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Biodiversidade é tendência na culinária e tema de Workshop sobre Nichos de Mercado

O país tem uma imensa diversidade cultural e de plantas que podem ser aproveitadas na culinária.


No Brasil, a culinária tem vários sotaques e muitos ingredientes e é assim porque o país tem uma imensa diversidade cultural e de plantas que podem ser aproveitadas na culinária. Entretanto, um maior aproveitamento das matérias-primas de espécies nativas esbarra em alguns desafios que precisam ser superados por todos os envolvidos na cadeia produtiva.

Para discutir sobre estes desafios e conhecer o que está dando certo no aproveitamento da utilização das espécies nativas brasileiras, a Embrapa promove, nos dias 21 e 22 de setembro de 2016, o Workshop Nichos de Mercado para o Setor Agroindustrial, que este ano traz o tema biodiversidade brasileira, e vai tratar sobre conhecimentos, tecnologias e negócios em dois segmentos: “Alimentos dos biomas do Brasil” e “Cosméticos e fragrâncias”.

O objetivo do evento é proporcionar a articulação e discussão entre os participantes, identificar as oportunidades de negócios relacionados às cadeias produtivas de nichos, com enfoque em produtos advindos de espécies nativas, além de promover a cooperação entre os participantes e a Embrapa, criando alternativas de ampliação desse mercado e a inserção de novos empreendedores no segmento.

Na dinâmica do workshop serão apresentadas palestras, estudos de caso, painéis e debates sobre oportunidades de mercado para produtos da biodiversidade brasileira, políticas públicas para o aproveitamento responsável destes produtos, bem como o conhecimento sobre o uso de matérias-primas de espécies nativas, como frutas, castanhas, palmitos, peixes e recursos florestais não madeireiros nativos.
 
Gastronomia
Entre o sul e o norte do país existe uma rica biodiversidade que precisa ser descoberta, pesquisada e utilizada na culinária e na indústria alimentícia. O baru, uma castanha nativa da região centro-oeste, e a cagaita, fruto muito usado em sucos e doces na região, são praticamente desconhecidos por muitos brasileiros.

Uma das convidadas do Workshop Nichos de Mercado para o Setor Agroindustrial, que vai apresentar o Estudo de caso “Brasil a Gosto: uma experiência gastronômica com ingredientes brasileiros”, é Ana Luíza Trajano, chef e proprietária do restaurante “Brasil a Gosto” que decidiu pesquisar a culinária do Brasil depois de estudar gastronomia na Itália e sentir a paixão do povo italiano pela sua cultura gastronômica.

Ela percebeu, ainda na Itália, que isso também poderia acontecer no seu país e voltou disposta a contribuir para a valorização dos produtos de sua terra e há 15 anos ela vem se dedicando a redescobrir e divulgar a culinária baseada em produtos regionais nativos, com incursões Brasil adentro para aprender e ensinar um pouco da culinária de raiz do povo brasileiro.

Segundo Renata Moura, jornalista e produtora, que há um ano acompanha Trajano em suas expedições pelo país, "a comida brasileira tem sido colocada em segundo plano, o brasileiro aprecia sua comida regional, mas, quando recebe uma visita e quer causar boa impressão, acaba optando por comidas de origens diversas da sua, como um soufflé ou um risoto, e esquece seus pratos tradicionais à base de mandioca e outros ingredientes nativos”.

Ana Luiza Trajano ratifica a fala de sua produtora e complementa “está na hora de resgatar nossos ingredientes, estamos perdendo espaço da nossa culinária, mas, ainda é tempo de reconstruir nossa gastronomia e os chefs têm contribuído para isso, criando novas receitas, inserindo alguns ingredientes de espécies nativas adormecidos na memória afetiva do paladar brasileiro, criando uma nova tendência”.

Outro entusiasta dos frutos brasileiros é Douglas Bello, que em seu sítio em Paraibuna tem 50 espécies de frutos nativos brasileiros. Um deles é o cambuci, fruto típico da mata atlântica paulista. Em sua propriedade ele tem em torno de 500 pés da fruta, junto com outras árvores nativas. O cambuci é muito utilizado no preparo de sucos e sorvetes, podendo ser desenvolvidas geleias e polpas para sucos. Na programação do Workshop, Douglas Bello participa com o Estudo de Caso “Sítio do Bello: uma experiência de produção de frutas de espécies nativas brasileiras”.
 
Araucária, pupunha e erva-mate
 
Quem viajava para Curitiba há uns 30 anos atrás podia perceber a chegada à cidade quando avistava árvores de araucárias pontuando a estrada, mas hoje, o pinheirinho, como é conhecida a araucária no Paraná, está na lista oficial do Ibama de espécies da flora brasileira ameaçadas de extinção por causa do uso intensivo da espécie para obtenção de madeira.
 
