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Cana emprega 12% da população de Itambé/PR

Mecanização da cultura ameaça vagas; falta de alternativas de ocupação abre para o risco de perda da população


Per­to de 12% dos 5.897 ha­bi­tan­tes de Itam­bé (37 km ao sul de Ma­rin­gá) tra­ba­lham no cor­te de ca­na-de-açú­car. A pre­vi­são do pró­prio Sin­di­ca­to dos Tra­ba­lha­do­res Ru­rais do mu­ni­cí­pio é som­bria pa­ra os ­bóia-­frias: es­ti­ma-se que até 2018 as má­qui­nas te­nham to­ma­do con­ta da co­lhei­ta e so­brem pou­cos em­pre­gos pa­ra os la­vra­do­res.

Des­sa for­ma, exis­te o ris­co de que a ci­da­de re­to­me uma ten­dên­cia preo­cu­pan­te: a de per­da da po­pu­la­ção. De acor­do com o pre­fei­to An­to­nio Car­los Zam­par (PT), Itam­bé che­gou a con­tar com ­mais de 30 mil ha­bi­tan­tes ­três dé­ca­das ­atrás. Mo­vi­men­to que co­me­çou ­após a ‘‘gea­da ­negra’’, que atin­giu o Nor­te do Pa­ra­ná em ju­lho de 1975.

Atual­men­te, o ­maior ris­co é que os jo­vens dei­xem o mu­ni­cí­pio em bus­ca de em­pre­go, na ­maior par­te das ve­zes em Ma­rin­gá. Pa­ra ­quem op­ta por fi­car, não so­bram mui­tas al­ter­na­ti­vas de ocu­pa­ção. E quan­do as va­gas exis­tem, o sa­lá­rio dei­xa a de­se­jar.

Por is­so, mui­tas mu­lhe­res pre­fe­rem cor­tar ca­na a tra­ba­lhar co­mo do­més­ti­cas. Em Itam­bé, é di­fí­cil en­con­trar ­quem pa­gue até mes­mo o sa­lá­rio mí­ni­mo. Pa­ra ir e vol­tar de Ma­rin­gá to­dos os ­dias, ­além do can­sa­ço da via­gem, ou­tro pro­ble­ma é que os ren­di­men­tos não são tão atra­ti­vos.

Es­se é o ca­so de Ro­se­li Pe­rei­ra dos San­tos, 35 ­anos, que cor­ta ca­na des­de 1992. Ape­sar de já ter tra­ba­lha­do co­mo do­més­ti­ca, ela diz que pre­fe­re o ser­vi­ço pe­sa­do na la­vou­ra. E apon­ta os mo­ti­vos: ga­nhos me­lho­res, fa­ci­li­da­de pa­ra con­se­guir a apo­sen­ta­do­ria e fal­ta de op­ção na ho­ra de pro­cu­rar em­pre­go em ca­sas de fa­mí­lia.

‘‘Co­mo do­més­ti­ca a gen­te tra­ba­lha mui­to e ga­nha pou­co. E na la­vou­ra é ­mais fá­cil de se apo­sen­tar. Não gos­to do ser­vi­ço do­més­ti­co por­que os pa­trões não dão ­valor’’, co­men­ta. Nas la­vou­ras de ca­na, con­se­gue ga­nhar de R$ 700 a R$ 800 em mé­dia. Co­mo em­pre­ga­da, a maio­ria re­ce­be cer­ca de R$ 600 men­sais.

A re­mu­ne­ra­ção me­lhor ­atraiu tam­bém o ma­ri­do de­la, Lou­ri­val Ma­ga­lhães, 37, que re­cen­te­men­te per­deu o em­pre­go de me­câ­ni­co. Ape­sar de ini­cian­te, ele já es­tá ga­nhan­do ­mais do que a es­po­sa, uma vez que o pa­ga­men­to é fei­to com ba­se na quan­ti­da­de de ca­na cor­ta­da.

As­sim, a vi­da no cor­te de ca­na po­de ga­ran­tir um bom sa­lá­rio pa­ra ­quem tem for­ça pa­ra ser bas­tan­te efi­cien­te, co­mo An­to­nio Lei­te ­Leal Jú­nior, 29 ­anos. Des­de os 15 ­anos de ida­de a ro­ti­na de­le é de­di­ca­da ao tra­ba­lho com o fa­cão. Nos ‘‘me­ses ­bons’’, con­ta, o cor­ta­dor che­ga a ga­nhar R$ 1,5 mil. Mas não pre­ten­de fi­car nes­sa vi­da por mui­to tem­po. Ele pla­ne­ja cor­tar ca­na por ­mais ­dois ­anos e de­pois bus­car ou­tra ati­vi­da­de. De pre­fe­rên­cia, na bo­leia de um ca­mi­nhão. ‘‘O que fa­ço não que­ro pa­ra a mi­nha fa­mí­lia. Não fi­co preo­cu­pa­do com a che­ga­da das má­qui­nas. Pa­ra ­quem tem co­ra­gem de tra­ba­lhar, ser­vi­ço não ­falta’’, res­sal­ta.

Pa­ra a ex-do­més­ti­ca Sue­li Pe­rei­ra Bis­po, 33, o ser­vi­ço é pe­sa­do, mas ain­da é com­pen­sa­dor em re­la­ção ao em­pre­go an­te­rior. Por ou­tro la­do, fi­ca ­mais di­fí­cil pa­ra con­ci­liar o tra­ba­lho e o es­tu­do. Tan­to que ela cur­sou ape­nas até o sé­ti­mo ano do En­si­no Fun­da­men­tal. ‘‘Ten­tei, mas de­pois fi­cou mui­to can­sa­ti­vo. Ho­je não sei o que fa­ria sem a ­cana’’, diz.

Zam­par ad­mi­te que há pro­fis­sio­nais que pre­fe­rem tra­ba­lhar no cam­po. Por ou­tro la­do, al­guns ca­sos é por fal­ta de op­ção mes­mo. Mas que a lu­ta por uma vi­da me­lhor exi­ge sa­cri­fí­cios. ‘‘Vai de­pen­der da de­di­ca­ção de ca­da ci­da­dão. Mas al­guns con­se­guem che­gar até à ­faculdade’’, res­sal­ta o pre­fei­to. Ele es­ti­ma que ho­je per­to de 200 itam­been­ses fa­çam cur­so su­pe­rior à dis­tân­cia. 

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