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Agropecuária brasileira irá demandar mais biotecnologias

Agropecuária brasileira irá depender cada vez mais da aplicação de biotecnologias, segundo participantes do 2º Fórum de Bioeconomia


Vencido o desafio de produzir alimento em larga escala, em terras tidas como imprestáveis para o cultivo agrícola, o Brasil se vê diante de um novo cenário, ainda mais demandante de tecnologias. Para os participantes do 2º Fórum de Bioeconomia, realizado em hotel da zona sul de São Paulo, pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e Harvard Business Review, na quinta (10), a agropecuária brasileira irá depender cada vez mais da aplicação de biotecnologias para conseguir manter as vantagens competitivas e continuar incrementando a produtividade.

As ciências da vida, que servem de base para a bioeconomia, impactam os modos tradicionais de produção de tecnologias na agropecuária, saúde humana e biotecnologia industrial. O uso de bioplásticos na indústria, o desenvolvimento de biocombustíveis, como o etanol brasileiro, e a substituição de adubos químicos pela fixação biológica de nitrogênio são exemplos de tecnologias da bioeconomia.

“O código da vida está começando a permear, alterar e impulsionar cada vez mais diversas áreas da economia. É importante que a América Latina compreenda, adote, se adapte e passe a ter papel de liderança nessas mudanças”, destaca Juan Enriquez, CEO da Biotechonomy e ex-membro do projeto ciências da vida da Universidade Harvard. Segundo dados da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD), a bioeconomia movimenta no mercado mundial cerca de 2 trilhões de Euros e gera cerca de 22 milhões de empregos.

Conceitos de bioeconomia já foram utilizados, no Brasil, para adaptar o gado zebu, a soja e outras culturas de clima temperado às condições tropicais. “A soja brasileira não utiliza fixação química de nitrogênio. Só essa tecnologia paga o investimento brasileiro em pesquisa agropecuária”, salienta o presidente da Embrapa Maurício Lopes, um dos participantes do debate “A contribuição da bioeconomia para o agronegócio”, mediado pelo jornalista William Waack.

A fixação biológica de nitrogênio na soja gera um ganho estimado de seis bilhões de dólares ao ano, valor necessário para o cultivo caso os produtores rurais tivessem que utilizar fertilizantes químicos. Para Pedro Luiz Fernandes, presidente regional da Novozyme Latin America, disseminar o uso de inoculantes na produção de outras leguminosas, como forma de substituir os fertilizantes fósseis pelo uso do nitrogênio biológico, permanece sendo um desafio para a agricultura brasileira.

“Há uma questão cultural e até lobby para que os agricultores não utilizem inoculantes. Alguns agricultores não acreditam na biofertilidade. A Argentina está muito à nossa frente no uso de inoculantes”, enfatiza Fernandes.

Em um cenário de mudanças climáticas e aumento da população mundial, o desenvolvimento e uso de produtos e processos biológicos nas áreas da agropecuária, biotecnologia industrial e saúde humana ganham importância por permitir reduzir o impacto das atividades econômicas no meio ambiente, como ocorre quando um produtor rural substitui adubos químicos por inoculantes.


Além da dimensão cultural e da atuação de grupos de pressão, os participantes do Fórum concordam que o avanço da agropecuária brasileira para a bioeconomia depende de estabilidade nos investimentos. “As ameaças de corte de investimento na Embrapa, recorrente em vários governos”, constituem um problema a mais para o Brasil adotar novas tecnologias e conseguir manter a competitividade no setor agropecuário, enfatiza Decio Zylbersztajn, professor e pesquisador da Universidade de São Paulo.

“O pujante sistema agroindustrial, setor que está segurando a economia brasileira, depende de investimento”, salienta Decio. O pesquisador ressalta ainda o desafio de “refazer o sistema de assistência técnica no âmbito do poder público, desfeito no Governo Collor”.

Entre os avanços já alcançados, Maurício Lopes destaca o zoneamento de risco climático da cana e de outras culturas, iniciativa tida como essencial para que o Brasil comece a se preparar para um cenário de mudanças climáticas. Caso as expectativas se confirmem, as alterações de clima “terão maior impacto no cinturão tropical do globo”, enfatiza Lopes.

Para Lopes, a matriz energética brasileira, composta por 47% de fontes renováveis, tende a avançar ainda mais em sustentabilidade com o uso de novas tecnologias de biomassa. Além do etanol celulósico, a Embrapa pesquisa sorgo sacarino para diminuir a dependência do etanol da cana e ampliar o tempo de uso das usinas.

Como forma de lidar com o novo cenário, Lopes enfatiza ainda a importância do Programa de Agricultura de Baixo Carbono e a necessidade de avançar em sistemas de inteligência estratégica, uma das ações postas em prática pela Coréia do Sul para dar um salto de desenvolvimento.

O diretor de políticas e estratégia da CNI, José Augusto Fernandes, destacou no encerramento do Fórum que o documento “Bioeconomia, uma agenda para o Brasil” deve servir de incentivo para que políticas públicas sejam executadas. As áreas estabelecidas como prioritárias para o setor de agroindústrias foram biotecnologia azul, bioreatores, reprodução vegetal e animal assistida, biotecnologia florestal, coleta e conservação de germoplasma, plantas resistentes a estresses abióticos e bióticos, organismos geneticamente modificados e bioprospecção.

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