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Álcool supera a rentabilidade do açúcar


O ano-safra ainda não acabou, mas, depois de três safras, o álcool deverá passar uma rasteira no açúcar e remunerar mais as usinas brasileiras. Desde setembro de 2004, vender o combustível no mercado interno está sendo mais lucrativo para as indústrias do que comercializar o açúcar. "Na primeira semana do ano, por exemplo, o álcool leva uma vantagem de 13% na região Centro-Sul, mas a diferença chegou a bater nos 18% ao longo da safra", afirma Júlio Maria Borges, analista da Job Economia.

O consultor lembra que a oferta e demanda para o combustível ficou apertada ao longo do ano, com aumento significativo nas vendas de carros flexfuel - grandes responsáveis pelo aumento do consumo de etanol -, e o crescimento do uso do "rabo de galo", prática popular em que o consumidor abastece carros a gasolina com um percentual de álcool.

"Além disso, as exportações ficaram acima do previsto. Em maio, no início da safra, projetávamos embarques entre 1,9 bilhão e 2 bilhões de litros, mas esse volume certamente foi superado", diz Borges. As estimativas do mercado, no entanto, indicam que os embarques brasileiros de álcool em 2004 devem totalizar 2,2 bilhões de litros.

Mas não foi só o mercado externo que demandou mais. No mercado interno, o consumo cresceu. Apesar disso, não faltou combustível porque a supersafra de cana garantiu o abastecimento.

Apesar da projeção mais favorável ao álcool, algumas usinas informam que a rentabilidade dos dois derivados da cana está muito próxima uma da outra. "As usinas não têm que fazer essa conta. Nossa responsabilidade é produzir combustível", afirma Maurílio Biaggi, presidente da Usina Moema, ao lembrar que, no seu caso, o açúcar ainda leva uma ligeira vantagem em comparação ao combustível.

Mercado externo:

Além de perder para o álcool, o açúcar também está menos rentável no mercado interno do que no externo. Dados do Centro de Pesquisas Avançadas em Economia Aplicada (Cepea) mostram que, ao exportar, as indústrias conseguiram na primeira semana do ano 2% a mais do que se tivessem vendido seu açúcar no mercado interno, fato incomum, já que estamos em plena entressafra brasileira, período que o mercado interno costuma remunerar melhor do que o externo. O indicador do Cepea fechou a primeira semana de 2005 a R$ 29,98 a saca de 50 quilos. Na primeira semana do ano passado, por exemplo, os preços do mercado interno levavam vantagem de 18% em relação às exportações.

Alta rentabilidade:

A nova realidade não está acontecendo por acaso. Em 2004, o açúcar foi a commodity que mais se valorizou no mercado internacional. Entre janeiro e dezembro do ano passado os preços o açúcar na Coffee, Sugar and Cocoa Exchange (CSCE), de Nova York, subiram 56,7%. "Enquanto isso, no Brasil, os preços do açúcar estão com relativa estabilidade desde o começo da safra", afirma Heloisa Lee Burnquist, pesquisadora do Cepea, ao lembrar que o mercado externo não remunerava mais que o interno desde o mês de outubro do ano passado.

Sem sofrer grandes oscilações ao longo do ano passado, as cotações do açúcar não deverão subir a partir de agora, segundo Heloisa. "As usinas irão antecipar novamente a colheita da safra para atender ao aumento da demanda de álcool e com isso anteciparão também a produção de açúcar", diz a pesquisadora.

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