Entretanto, suas sementes, conhecidas como pinhão, alimento nutritivo e rico em carboidratos, fibras, minerais e vitaminas do complexo B, são muito apreciados no sul do país e não é necessário derrubar a árvore para se consumir a semente. 

A pupunha, palmeira nativa da Floresta Amazônica, tem se mostrado uma alternativa para o mercado de palmito, com sustentabilidade econômica e ambiental já que, diferente do palmito tradicional, proveniente da exploração de espécies nativas como a palmeira juçara, que morre após a colheita do palmito, a pupunha, além de perfilhar, isto é, emitir novos brotos, ela começa a produzir palmito a partir de 18 meses após o plantio e continua produzindo por pelo menos mais 10 anos, e essa é apenas uma entre as várias vantagens da pupunha em relação ao palmito tradicional.

O açaí, fruto nativo da Amazônia, amplamente conhecido no país, despertou o interesse por suas propriedades nutricionais, já que é um alimento rico em proteínas, fibras, lipídios, minerais, como manganês, cobre, boro e cromo, além de vitamina “E’’, um antioxidante natural que atua na eliminação dos radicais livres. 

Estes exemplos de produtos da biodiversidade e seus usos atuais só comprovam o que Daniela Beltrame, coordenadora nacional do projeto “Biodiversidade para Alimentação e nutrição” (BFN), do Ministério do Meio Ambiente, vem constatando desde que atua no projeto, que tem como objetivo a conservação e a promoção do uso sustentável da biodiversidade em programas que contribuam para melhorar a segurança alimentar e a nutrição humana.

“Observo que a questão da conservação tem caminhado junto com a valoração comercial do produto. Se o produto da biodiversidade tem valor comercial e sua cadeia de produção começa a se organizar e se desenvolver essa roda vai girar e as pessoas ficam mais propensas a conservar”, afirma Beltrame. 

Vanderley Porfírio-da Silva, pesquisador da Embrapa, tem opinião semelhante sobre a conservação. Ele atua na área de transferência de tecnologia da Embrapa Florestas, em Colombo (Paraná), e no Workshop vai apresentar o painel “Pesquisa, conhecimentos e tecnologias da Embrapa em pupunha, araucária e erva-mate”. 

Porfírio defende a ideia de pesquisar novos usos para os produtos nativos que já viveram seu auge, como no caso da erva-mate, que hoje tem sido alvo de pesquisas para seu aproveitamento também na cosmética e numa gama de produtos que vão além da alimentação.

“A pesquisa de novos usos potenciais dos diferentes produtos nativos, e a consequente valorização dessas plantas, é uma forma de manter viva aquela espécie e este Workshop “Nichos de mercado para o setor agroindustrial” traz essa visão de novos usos e oportunidades de conhecimento de pesquisas e negócios com a biodiversidade brasileira”, afirma o pesquisador.

Os públicos-alvo do “Workshop Nichos de Mercado para o Setor Agroindustrial” são empresários e industriais do setor agrícola e afins, distribuidores varejistas e atacadistas, produtores rurais, representantes do setor de produção de sementes e mudas, profissionais da área de gastronomia, empreendedores, agentes de instituições de fomento, agentes de órgãos reguladores, formadores de opinião e estudantes universitários.
 
O Workshop conta com o patrocínio da Agrocinco e do Banco do Brasil e tem apoio institucional de associações, como a Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (ABIA), Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC) e Instituto de Pesquisas e Estudos da ABIHPEC, Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Essenciais, Produtos Químicos Aromáticos e Afins (ABIFRA), Associação Brasileira das Indústrias e do Setor de Sorvetes (ABIS) e Associação Brasileira de Piscicultura (PeixeBR).
 
O Sebrae, a Universidade São Francisco (USF), os projetos Microbacias II, da Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo, e o BFN (Biodiversidade para Alimentação e Nutrição), vinculado ao Ministério do Meio Ambiente, os Bares Quintana e Veríssimo, a Pró-Reitoria de Pesquisa e a Faculdade de Engenharia Agrícola ambas da Unicamp, também apoiam o evento.
 
As inscrições para o workshop e informações detalhadas estão disponíveis no site: www.embrapa.br/workshopnichos2016
 
Serviço:
Evento: Workshop Nichos de Mercado para o Setor Agroindustrial.
Tema do Evento: “Espécies nativas do Brasil: conhecimentos, tecnologias e negócios”
Data: 21 e 22 de setembro de 2016.
Horário: 8h00 às 18h00.
Local: Auditório 5 FCM/Unicamp
Endereço: Rua Albert Sabin. s/nº – Cidade Universitária “Zeferino Vaz”
Distrito de Barão Geraldo - Campinas, SP

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