O esforço da Embrapa em melhoramento genético vegetal se inicia com a ampliação, conservação, compreensão e exploração de todo o seu estoque de recursos genéticos, não só para potencializar a eficiência de seus programas atuais de melhoramento genético, mas também para garantir a segurança alimentar do país no futuro. Esta estratégia tem permitido a disponibilização de sementes melhoradas, uma tecnologia de baixo custo e de fácil adoção, pois impacta positivamente a exploração agrícola pelo aumento da produtividade e redução da utilização de defensivos agrícolas, que podem contaminar o ambiente. Inúmeros são os exemplos de avanços em melhoramento genético de plantas promovidos pela Embrapa ou com a sua participação.
Atualmente o Brasil cultiva a metade da área que era semeada com arroz em 1987. Mas, mesmo assim, continua produzindo a mesma quantidade de grãos, 10 a 11 milhões de toneladas, totalmente voltadas para o abastecimento do mercado interno. Foram cerca de três milhões de hectares disponibilizados para a produção de outras espécies. Entre as principais causas da duplicação da produtividade média nacional, sobressai a disponibilização de 41 novas cultivares mais resistentes a doenças e ao acamamento, de melhor qualidade de grãos e de maior capacidade de respostas à melhoria ambiental.
Neste período, consolida-se a utilização de cultivares modernas, características da denominada "revolução verde", mas selecionadas nas condições brasileiras e portadoras dos atributos requeridos pela nossa sociedade consumidora. Em arroz de terras altas também se verificou a substituição das cultivares de arquitetura tradicional pelas cultivares que dominam o mercado atualmente, com melhor arquitetura de planta e com características de grãos exigidas pelo mercado.
A relação custo x benefício deste esforço mostrou que para cada dólar investido no desenvolvimento destas cultivares houve um retorno de 25 dólares. A melhoria das técnicas de produção de arroz, constitui um bom exemplo de como a sociedade se beneficia com o investimento em ciência e tecnologia, que permitiu reduzir o preço do arroz dos 48 dólares no início da década de 70 para os atuais 12 a 15 dólares por saca de 60 kg e conferindo rentabilidade ao produtor.
O feijão é o alimento protéico básico da dieta diária do brasileiro, caracterizando o Brasil como o maior consumidor e produtor mundial. A contribuição do melhoramento genético está inserida nos 63% de aumento na produtividade do feijoeiro de 1990 a 2002, em um cenário de decréscimo de 27% da área plantada e acréscimo de 20% na produção nacional. Nos últimos 20 anos a Embrapa lançou, em parceria com instituições do setor público, 30 novas cultivares de feijoeiro comum com os mais diversos tipos comerciais de grão, com maior potencial produtivo e apresentando resistência às principais doenças, o que impactou na redução dos custos de produção, melhoria da rentabilidade e da sustentabilidade ambiental.
A relação custo x benefício deste esforço mostrou que para cada um dólar investido no desenvolvimento destas cultivares houve um retorno de 10 dólares. Permanecem ainda desafios que visam tornar o feijoeiro mais produtivo e competitivo no sistema agrícola para assegurar seu "status" de importância e sustentabilidade no agronegócio: resistência à doença mosaico dourado que irá retornar 180 mil hectares ao sistema produtivo de feijoeiro comum, cultivares com grãos que agreguem valores de qualidade protéica e funcional e que aliem alta produtividade e maior estabilidade de produção e que apresentem resistência mais estável às doenças.
Maria José Del Peloso ([email protected]) e Orlando Peixoto de Morais ([email protected]) - Pesquisadores da Embrapa Arroz e Feijão