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Cada vez mais, soja toma lugar da floresta amazônica, diz "New York Times"


Basta apenas uma viagem pela estrada que leva ao norte para entender como uma área da selva amazônica maior do que Nova Jersey pode ter sido derrubada no decorrer de apenas um ano. Onde a selva oferecia abrigo aos papagaios, cervos e onças, a terra está sendo cada vez mais limpa para abrigar plantações de soja, o grão mais quente do momento no Brasil.

O cultivo de soja está em alta, guiado por uma coincidência de demanda global vinda de locais tão distantes quanto a China e a política local do Estado em que o novo governador era conhecido como Rei da Soja antes mesmo de sua eleição. Hoje, a soja está comendo porções cada vez maiores da Amazônia Legal, levando a um aumento no ano passado de 40% no desmatamento, elevando a área desmatada para quase 2 milhões de hectares. Até as pastagens onde as vacas ruminavam estão sendo convertidas, levando o maior rebanho de gado do mundo ainda mais longe da fronteira agrícola.

"O novo fator na equação do desmatamento da Amazônia é, sem sombra de dúvida, a soja e a atração que exerce sobre o agronegócio", disse Stephan Schwartzmann, diretor do grupo ecológico americano Defesa Ambiental, depois de visitar a região em julho.

Uma temporada de seca pouco comum também parece ter efeito no aumento do desmatamento de agosto de 2001 a julho de 2002, segundo o Instituto Nacional de Pesquisa Espacial do Brasil.

Assim como o relaxamento na força policial, tradicional durante o ano de eleição, e uma moeda fraca que tornou a agricultura para exportação atraente, segundo sugeriram os analistas.

Mas os especialistas são unânimes em alertar que, à medida que o cultivo de soja continua a se espalhar por Mato Grosso e Pará, a ameaça ao sistema ecológico amazonense provavelmente vai piorar nos próximos anos.

Grupos ecológicos esperavam que o presidente de esquerda brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, tomaria medidas para combater o desmatamento. Mas Lula, em vez disso, incentivou o aumento da produção agrícola para aumentar as exportações e alimentar os pobres, uma posição que lhe valeu inclusive críticas de seus próprios aliados.

"A Amazônia não é intocável", disse Lula durante uma visita à região em julho.

Essa visão é fortemente apoiada por Blairo Maggi, governador do Mato Grosso, que repetidamente negou qualquer preocupação sobre desmatamento.

Maggi, eleito no ano passado como candidato do Partido Popular Socialista, e sua família são donos de um dos maiores produtores, transportadores e exportadores de soja do Brasil.

O Rei da Soja, como gosta de chamá-lo a imprensa brasileira, defende a soja como engrenagem de crescimento e desenvolvimento da Amazônia.

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