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Cafeicultores prevêem queda na produção


A safra atual de café em Minas Gerais (2002/2003) deverá registrar recorde de produção de 22,715 milhões de sacas. Mas, o bom desempenho do volume não representa, necessariamente, ganho para o produtor, pois, o preço do café não está atrativo no mercado mundial. Diante do recuo do mercado e das condições climáticas instáveis no Brasil, há previsões de queda na próxima safra (2003/2004). Segundo Joaquim Goulart de Andrade, gerente técnico da Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé (Cooxupé), é difícil dimensionar números, mas as o clima desfavorável e a bianualidade da planta são fatores que podem ocasionar este decréscimo. Outra razão, conforme ele, que poderá levar o produtor a desistir da cultura é o baixo preço do produto, que em média está sendo comercializado por R$ 190 a saca.

O produtor, segundo Andrade, ficou descapitalizado e não fez os investimentos necessários na lavoura. ´O custo de produção é alto. Com os encargos e depreciação 30 sacas por hectare custam para o produtor R$ 161, e, para 20 sacas por hectare, o desembolso é de R$ 173. O cafeicultor está desmotivado, já que o custo está superior à receita´, afirma.

Outro agravante, na avaliação de Andrade, é que a lavoura ficou mais sujeita às pragas como a Ferrugem e o Bicho Mineiro, causando a desfolhagem no cafezal. ´Boa parte dos fertilizantes e herbicidas não foram aplicados, devido ao alto custo´, explica Andrade.

A estiagem também contribui para a possível redução da próxima safra. O déficit hídrico está, até agora, em 220 milímetros de chuva, um dos piores resultados dos últimos dez anos. ´O que choveu em outubro de 2002 não foi suficiente para suprir a queda´. De acordo com dados da Cooxupé, no décimo mês do ano, registrou-se 76 milímetros de chuva. Durante o mesmo período do ano passado choveu na região 117,4 milímetros e em novembro 314 milímetros. ´Daí a produção recorde da safra atual´.

A variação da temperatura registrada nos últimos dois meses também debilitou as lavouras. Em setembro, segundo Andrade, foi registrada a menor temperatura na região, 2oC e em outubro a temperatura chegou a sete graus acima da média na região. ´Em setembro a planta começa a florir, com isso, a floração foi atingida e em outubro as altas temperaturas ocasionaram um aumento na evaporação, diminuindo o reservatório de águas nas plantações´, acrescenta.

Outro representante dos cafeicultures que acredita na queda de produção da próxima safra é João Vicente Diniz, presidente do Sindicato dos Produtores de Café de Três Pontas. Segundo ele, o produto está enfrentando fase ruim, sem incentivos, por isso o produtor não tem recursos para investir na lavoura. ´A produção em Minas Gerais não deve chegar a 10 milhões de saca´, acredita.

Ele afirma que, em sua região, a maior produtora mundial de café, muitos cafeicultores estão apostando em outras culturas. ´Já temos notícias de lavouras que foram extintas e de agricultores que estão migrando para o cultivo de hortaliças´, afirma Diniz.

A Empresa de Assistência e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater/ MG) estima queda de 60% na safra de 2003/2004, com base no levantamento de campo realizado pela empresa em 700 municípios. Argileu Martins, diretor técnico da Emater, afirma que a redução do parque cafeeiro nas regiões do estado, em função das podas ocorridas no período, será fundamental para a queda na produção. Somente no Sul de Minas, de acordo com o levantamento, haverá redução de 300 milhões de pés, que representa 30% da lavoura da última safra.

Esta redução que os técnicos projetam para a safra 2003/2004, segundo Argileu Martins, é o que pode provocar uma reação nos preços do mercado. ´As perspectivas para 2003 são de baixa produção, créditos e recursos escassos para o custeio, alta dos insumos em função da elevação do dólar, e ainda alto custo de produção devido às dificuldades da colheita de uma safra pequena´, diz.

Segundo Paulino Cícero, secretário estadual de Agricultura e Abastecimento, a possível redução de 60% da safra 2003/2004 de café, anunciada pela Emater, virá em boa hora. Assim, poderá elevar o preço do produto no exterior que hoje, conforme o secretário, chega a US$ 1,5 o quilo. ´A queda na produção é ótima. O preço internacional aumentando, mais ganhará a cadeia produtiva´. Para ele, cabe ao cafeicultor estocar a produção. ´Estocando, o produtor receberá um preço bem superior ao registrado hoje´, afirma.

Cícero afirma que o grande problema enfrentado pelo País são os subsídios internacionais, que este ano somaram US$ 250 bilhões. ´Os Estados Unidos e União Européia concederam US$ 60 bilhões e US$ 90 bilhões, respectivamente. Nós temos que lutar contra essa linha de subsídios que os governos dão. Isso é na verdade rapinagem internacional´, conclui o secretário.

Ana Paula Machado - Belo Horizonte/MG

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