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Agronegócio exportará menos em 2005


Depreciação do câmbio, preços em queda e desaceleração da economia vão impactar o setor. O ritmo das exportações do agronegócio deve cair este ano. A redução nos preços internacionais das principais commodities que compõe a pauta de exportações, a desvalorização do dólar e a desaceleração da economia mundial vão frear as vendas externas do setor. Analistas de mercado acreditam que em 2005 o Brasil vai comercializar 3% menos que os US$ 39 bilhões vendidos no ano passado. Apenas no governo as estimativas estão otimistas, com crescimento de 10%, para US$ 43 bilhões.

"O câmbio desvalorizado torna o Brasil menos competitivo, o que poderá motivar as empresas a vender no mercado interno, diminuindo as remessas internacionais", diz André Pessôa, da Agroconsult. Ele acrescenta que, com isso, fica mais barato para os Estados Unidos exportarem para a Europa, ganhando competitividade frente ao Brasil. Como resultado da menor exportação, o economista Glauco Carvalho, da MB Associados, acredita que haverá retração na rentabilidade e nos investimentos do setor. "A economia vai perder um de seus motores".

A consultoria estima que o País vai exportar US$ 37,8 bilhões em 2005, queda de 3% em comparação ao ano passado. "Só não cai mais porque a redução da receita da soja será compensada por outros segmentos", avalia. Na contramão, o coordenador de Comercialização do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Eliezer Lopes, acredita que os demais setores podem compensar a queda da soja. Com isso, as exportações do agronegócio crescerão 10%.

A soja é considerada pelos analistas a maior responsável pela redução nas exportações. Em um ano, o preço do grão caiu 35%. Com valores menores, estima-se que a receita seja de US$ 8,6 bilhões, inferior aos US$ 10 bilhões registrados em 2004. No ano passado, o complexo soja respondeu por 25% das vendas externas do agronegócio, tornando-se o principal item da pauta de exportações brasileira. O economista Dernízo Caron, da GRC Visão, diz que em volume, as exportações do grão aumentam, mas caem em receita porque os embarques são maiores no primeiro semestre, período em que os preços tendem a se manter em queda. "A redução na receita vai terá forte impacto na balança comercial do agronegócio", avalia.

Na estimativa da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), o Brasil poderá embarcar 24 milhões de toneladas de soja - aumento de 26,3%. "A safra maior favorece o aumento das exportações, exceto se houver quebra no Sul devido à seca", diz Sérgio Mendes, secretário-executivo da Anec.

Café em alta:

Entre os produtos com boas perspectivas para 2005 está o café. As exportações tendem a crescer 10% em receita - foram US$ 1,8 bilhão em 2004 -, apesar de caírem até 20% em volume. Segundo o diretor do Conselho dos Exportadores de Café (Cecafé), Guilherme Braga, os ganhos com o grão crescem porque os preços estão em fase de recuperação. No entanto, as remessas diminuem ante à safra brasileira menor.

"O complexo carne foi o setor que mais ganhou participação nas exportações em 2004 e a tendência é de aumento dos preços", afirma Caron. Em 2004, a receita com a venda de carnes foi de US$ 6,1 bilhões - crescimento de 50,4% - respondendo por 15% das remessas. "Pretendemos manter a nossa fatia no mercado, como maiores exportadores mundiais", afirma Cláudio Martins, secretário-executivo da Associação Brasileira dos Exportadores de Frangos (Abef). A estimativa é que o setor cresça 10% em volume e até 20% em receita, devido à recuperação dos preços internacionais. China, Coréia do Sul e Malásia são os mercados a serem conquistados.

Juarez Soares, gerente de exportações do frigorífico Quatro Marcos Ltda, acredita em crescimento de 70% das exportações, que superarão as vendas internas no faturamento da empresa. Segundo ele, o bom desempenho em 2005 se deve às novas unidades exportadoras a serem inauguradas e à crescente demanda mundial, com abertura de mercados como a China e a Indonésia.

Também com boas expectativas está o setor sucroalcooleiro. Plínio Nastari, da Datagro, acredita que as receitas com açúcar cresçam 32% e, com álcool, 2%. "O Brasil venderá US$ 3,5 bilhões em açúcar porque o preço internacional está em alta. Por sua vez, conseguirá receita de US$ 530 milhões em álcool devido à demanda maior, principalmente da Tailândia", diz. O Grupo JPessoa pretende aumentar em 10% as exportações de açúcar. "A quebra da safra na Ásia e a menor produção na Europa estão provocando aumento na demanda mundial", avalia José Pessoa de Queiroz Bisneto.

Resultados de 2004:

Em 2004, o agronegócio brasileiro respondeu por 40% das exportações brasileira, totalizando US$ 39 bilhões - alta de 27,3%. "Os preços das commodities estavam mais elevados, houve crescimento da economia mundial, problemas sanitários em concorrentes do Brasil e abertura de novos mercados", explica Eliezer Lopes, coordenador de Comercialização do ministério.

Segundo Lopes, quase metade do crescimento da receita foi decorrente do aumento das vendas para a Ásia (38%), Oriente Médio (33%) e África (51%). Setorialmente, as carnes, o complexo soja, o setor sucroalcooleiro e o café foram importantes para o bom desempenho da balança comercial do agronegócio. Entre os principais produtos, apenas o suco de laranja registrou queda nas remessas (7%), devido aos preços internacionais menores.

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