Água está no centro de disputa no Vale do Sinos/RS
Lavouras consomem menos graças a investimentos
A disputa por um bem natural cada vez mais escasso, a água, colocou prefeitos e produtores rurais do Vale do Rio dos Sinos em rota de colisão neste início de verão. Preocupados com dificuldades de captação a cada estiagem, como a que estão enfrentando agora, administradores ligados à Associação dos Municípios do Vale do Rio dos Sinos (AMVRS) e ao Consórcio Público de Saneamento Básico da Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos (Pró-Sinos) passaram a defender o fim do bombeamento para as plantações de arroz na região.
Os agricultores ficariam com a opção de investir em reservatórios próprios, abastecidos pela chuva, ou migrar para outras culturas. Entidades ligadas ao agronegócio reagiram sugerindo que os municípios façam barragens para regular a vazão em época de enchentes e armazenar água para os períodos de seca. O palco do confronto tem sido as reuniões e audiências em diversos órgãos públicos voltados ao problema da estiagem e também as entrevistas dos dois lados à imprensa. O tema será levado formalmente ao Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos (Comitesinos), à Secretaria Estadual do Meio Ambiente e à Fundação de Proteção Ambiental do Estado (Fepam), avisa o presidente do Pró-Sinos, Ary Vanazzi, também prefeito de São Leopoldo. Se vingar, a proposta prevê que a captação para a lavoura seja reduzida 25% a cada ano, de 2012 a 2015, quando seria suspensa.
O problema na disputa de prefeitos e arrozeiros é que a lavoura é cultivada de outubro a fevereiro, período que coincide com boa parte do verão e, consequentemente, com o pico de demanda de água para o consumo humano. Os prefeitos usam dados do Departamento de Recursos Hídricos para sustentar que as lavouras são responsáveis por 60% do consumo desta época do ano, enquanto o abastecimento público fica com 26%.
Também observam que o plantio de arroz, feito por 47 produtores com outorga para retirar água dos rios, tornou-se uma atividade econômica secundária na maioria dos municípios da região. "Queremos resolver esse problema suspendendo a retirada de água da bacia para as lavouras", afirma Vanazzi, que admite, como alternativa, que os produtores peçam linhas de financiamento para açudes ao governo federal.
O presidente de Federação dos Arrozeiros do Estado (Federarroz), Renato Rocha, diz que o consumo atual das plantações corresponde à metade do que é informado pelos prefeitos graças a investimentos em tecnologia que reduziram a demanda por água. Também lembra que cada safra gera renda, por atividades diretas ou indiretas, a duas mil famílias. Ao mesmo tempo em que sustenta que os agricultores fizeram sua parte, investindo em melhorias, os prefeitos ainda não enfrentaram um problema ainda maior, o da poluição, e sugere que eles trabalhem para construir grandes barragens no percurso do rio. "A solução não é procurar culpados, mas um plano de investimentos para reservar água do período de abundância", diz, destacando que o volume de chuva na bacia chega a 1,8 mil milímetros por ano.
A construção de barragens no Sinos foi objeto de estudo feito pela Magna Engenharia para o Estado há dois anos. O custo de quatro represas foi estimado em R$ 800 milhões, em um cálculo que não considerou despesas como indenizações. "Isso é muito elevado para quem tem muitas outras urgências", afirma Vanazzi, que destaca os investimentos de R$ 900 milhões em obras de saneamento que São Leopoldo e municípios vizinhos estão fazendo. Técnicos ligados ao assunto também admitem que as represas enfrentariam resistências de comunidades, formadas por pequenos produtores, que não gostariam de ver suas áreas alagadas.