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Biodiesel ainda mantém alta dependência da soja

O grão foi a base para a produção de 949 milhões de litros de biodiesel no ano passado


A adição de biodiesel ao combustível comum, praticada no país desde janeiro de 2008, ajudou o Brasil a reduzir sua dependência do diesel mineiral importado, mas ainda não conseguiu cumprir uma de suas principais metas: diversificar a matriz energética nacional para a produção de combustível limpo. A soja ainda é o carro-chefe. O grão foi a base para a produção de 949 milhões de litros de biodiesel no ano passado, o equivalente a 81% dos 1,17 bilhão de litros de B100 fabricados no país.

A participação da soja na matriz energética dos biocombustíveis vem caindo, mas o ritmo da diversificação ainda está abaixo do desejado. Há um ano e meio, em janeiro de 2008, o porcentual chegava a 90%. Na época, ainda vigorava o B2, adição obrigatória de 2% de diesel vegetal ao combustível fossil. A mistura foi incrementada para 3% na metade de 2008 e, neste ano, o programa entrou em uma nova fase. Desde o início do julho, todo o combustível vendido nas bombas do postos de gasolina do país precisa, obrigatoriamente, conter 4% de biodiesel.

Conforme estimativa do Ministério de Minas e Energia (MME), que coordena o Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB), a chegada do B4 vai gerar uma demanda adicional de 420 milhões de litros, aumentando o consumo brasileriro de biodiesel para 1,26 bilhão de litros. O consumo adicional vai permitir que o Brasil diminua sua dependência do diesel importado, feito a partir do petróleo. O país consome anualmente cerca de 40 bilhões de litros de diesel fossil e, para suprir a demanda, importa 5% a 10% desse volume. O Paraná responde por aproximadamente 10% do consumo nacional, e importa cerca de 5% do que consome.

Outro ponto positivo é que o aumento da mistura irá elevar a produção nacional e, assim, diminuir a capacidade ociosa da indústria. Dados do MME mostram que as 51 usinas instaladas no Brasil poderiam produzir até 3,7 bilhões de litros do combustível por ano, mas utilizam apenas pouco mais de 30% dessa capacidade. A ociosidade é ainda maior no Paraná, que utiliza apenas 12% do seu potencial. A indústria instalada no estado tem capacidade para fabricar até 68,4 milhões de litros por ano, mas no ano passado gerou apenas 8,35 mil litros.

O Paraná tem hoje três empresas que fabricam biodiesel, todas no município de Rolândia (Norte), e outra em Marialva, que deve entrar em operação no final do ano. Dessas, apenas uma tem atualmente produção comercial, de cerca de 2 mil litros/mês. No primeiro semestre de 2009, essa empresa gerou 7,3 mil litros de biodiesel. A produção é verticalizada, o que quer dizer que a indústria compra óleo de soja, e não soja em grão in natura, para fabricar o combustível.

Todos esses números mostram que o cronograma do PNPB vem sendo cumprido, que o país já avançou muito nesta área e que os benefícios trazidos pelo programa são inegáveis. Mas, por outro lado, indicam também que, apesar de todos os esforços do governo e do setor produtivo, a viabilidade do biodiesel ainda depende da soja. Atualmente, além do grão, apenas o sebo bovino tem alguma representatividade. No ano passado, foi a matéria-prima usada para a produzir 16% do biodiesel brasileiro.

Mamona e pinhão-manso, as principais apostas do governo federal para alavancar o programa nacional de biocombustíveis, por enquanto, ainda são só promessas. No balanço da matriz energética brasileira, fazem parte de um grupo que inclui também outras fontes como algodão, canola e girassol e que responde por apenas 2,6% do biodiesel produzido no Brasil no ano passado.

“Poderíamos triplicar a nossa produção de biodiesel só com a soja, mas queremos incentivar outros cultivos, outras matérias-primas”, afirma o coordenador do PNPB, Arnoldo Ana­cleto Campos. A alta dependência da soja preocupa porque, além de ter baixo teor de óleo quando comparada a outras oleaginosas como o amendoim, ela é usada na alimentação humana e animal. “Todas as oleaginosas, inclusive a soja, têm sinergia positiva com o setor de alimentos. Não há competição. Isso é muito mais uma disputa comercial entre os países do que competição por área no Brasil”, defende Campos.

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