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Cana ganhará certificado para se tornar commodity

O projeto brasileiro a ser lançado em julho pode garantir certificação do álcool


O produtor brasileiro de álcool terá, a partir da próxima safra, a possibilidade de certificar e padronizar sua produção, o que ajudará a transformar o combustível em commodity, estimulando a venda a mercados externos. A certificação será possível graças ao projeto da empresa de pesquisa brasileira Triplo A - Normas, que lança entre o fim de julho e o começo de agosto o "Programa de Qualidade Triplo A - Etanol".

Antes disso, o programa será apresentado a usineiros na próxima semana, durante o evento Novas Fronteiras do Etanol, organizado pela União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) em São Paulo.

Segundo o diretor executivo da Triplo A, Wilson Tomanik, o programa tem reconhecimento internacional, uma vez que está filiada ao FoodPlus/Eurepgap - empresa da União Européia que desenvolve protocolos de qualidade para as cadeias produtivas do agronegócio.

Tomanik explica que a pesquisa foi baseada em demandas internacionais de qualidade, sobretudo vindas do Japão e da Europa. A União Européia, aliás, já elabora uma lei para exigir que países exportadores de biocombustíveis de todo o mundo certifiquem seus produtos e garantam, além da qualidade, a sustentabilidade da produção.

"Procurei ver quais eram as exigências desses países para adquirir o álcool brasileiro. A partir disso, baseado em protocolos internacionais, as normas foram elaboradas e já apresentadas a institutos como o Eurepgap. As usinas já podem começar a certificação a partir da próxima safra", afirma.

Entre os itens analisados e normatizados estão o respeito às leis trabalhistas, de saúde de segurança do trabalho, remuneração, gestão ambiental, uso e reuso da água, desmatamento e reflorestamento, técnicas de manejo, transporte e aspectos físico-químicos do produto final, entre outros. Ou seja, as normas abrangem todos os elos da cadeia produtiva da cana-de-açúcar (propriedade, usinas, transporte e distribuição).

Na avaliação do executivo, a padronização e certificação irá ajudar o álcool brasileiro a conquistar novos mercados. "A certificação é o primeiro passo para que o álcool se torne uma commodity", diz.

Para o presidente da Associação dos Produtores de Álcool e Açúcar do Paraná (Alcopar) e diretor da CoopCana, Anísio Tormena, o interesse dos produtores na padronização do álcool é grande. "Se a certificação for aliada à padronização, será muito interessante para o mercado brasileiro. Se quisermos manter e ampliar o comércio internacional de álcool, temos que oferecer um padrão de qualidade aos nossos clientes", afirma.

Segundo Tomanik, as normas serão validadas por empresas internacionais, como a alemã DAP, e as usinas que aderirem ao programa receberão auditorias constantes de organismos certificadores internacionais da Europa, Estados Unidos e Japão. Segundo o diretor da Triplo A, as normas incluem também a produção de álcool a partir do milho.

Custos - Em relação aos custos para os usineiros, Tomanik estima valores em torno de R$ 5 mil por ano. "Se for considerado o total da produção e os benefícios que a certificação pode trazer para o mercado brasileiro de álcool, o custo acaba se diluindo." A empresa de Tomanik, por ser um instituto de pesquisa, receberá como remuneração 2% dos valores cobrados pelas certificadoras como pagamento de royalties.

Para Tormena, tais custos adicionais "valem a pena". "A padronização dará segurança à usina. Quando o interesse pelo produto é muito grande, as exigências também passam a ser maiores. Essa seria uma forma de garantir mercado, mesmo nos momentos de baixa nos preços (no mercado interno)", conclui o usineiro.

Wilson Tomanik informou, por fim, que participará de reuniões com o Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro) sobre o tema, órgão que corresponderia ao Eurepgap no Brasil. O Inmetro iniciou no mês passado um grupo de trabalho com produtores e técnicos do setor de álcool para estabelecer parâmetros para uma certificação.

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