As 10 tendências da sustentabilidade que afetarão o agro
Pesquisa e políticas públicas são melhores saídas para setor
O agro é um dos setores que mais pode ser economicamente afetado pelas 10 principais tendências relacionadas à sustentabilidade, segundo novo estudo da auditoria e consultoria KPMG. “Embora setores como petróleo sejam mais vulneráveis às megaforças, as receitas são maiores e o impacto financeiro é menor do que no agro”, explica o gerente sênior de serviços em mudanças climáticas e sustentabilidade da KPMG no Brasil, Ricardo Zibas.
Obviamente, muitas dessas grandes tendências abrem grandes oportunidades para o agro, especialmente o brasileiro [veja o quadro abaixo]. Mas é preciso que as companhias e os empresários do setor no Brasil sejam mais ativos para antecipar essas tendências, alerta Zibas. “Vejo o agro aqui mais reativo e sem planejamento, apenas adotando medidas para evitar barreiras não-tarifárias e para atender exigências dos clientes.”
Parte dessa cultura pode ser explicada pelo fato de as empresas do setor não enxergarem os impactos da sustentabilidade nos resultados financeiros. Mas isso está mudando, segundo o estudo da KPMG, à medida que as leis e o mercado passam a cobrar mais para que as companhias compensem seus impactos ambientais.
Um estudo da Trucost citado pela KPMG mostra que, em 2010, o custo global dos impactos ambientais da produção de alimentos foi mais que o dobro do lucro operacional do setor inteiro. Para os autores do estudo da KPMG, está claro que os produtores não arcarão com todo esse custo sozinho e terão que repassar parte dele para os consumidores.
Mas Zibas ressalta que as empresas que estiverem mais preparadas terão custos mais baixos para se adaptar. “Um exemplo é a mensuração da pegada de carbono: colocar um sistema desses em funcionamento da noite para o dia para atender uma exigência custa muito mais que fazer a mesma coisa com planejamento”, cita ele.
O caminho tecnológico
Se por um lado o agro brasileiro pode estar sendo muito reativo, Zibas diz que, por outro, os próprios cientistas já subestimaram os ganhos tecnológicos de que esse setor é capaz. “Nos anos 1970, autores acreditavam que metade da população mundial morreria de fome antes dos anos 1990, mas o setor teve um salto de produção”, recorda.
É por isso que os autores do estudo da KPMG indicam a pesquisa e o desenvolvimento como principal saída para o agro responder às 10 megaforças. Mas o foco da pesquisa agropecuária deve ser ampliado, alertam: “Os produtores de alimentos não deveria focar apenas no aumento da produtividade por meio de produtos geneticamente modificados, mas também ampliar o escopo do investimento em pesquisa e desenvolvimento para melhorar o uso de recursos”.
Além disso, também é preciso melhorar as formas de medir os impactos ambientais do agro. “Para competir nesse novo mundo, não basta dizer que faz, é preciso comprovar”, diz o gerente da consultoria.
Na visão dele, esse processo ainda é incipiente e deveria começar com a criação de padrões e indicadores globais de sustentabilidade para o setor. Atualmente, há diversos padrões estabelecidos por compradores ou entidades privadas que dizem respeito a apenas alguns critérios de sustentabilidade e que se aplicam a apenas algumas cadeias produtivas. “Falta um diagnóstico amplo de onde estamos para saber o que precisa ser feito; não tem como curar sem ter um termômetro para medir a febre”, compara Zibas.