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Algodão em agrofloresta quer transformar a indústria têxtil

Sistema agroflorestal combina algodão, frutas e espécies madeireiras


Foto: Divulgação

Uma parceria entre o hub de inteligência florestal Pretaterra e a com a Farfarm, empresa brasileira especializada em projetos de supply chain regenerativos, foca no cultivo de algodão em sistemas agroflorestais. 

A iniciativa de produção algodão orgânico em agrofloresta fornece uma fibra que pode reduzir as emissões de GEE em 58% em relação ao cultivo do algodão convencional, além de permitir o cultivo de outras espécies secundárias de valor ecológico e econômico. Além disso apóia pequenos produtores, gerando baixo impacto socioambiental.

A iniciativa começou com um diagnóstico da propriedade parceira, localizada no município de Montes Claros (MG). “Partimos da análise criteriosa das condições edafoclimáticas locais para estabelecer um projeto adequado às oportunidades e realidades da região, tendo em mente a necessidade de fixar como foco uma única mercadoria: o algodão regenerativo”, relata comenta Valter Ziantoni, cofundador da Pretaterra.

O projeto agroflorestal foi elaborado na propriedade, criando um sistema integrado com linhas florestais, além de um guia detalhado para o plantio e o manejo das espécies escolhidas. Foi desenhado um sistema com 16 espécies selecionadas entre frutíferas (coco, mamão, abacaxi), plantas de adubação verde (feijão guandu), espécies madeireiras (angico e aroeira verdadeira) e, claro, o algodão. “Nesse caso, planejamos uma produtividade de 150-160 kg de pluma/ha, uma projeção numérica usada como critério e base para o estabelecimento do restante do sistema”,  conta Paula Costa, cofundadora da Pretaterra.

O objetivo é congregar fatores ecológicos e econômicos, diversidade e sistematização operacional. Todas as premissas utilizadas criam um sistema inteligente e diverso que melhora a qualidade intrínseca do solo e das plantas, associa resiliência ambiental e produtiva, com oportunidade de mercado e satisfação de consumidores conscientes.

“Nossos próximos desafios consistem no desenvolvimento da cadeia do algodão regenerativo no estado do Mato Grosso e na capacitação da cadeia de produtos alimentícios de origem agroflorestal” nos conta Pedro Saldanha, cofundador da Farfarm.

O projeto agroflorestal de algodão orgânico concebido com a Farmfarm possui enorme potencial em contribuir com a construção de uma lógica de economia regenerativa em torno da indústria têxtil que alimenta a indústria da moda. “Com uma mudança sistêmica e estrutural, a indústria da moda pode tirar milhões de pessoas da pobreza ao criar meios de vida decentes e dignos. Pode conservar e restaurar o meio ambiente. Pode inspirar e ser uma grande fonte de alegria, criatividade e expressão para indivíduos e comunidades. Nosso trabalho visa contribuir com os esforços globais de sustentabilidade na indústria da moda em direção à regeneração do meio ambiente e à valorização das pessoas acima do crescimento e do lucro a qualquer custo” conclui Paula.

A solução para a sustentabilidade da agricultura brasileira vem de lições dadas pela própria natureza. “Para que esse salto de produção da fibra nacional tenha sustentabilidade social, econômica e ambiental, ele precisa estar aliado ao aumento da biodiversidade do sistema de cultivo. Isso é fato e já vem sendo feito com a rotação de culturas e introdução de outras espécies na lavoura algodoeira tradicional. Mas temos que ir muito além e a produção de algodão em sistemas agroflorestais é o próximo passo lógico na busca por uma indústria têxtil de fato regenerativa, capaz de apoiar a reversão da crise climática, que se torna cada vez mais evidente”, finaliza Ziantoni.

O clima tropical brasileiro permite o cultivo do algodão ao longo de todo ano, mas traz desafios como o ataque de pragas, doenças e plantas daninhas com uma severidade maior do que observado em climas temperados. Com o aumento das pragas, aumenta a aplicação de defensivos e, consequentemente, o surgimento de mecanismos de resistência, tornando-os obsoletos rapidamente. Uma vez ativado, esse ciclo vicioso obriga o agricultor a investir uma parte cada vez maior do seu lucro na compra de defensivos e fertilizantes, um processo insustentável a longo prazo. Mundialmente, o algodão é a quarta cultura que mais consome agrotóxicos, cerca de 25% do total produzido. No Brasil, de todo agrotóxico consumido, 10% é aplicado nos sistemas de cultivo tradicional do algodão.
 

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