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Cana-de-açúcar invade universidades

Avanço da cultura impulsiona criação de cursos na área e leva profissionais do setor a voltar a estudar


A cana-de-açúcar já não se restringe apenas ao meio rural. Até chegar ao produto final, a cana também passa pela sala de aula. É mais um dos reflexos do avanço da cana no Brasil, que movimenta milhões de pessoas, de hectares, de toneladas e, agora, conhecimento.

O crescimento do setor sucroalcooleiro e a inovação do processo produtivo estão fazendo profissionais da área buscarem informações. Diante da necessidade de formar profissionais mais qualificados, instituições de ensino superior passam a oferecer mais opções de cursos de especialização ou pós-graduação. Nas que já ofereciam, a procura pelas vagas aumentou e há listas de espera.

No país, dez instituições oferecem cursos superiores em tecnologia em produção sucroalcooleira, segundo o MEC (Ministério da Educação). Do total, sete surgiram nos últimos dois anos e seis deles estão em São Paulo, Estado responsável por esmagar 59,4% da cana de todo o país. Instituições tradicionais de Bauru e do Interior planejam abrir ao menos cinco novos cursos para a área nos próximos dois anos.

O aumento da produção, as possibilidades do uso da cana como fonte de energia e as previsões de comercialização tornaram o setor mais complexo, avalia o professor Octavio Valsechi, coordenador do curso de pós-graduação do MTA (Master of Technology Administration) em gestão tecnológica do setor sucroalcooleiro da Ufscar (Universidade Federal de São Carlos), em Araras. “Precisa de mais gente para trabalhar, mas qualificada”, afirma.

O curso foi criado este ano e é oferecido em Araras e Catanduva. Tem cerca de 100 alunos e uma lista de espera já com 35 nomes para a próxima turma. O foco é gestão e indústria – justamente a área onde se verifica mais falta de profissionais. Em 2008, serão oferecidas 20 vagas para o mestrado em bioenergia, voltado especificamente para o setor.

Já a Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), da USP (Universidade de São Paulo) oferece, desde 2002, cinco cursos de especialização para a área – mas, nos últimos dois anos, a procura aumentou. Turmas antes com lugares vagos agora são disputadas e, atualmente, existem 120 alunos na instituição.

Em Bauru, a FE (Faculdade de Engenharia) da Unesp (Universidade Estadual Paulista) não tem cursos específicos, mas está em estudo uma parceria com a Faculdade de Ciências Agrárias da Unesp de Botucatu. A proposta, ainda sem previsão de ocorrer, é oferecer um curso de gestão e tecnologia. “O mercado profissional tem nos procurado para oferecer isso”, diz o professor Jair Manfrinato, vice-diretor da FE.

Graduação se volta para o setor

A movimentação do ramo sucroalcooleiro não atinge somente quem já trabalha. Alunos de cursos como agronomia e algumas áreas da engenharia também demonstram interesse e fazem as instituições oferecerem conteúdos adicionais sobre o assunto.

“Temos disciplinas focadas nisso e o aluno já pode sair voltado para essa área”, explica o professor Daniel Sonoda, gerente do programa de educação continuada da Esalq. É assim que o estudante de agronomia da Ufscar Marcelo Agudo Romão, 19 anos, quer sair quando se formar.

No segundo ano de faculdade, ele já sabe que quer trabalhar com a análise de qualidade da cana e da terra para assegurar bons resultados na plantação. “Muitos colegas querem trabalhar nessa área”, conta Romão, que se prepara para fazer estágio numa usina em Ilha Solteira.

Outra opção de formação são as ETEs (Escolas Técnicas Estaduais), do Centro Paula Souza. No Interior, 13 cidades mantêm cursos técnicos em açúcar e álcool, e análise e produção de açúcar e álcool. Na região, as mais próximas são São Manuel e Cafelândia. Mais informações: www.ceetesps.com.br.

Sindicato traz curso inédito para formar mão-de-obra

Os números do setor sucroalcooleiro impressionam. São centenas de milhões de toneladas e outros milhões de hectares plantados. Somam-se a eles um milhão de empregos pelo país – que, apesar de parecer muito, é pouco. Diante das previsões ainda maiores para as próximas safras, representantes de classes rurais correm para formar profissionais.

Na região de Bauru, pela primeira vez o Sindicato Rural de Bauru e o Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural) se unem para oferecer cursos específicos para o setor. Até então, os cursos eram voltados a outras áreas.

A medida integra o projeto Cana Limpa, lançado pelo Senar em 2004. Desde então, 150 mil trabalhadores foram capacitados no Estado. O presidente do sindicato, Maurício Lima Verde, explica que a iniciativa surgiu devido à necessidade de formar mão-de-obra qualificada em todos os níveis de atuação, ou seja, do cortador ao engenheiro. “Falta gente”, resume.

Todos serão importantes para atender previsões como da Conb (Companhia Nacional de Abastecimento), que estima em 527,98 milhões de toneladas a produção de cana para a safra de 2007/2008. Oitenta e sete porcento é produzido na região Centro-Sul, numa área equivalente a cerca de 5 milhões de campos de futebol.

A expectativa é de que as aulas comecem ainda neste ano e atraiam ao menos mil trabalhadores, vindos de Bauru e outras 17 cidades da região. Os cursos terão duração de um mês, serão apostilados e gratuitos.

Projeto Cana Limpa

*Quando: a definir

*Onde: em Bauru e 17 cidades

*Quanto: gratuito

*Informações: Sindicato Rural de Bauru,

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