Brincagem para identificar animais pode ter causado infecções em SC
Criador quer trocar método; veterinário sugere usar brinco quando gado estiver mais crescido
Pecuaristas do Sul do de Santa Catarina decidiram suspender a brincagem para identificar animais livres da febre aftosa sem vacinação até que seja marcada uma reunião com a Secretaria de Agricultura. Eles atribuem aos brincos as infecções que têm provocado perda de gado, tanto de corte quanto leiteiro, desde 2008.
Durante audiência pública realizada em Sombrio, na segunda-feira, os criadores sugeriram a substituição do método de identificação para erradicar as doenças. De acordo com o pecuarista João Cezar Luchina, o problema com a brincagem não foi exposto antes pelo temor de serem casos isolados. O procedimento é obrigatório e a não colocação do brinco implica no sacrifício do gado.
O criador Vilmar Eufrásio, 54 anos, dono de 380 cabeças de gado da raça Brahman, afirma ter perdido três terneiros, em 2009, e uma vaca este ano, o que resultou num prejuízo aproximado de R$ 3 mil.
— A orelha do gado não cicatriza após a colocação do brinco porque ele se debate demais. A orelha fica bichada e aplicamos remédio, tanto antisséptico e antibiótico — resume Eufrásio.
Em Santa Rosa do Sul, na localidade de Forquilha do Cedro, César Silva da Cunha, 26 anos, e a prima Elisa Borba, 30, gastaram R$ 1,5 mil em remédios para curar as feridas no rebanho das raças Jersey e Holandesa da família. Oito animais adoeceram e um terneiro morreu.
— A inflamação foi tão violenta em um dos animais que precisamos amputar uma das orelhas. É uma doença que deixa o gado irritado, tem mau cheiro e causa dor ao animal, por isso a dificuldade de tratar — reclama César.
Cautela
O gerente regional da Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina (Cidasc), Wilmar Warmling, pediu cautela as pecuaristas. As inflamações na orelha do gado, disse ele, se não forem controladas, podem se tornar infecções generalizadas e matar o gado.
Ele sugeriu que a brincagem dos animais, que normalmente ocorre até os 90 dias de vida, seja feita mais tarde.
— Sugerimos que o brinco seja colocado no gado com oito meses de vida. Nessa idade a cartilagem da orelha estaria melhor formada e mais resistente às doenças. O que não pode é dizer que a brincagem está matando o gado.
O veterinário Luís Felipe Ribeiro acredita que o problema possa estar no material dos brincos de algum lote isolado ou na maneira com que os criadores manejam o identificador.
— Pode acontecer do brinco não ser colocado no lugar corretamente, onde há apenas cartilagem e pele na orelha do gado e pouca irrigação sanguínea — alerta o veterinário.