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Cana valoriza preço da terra em São Paulo

Em Barretos, o hectare arrendado para usina chega a valer R$ 1.200, enquanto a soja paga um terço deste valor


A expansão da cana em São Paulo está alterando mais que a paisagem do interior paulista. Terras arrendadas também vêm mudando de mãos - e de valor - nos últimos anos. De acordo com o Instituto de Economia Agrícola (IEA), na região de Barretos, uma das áreas para onde avançam os canaviais no Estado, o valor da terra arrendada para cana em 2005 variou entre R$ 428 e R$ 1.141 por hectare/ano, o maior valor registrado pelo IEA. No mesmo período, o maior valor pago pelo arrendamento para soja foi R$ 334/hectare.

O agrônomo João Luiz Bonatelli Moni, da Casa de Agricultura da cidade, lembra que há quatro anos o município tinha em torno de 25 mil hectares de cana plantada. Hoje, tem quase o dobro: 45 mil hectares. “E mais da metade são terras arrendadas”, calcula. Por outro lado, a soja está perdendo espaço.

Apesar de não ser a principal cultura da região, o grão sempre teve relevância na agricultura local. A área de soja no município costuma ser de, em média, 25 mil hectares/ano. “De acordo com o levantamento que fizemos nesta safra, a área plantada com soja foi de apenas 15 mil hectares.” Segundo ele, há muita área solteira (sem nenhum plantio), porque os produtores não plantaram soja nem como opção de rotação com a cana.

O produtor Danilo Augusto Rosário, de Barretos (SP), sentiu na pele a diferença de valores pagos pelo arrendamento de terra. Ele, que é agricultor arrendatário e não conseguiu renovar os contratos nesta safra para o plantio de soja, conta que a usina pagou, ano passado, 25 toneladas de cana por hectare e o valor do arrendamento chegou, em algumas áreas, a R$ 1.200/ha. “Pagamos 13 sacas de soja por hectare. Não chegou a R$ 400. Com a produtividade baixa (37 sacas por hectare), um terço da produção foi para pagar o arrendamento. Não compensa.”

Menos trabalho

Entretanto, os proprietários de terra não têm do que reclamar. Esta valorização era o impulso que faltava para o produtor João Aparecido Lucas, de José Bonifácio (SP), aposentar-se. Na safra passada, ele arrendou 240 dos 600 hectares de sua propriedade para uma usina, que pagou R$ 750 por hectare. “Este ano, arrendei o restante. Virou tudo canavial.” Com a soja, lamenta, estava acumulando prejuízos, por causa dos altos custos.

O Triângulo Mineiro - onde a sojicultura sempre pagou melhor pelo arrendamento de terra - também não escapa da expansão sucroalcooleira. Com a instalação de usinas na região é inevitável a mudança da agricultura no entorno. “Em Conceição dos Lagos, Delta e Conquista, onde se concentram os maiores plantios de cana do Triângulo, o arrendamento para cana, hoje, remunera melhor que a soja”, confirma o secretário de Agricultura de Uberaba, José Humberto Guimarães, que também é diretor da Bolsa de Arrendamento. Só em Uberada, dos 450 mil hectares agricultáveis, 65% são arrendados. “Por isso o município tornou-se referência em arrendamento de terras”, explica.

E, em breve, calcula o secretário, os canaviais devem avançar ainda mais pelo Triângulo. Segundo ele, há projetos para instalação de mais três usinas na região, que demandarão cerca de 70 mil hectares. “A cana vai ocupar algumas áreas de grãos”, prevê.

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