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Biotecnologia pode tornar cana competitiva

Setor canavieiro, um dos mais antigos do país, enfrenta desafios para expandir


Foto: Arquivo Agrolink

A produção de cana-de-açúcar já foi uma das mais importantes atividades econômicas do Brasil. Está presente desde o século XVI, quando os primeiros engenhos de açúcar substituíram a exploração do pau Brasil. Ao longo dos anos o setor canavieiro descobriu o etanol, a mecanização, a geração de energia com biomassa, o reaproveitamento da vinhaça e caminha para novas frentes tecnológicas. 

Especialistas de diversos setores estiveram reunidos em uma livre promovida pela Embrapa Agroenergia, nesta quinta-feira (16), para discutir as “Inovações em cana-de-açúcar”. Um dos principais assuntos na pauta foi a biotecnologia. 

Por onde passa a tecnologia?

Como indústria, setor privado, pesquisa e setor produtivo olham para esse desafio? Para o Diretor de Negócios da Syngenta, Leandro Amaral, a tecnologia é fundamental para fortalecer o setor posicioná-lo como puxador da sustentabilidade tão requerida mundialmente na atividade agrícola. O executivo considera dois pilares. O primeiro é a competitividade. A adoção de novas tecnologias em cana-de-açúcar tem que levar em consideração competitividade, com maior produção, menor custo por hectare com ganho agronômico e se tornar rentável em relação a outras culturas. O segundo ponto é a própria sustentabilidade. O setor precisa conviver , além da pandemia, com as mudanças climáticas e geração de energias renováveis. “Isso é mais do que um desafio, é uma oportunidade. O setor canavieiro tem condição de abraçar questões que são globais, passando por pesquisa e inovação, desenvolvimento de novas soluções e capital humano”, reforça.

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Outro desafio está no desenvolvimento da matriz industrial do setor, especialmente no etanol. Hoje o setor produz de 5 a 7 mil litros de etanol por hectare e precisaria dobrar esse número para ser competitivo e trazer resultados que motivem. “Precisamos fechar parcerias e trazer os resultados das pesquisas para o conhecimento dos gerentes. Teremos um nacionalismo forte nos países, então se continuarmos abastecendo nossos veículos com petróleo importado estaremos sendo burros”, afirmou o Presidente Executivo da União Nacional da Bioenergia (UDOP), Antonio Salibe.

Para auxiliar o meio ambiente o RenovaBio veio como boa alternativa. O programa do Governo Federal, lançado em dezembro de 2016, quer expandir a produção de biocombustíveis no Brasil e já tem muitas usinas que aderiram. Os investimentos no setor sucroenergético, entre 2020 e 2030, são estimados entre R$ 60 e 70 bilhões. Luís Scabello, diretor da Federação dos Plantadores de Cana do Brasil (Feplana), acredita que a cultura vai ganhar muito espaço na redução da pegada de carbono. “Haverá um momento em que teremos que reduzir o consumo de nitrogenados e derivados de petróleo”, disse. Ele aposta que isso trará uma grande abertura para o setor utilizar as novas tecnologias.

Biotecnologia e transgenia

O Gerente de P&D do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) Diego Ferres, explica que a cana tem dificuldades de aderir à tecnologias de cultivo no mesmo patamar de outras culturas. Os motivos são vários. O produtor de cana é conservador e tende a demorar bastante tempo para adotar uma nova variedade. “Ter uma tecnologia que gera retorno e está na prateleira por 20 anos é complicado”, diz. O segundo desafio passa pelo fato da cultura ter propagação vegetativa. “Nesse aspecto as novas cultivares anda devagar. Em 2017 introduzimos a primeira variedade Bt e alcançamos 400 hectares. Em 2019, com outra variedade Bt foram 5 mil hectares. Parece muito mas ainda falta mais pra alavancar a tecnologia”. O terceiro desafio é a capacidade financeira. “Ainda temos muito valor a ser criado, especialmente se trabalharmos de forma integrada a biotecnologia e o manejo”, disse Ferres.

Facilitar o plantio, diminuir custos e integrar novas tecnologias também é o aspecto levantado pelo pesquisador João Bespalhok, da Rede Interuniversitária para o Desenvolvimento do Setor Sucroenergético (Ridesa) que aponta a transgenia como o grande mote para o setor. “Se quisermos trabalhar com edição gênica precisamos conhecer melhor o genoma da cana. A cultura necessita de mais investimentos de multinacionais e parcerias público-privadas para adotar novas tecnologias”, aponta.

No segmento de Muda Pré-brotada e Meiose (Método Interrotacional Ocorrendo Simultaneamente) a velocidade de incorporação está adiantando em quatro anos a utilização de novas cultivares. “A biotecnologia tem que ser inserida nesse contexto, em especial a edição gênica, que é complementar ao melhoramento”, defendeu o diretor do Instituto Agronômico (IAC), Marcos Landell.

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A adoção de tecnologias no setor canavieiro está bem abaixo de outros como a soja (96%), o milho (89%) e o algodão (84%). O pesquisador da Embrapa Agroenergia, Hugo Molinari, enumerou quatro benefícios que a transgenia poderá trazer para o setor sucroalcooleiro: o aumento da produtividade em três dígitos ou 10 mil litros/hectare; a redução no uso de defensivos agrícolas; a redução da emissão de CO² e do custo da produção. “O Brasil já tem 22 anos de transgenia. Um estudo recente publicado na revista britânica The Economist mostrou que, em 15 anos de adoção, para cada dólar investido em transgênico houve um retorno de 4,42 dólares. Isso sem falar nos ganhos ambientais com a redução de 23 bilhões de litros de CO², o que equivale a tirar 15,3 milhões de carros das ruas”, relatou.

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