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Carne: o Mercosul é apontado como líder

Especialistas advertem que, levado pelo Brasil, o bloco manejará a oferta global nas próximas décadas


Especialistas advertem que, levado pelo Brasil, o bloco manejará a oferta global nas próximas décadas

De acordo com os palestrantes do 18° Congresso Mundial de Carne, que terminou na quarta-feira (29) na Rural, não se tem dúvidas de que na próxima década se reafirmará o predomínio do Mercosul na produção de carne a nível global. Uma boa notícia para a região, embora não necessariamente tão boa para o país, já que os especialistas concordaram que, se não mudar o rumo da política para pecuária, o país dificilmente conseguirá seguir o boom regional.

“A Europa reduz cada dia mais a produção de carnes e substitui por importações. A América do Norte não pode superar os recorrentes problemas sanitários que a impedem de ser o grande provedor do mundo. A Oceania atingiu seu teto produtivo e não conseguiu suprir totalmente a queda dos demais. O único caminho, senhores, é o Mercosul”, sintetizou Miguel Gorelik, diretor de Assuntos Públicos da Quickfood.

Claro que Gorelik destacou que o protagonismo da região necessita de um forte esforço.
“Tem que aumentar a produtividade e a extensão de terras dedicadas à pecuária, criar uma autoridade a nivel de Mercosul que unifique o manejo e a sanidade e assumir seriamente a responsabilidade de ser os provedores de carne do mundo, no futuro”, resoltou.

Nesta linha, Henning Steinfeld, coordenador de pecuária da FAO (organização da ONU para agricultura e alimentação), prognosticou que, frente ao aumento da população em 3 bilhões de pessoas nas próximas quatro décadas, é muito provável que a carne de gado deixe de ser um produto de massas. “A carne será o que era o salmão há cinquenta anos atrás”, disse Steinfeld.

Por sua parte, David Nelson, especialista do Rabobank, disse que a queda da produção de grãos da Rússia e a crescente demanda de milho chinês como criadores de oportunidades para a produção agropecuária do Cone Sul. Também destacou o agressivo crescimento das indústrias de carne do Brasil e China.

O crescente avanço da indústria de carnes foi um dos assuntos mais analisados no Congresso. Como contraste se destacou o desânimo pela queda da indústria local, hoje em dia numa onda de demissões de trabalhadores e fechamento de plantas.

Justamente nesse contexto, um dos assistentes das conferências de quarta-feira à tarde perguntou para o Gorelik o que muitos tinham na ponta da língua: se a Argentina ia se perder no trem do crescimento do Mercosul como provedor de carnes. Gorelik responde com elegância: “Espero que a Argentina não perca o trem frente aos vizinhos”, disse.

Supremacia brasileira

No entanto, nenhum dos presentes no encontro deixou de dizer que a empresa que Gorelik trabalha é um exemplo vivo da clara supremacia brasileira no negócio. A Quickfood, um frigorífico argentino fabricante dos hambúrgeres Paty, passou a ser, em 2007, de uma das indústrias brasileiras mais fortes: a Mafrig.

“É certo que o país está ficando fora do negócio, mas vai se recuperar em algum momento. O curso das coisas é mais forte que a vontade do governo, e nós temos a capacidade de produzir eficientemente. Por outro lado, o governo já saiu de cima da produção leiteira, mas devemos esperar que em breve faça o mesmo com a carne”, explicou um alto industrial que pediu para não ser identificado.

“Com uma adequada política, podemos chegar um dia a produzir 1,3 milhões de toneladas de carne, contra os 2 milhões de toneladas do Brasil. Mas temos um nicho interessante na produção de carnes de alto valor por nosso clima temperado, uma característica que o Brasil não tem”, disse o executivo.

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