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Argentino paga à vista pela compra de trator


Apesar da inexistência de crédito na Argentina, setores ligados à cadeia do agronegócio no país vizinho voltaram a comprar do Brasil. E pagam no ato ou até de forma adiantada, como relatam diretores do grupo Randon, de Caxias do Sul (RS), da Agco do Brasil, sediada em Canoas (RS), John Deere Brasil, de Horizontina (RS).

O diretor de Exportações da Agco, André Rorato, entende que a capitalização dos agricultores argentinos ocorreu a partir da depreciação do peso em relação ao dólar, valorizando as commodities e estimulando as exportações. Ao mesmo tempo, observa, as dívidas contraídas pelos produtores permaneceram pesificadas, sendo reduzidas a um terço do valor da época da paridade com o dólar. "Os argentinos, sem confiança no sistema financeiro, nessa época do ano passado preferiram estocar a soja a vendê-la para colocar o dinheiro no banco. Depois, os preços subiram ainda mais em Chicago", acrescenta o diretor comercial da John Deere para a América Latina, Martin Mundstock.

"Os argentinos estão pagando à vista. Eles não têm crédito, mas têm dinheiro na mão, uma liquidez invejável", observa o diretor Corporativo e de Relações com Investidores do grupo Randon, Astor Schimtt. "Eles têm de transportar a safra e o dinheiro migra no sistema", acrescenta Schmitt, referindo-se ao ramo de implementos rodoviários, setor em que a empresa gaúcha é líder na Argentina.

No primeiro trimestre, somente as exportações de semi-reboques do grupo gaúcho para a Argentina ultrapassaram a metade do projetado para o ano. Incluindo peças, as vendas para o principal parceiro do Mercosul nos três primeiros meses de 2003 somaram US$ 1,07 milhão. Ano passado, no mesmo período, foram de US$ 366 mil.

No caso das indústrias de máquinas agrícolas, o modo de compra é ainda mais revelador quanto ao poder aquisitivo atual dos produtores argentinos. "Eles pagam 60% no pedido e 40% na entrega. É melhor do que à vista", constata Rorato. "Os agricultores são os novos ricos da Argentina", diz o diretor da empresa fabricante dos produtos Massey Ferguson, com fábrica de tratores em Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre, e de colheitadeiras em Santa Rosa, no Noroeste gaúcho.

No primeiro quadrimestre, a Agco vendeu 300 colheitadeiras para a Argentina, cada uma a um preço médio de US$ 110 mil. No mesmo período de 2002, foram míseras 13 unidades. "As vendas de máquinas agrícolas para a Argentina estão aquecidas. E eles vão comprar ainda mais, porque estão com uma frota sucateada", prevê Rorato.

"Além de estarem com a renovação de frota atrasada, os argentinos estão expandindo a área de soja", diz Mundstock. Com a John Deere, os produtores do país vizinho pagam em média 32% do total no pedido e o restante na entrega. "Até abril de 2002, vendemos 1 trator e três colheitadeiras. Neste ano, foram 150 tratores e 332 colheitadeiras", afirma.

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