 300 milhões restantes serão direcionados ao Programa de Desenvolvimento Cooperativo para Agregação de Valor Produção Agropecuária (Prodecoop). Com isso, a linha passa de R$ 1,7 bilhão para R$ 2 bilhões.

Os R$ 10 bilhões anunciados ontem beneficiarão principalmente os frigoríficos e devem ser aprovados pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) no dia 30.

As condições e a operacionalização das medidas que vão garantir capital de giro para as empresas devem ser definidas hoje pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelos ministros da Fazenda, Guido Mantega, e Agricultura, Reinhold Stephanes.

De acordo com o deputado federal Luis Carlos Heinze (PP-RS), membro titular da Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados, o novo financiamento deverá ter juros de 11,25% ao ano, mais 4% de spread bancário. O prazo para contratação seria até 31 de dezembro de 2009 e para pagamento de até 24 meses, incluído um ano de carência. A linha deve ser operada pelo Banco do Brasil e pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Segundo o parlamentar, a expectativa é de que junto com o pacote o governo também garante a liberação dos recursos e a operacionalização da linha de crédito.

A avaliação do ministro da Agricultura também é a de que o governo deve acelerar as tomadas de decisões. Stephanes deve pleitear que o juro do financiamento fique próximo dos 6,75% ao ano, mesmo nível do crédito rural.

Ontem, durante a abertura da feira de tecnologias agropecuárias AgroBrasília 2009, Stephanes demonstrou otimismo. "O agricultor brasileiro tem feito um trabalho extraordinário. Num momento de crise como esse, a agricultura tem reagido de forma extremamente positiva", disse.

A decisão do governo em destinar um pacote ao agronegócio se deu após as indústrias do setor perderem 53 mil postos de trabalho entre setembro do ano passado e fevereiro desse ano. Em um levantamento feito pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) constatou-se que 315 mil trabalhadores ligados a atividades agropecuárias foram demitidos nos últimos cinco meses. Só a indústria de máquinas e equipamentos agrícolas fechou 1.559 mil postos de trabalho, quase 10% de todo o seu contingente, sendo que entre fevereiro e março deste ano foram 716 demissões.

A expectativa é de que os repasses sejam iniciados logo após a aprovação da linha. O governo tem interesse direto já que o setor tem impacto em dois números de peso para a política: o nível de desemprego, que é crescente na agroindústria, e a balança comercial, cuja expectativa é de uma queda expressiva nas exportações brasileiras em 2009, puxada pela retração dos produtos agrícolas.

Segundo o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, as exportações brasileiras deverão cair este ano entre 17% e 18%, em média, ficando entre US$ 160 bilhões e US$ 163 bilhões. Castro disse que a queda resulta da redução do preço das commodities.

O setor sucroalcooleiro e os frigoríficos são os que enfrentam maiores dificuldades. Segundo projeções do Itaú BBA divulgadas ontem pelo diretor comercial da instituição financeira responsável pelo setor sucroalcooleiro, Alexandre Figliolino, a dívida líquida bancária das usinas e destilarias chega a R$ 40 bilhões.

A proporção entre a dívida e tonelada de cana processada pela 30 usinas avaliadas pelo banco cresceu 93% na última safra, para R$ 76,1 por tonelada. A expectativa para a safra 2008/2009 é que essa proporção chegue a R$ 85 por tonelada. Ontem, o CMN criou uma linha de crédito de R$ 2,3 bilhões para estocagem da produção de álcool durante a safra deste ano, o que deve diminuir os impactos da crise no setor.

Frigoríficos

As indústrias de carne são as que aguardam com maior ansiedade o pacote do governo, já que muitas se encontram sem capital de giro e com unidades fechadas. A expectativa do setor é a de seja aprovado o fim da cobrança de PIS/Cofins para os frigoríficos. Atualmente, as companhias pagam 60% da alíquota - que é de 9,25%. Até 31 de dezembro de 2008, os frigoríficos acumulavam créditos de cerca de R$ 600 milhões de PIS/Cofins. As indústrias também esperam que a liberação do pagamento dos créditos tributários que os frigoríficos têm a receber referentes as exportações. Estima-se que o setor deva receber do governo entre R$ 1,2 e R$ 1,5 bilhão de créditos.

Essa semana o Frigorífico Torlin encerrou suas atividade em Umuarama, no Paraná, demitindo 240 funcionários. Na mesma região, o Frigojara, demitiu 140. Segundo a Abrafrigo, desde setembro, 55 frigoríficos já suspenderam as atividades no País.

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