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Caudofagia também preocupa na fase final de creche

Problema comum em terminação, pode contribuir para ocorrência de situações graves


Problema de maior frequência em terminação, pode contribuir para ocorrência de situações mais graves

Quem trabalha com granjas de terminação já costuma ficar mais atento à questão do canibalismo entre os leitões. Contudo, o problema pode ser notado em todas as fases do ciclo produtivo dos suínos, apesar de ser raro entre leitões lactentes e reprodutores. Atualmente, a ocorrência do canibalismo na fase final de creche tem se tornado preocupante. Por isso só uma ação imediata pode evitar que as consequências influenciem nos resultados produtivos.

De acordo com a consultora técnica de vendas da FormilVet, médica veterinária Brenda Marques, a caudofagia resulta de tipos normais de comportamento do suíno, como os comportamentos de mamada, alimentar, sexual e de exploração ambiental, mas que podem ser direcionados às caudas de suínos de uma mesma baia quando no ambiente não houver uma estimulação apropriada. Ela explica que o problema está relacionado à intensificação dos sistemas de produção, condicionando os animais a adaptarem-se a certos tipos de manejo, alimentação e ambiente. “Neste ambiente ‘controlado’ podem surgir em determinadas situações, vícios comportamentais, que manifestam claramente, sinais de intranquilidade ou frustração dos animais”, detalha. Brenda, que é mestre em Sanidade Clínica de Suínos, abordou o assunto no VI Simpósio Internacional de Suinocultura (Sinsui), realizado em maio, em Porto Alegre (RS).

Passo a passo

Brenda destaca detalhes do processo de ocorrência de caudofagia em um plantel. Conforme a profissional da FormilVet, geralmente um surto de caudofagia inicia repentinamente, com intensidade variável e pode ser dividido em dois estágios.

No primeiro (antes que qualquer lesão na cauda tenha ocorrido), os suínos estão normalmente “fuçando” e mordendo várias partes do corpo de outros animais da baia. Este comportamento provavelmente representa nada mais que o ato natural do suíno em explorar objetos presentes no ambiente. Ele pode ser direcionado a outros animais, pelo menos parcialmente, pela falta de objetos adequados para distração. “A atração por sangue provavelmente não desempenha nenhum papel no comportamento neste estágio. Acidentalmente, a exploração da cauda pode causar uma leve ferida e, a partir daí, iniciar o segundo estágio”, explica, lembrando que vários autores confirmam que a atração por sangue é o que motiva os animais à caudofagia, podendo generalizar um surto por toda a baia.

Confinamento

A criação intensiva de animais tem levado muitos produtores a tentarem aproveitar melhor os espaços. Porém, Brenda Marques explica que a alta densidade e tamanho dos grupos também aumentam a probabilidade de ocorrência do canibalismo. Ele menciona que há pesquisa relatando que uma densidade de 110 kg/m2 ou superior aumenta em 2,7 vezes o risco de canibalismo. A veterinária destaca que a alta densidade de alojamento pode interferir nas interações sociais normais entre os suínos (por ex., evitando o comportamento de fuga), e aumentar as disputas por alimento. “A falta de espaço no comedouro provoca menor ingestão de alimento, estresse e frustração aos animais que não conseguem se alimentar ao mesmo tempo do que os demais”, justifica.

Da mesma forma, Brenda cita outro estudo que demonstrou que em lotes mistos (com machos e fêmeas na mesma baia), a prevalência de machos mordidos tem sido positivamente correlacionada com o percentual de fêmeas na baia e a chance de um macho ser mordido foi 2,6 vezes superior em relação às fêmeas. A especialista explica que isso acontece porque a maioria das fêmeas prefere o contato face a face com estranhos, ao invés de virar a face em direção oposta, como acontece com a maioria dos machos. Uma outra explicação seria que as fêmeas são mais ativas do que os machos castrados.

Atenção!

Um fator que pode influenciar na ocorrência de canibalismo entre os leitões é a idade do desmame. Segundo a profissional da FormilVet, a idade de desmame aparece como um importante fator associado ao canibalismo, pois a mamada constitui-se um comportamento essencial. “O redirecionamento do comportamento de mamada em animais que são desmamados precocemente para mordidas em locais como a cauda, tem sido observado com frequência”, alerta.

A orientação, diz Brenda, é para que o suinocultor fique atento ao comportamento dos animais, verificando possíveis sinais de intranquilidade. Além disso, é imprescindível observar se as condições ideais de manejo e nutrição estão sendo atendidas. Caso sejam observados alguns casos iniciais, sugere, o produtor deve primeiro tentar identificar o animal que está mordendo e retirá-lo da baia. Se isto não for possível, os suínos mais severamente mordidos devem ser separados em baia hospital, para evitar que o problema se agrave.

Consultora técnica de vendas da  FormilVet, Brenda Marques: “É imprescindível observar se as condições ideais de manejo e nutrição estão sendo atendidas”

Caudofagia pode evoluir para problemas maiores

Clinicamente, cita a consultora técnica Brenda Marques, animais com lesões moderadas a severas de cauda podem apresentar lesões no aparelho locomotor, principalmente artrites. Em casos mais severos a lesão pode levar a paraplegia dos membros posteriores e também há possibilidade de agravamento de quadros respiratórios.
O desempenho zootécnico, dependendo da severidade da lesão e evolução, também pode ser comprometido. Já no abate, cita, lesões moderadas a severas de cauda tem sido associadas a maiores perdas por condenações parciais ou totais da carcaça.

Agravante

A caudofagia não controlada e tratada pode contribuir para a ocorrência de abscessos pulmonares e na coluna. Brenda explica que isso acontece porque a cauda tem uma eficiente drenagem venosa, que permite a rápida disseminação da infecção, principalmente para os pulmões, e por isso o freqüente achado de pneumonias embólicas. Na parte ventral da cauda, detalha, os plexos venosos drenam a veia cutânea colateral, que entra no canal vertebral usualmente entre a 2ª e 3ª vértebras sacrais. “Consequentemente, uma injúria na cauda pode permitir que a infecção se espalhe pela coluna vertebral, e também, por todo o organismo”, expõe a veterinária.

Corte de cauda

Conforme a médica veterinária Brenda Marques, o corte preventivo da cauda pode realmente reduzir a incidência de caudofagia ou somente mascarar o problema. “Está comprovado que mesmo em animais com a cauda cortada o canibalismo pode perdurar em situações em que não forem corrigidos outros fatores predisponentes presentes no sistema de produção, que sejam suficientemente fortes a ponto de estimular os animais a se morderem de uma forma muito agressiva”, argumenta.

Como medida de prevenção a casos de caudofagia, o corte de cauda é uma técnica de manejo bastante utilizada entre os produtores. O manejo correto, é o corte dos dois terços iniciais da cauda, geralmente, ao 3º dia de vida. A ponta da cauda tem pouca sensibilidade e o suíno, por isso, apresenta pouca reação a mordidas nesta área. “Ao eliminarmos este pedaço, a extremidade que fica exposta é uma parte da cauda que possui maior sensibilidade. Nessas condições, se o animal com a cauda submetida ao manejo de corte for mordido, sentirá dor irá reagir, evitando a agressão”, explica.

E para quem optar pelo corte em caso de surtos de caudofagia, o manejo individual dos animais afetados envolve a aplicação de três medidas:

a) Identificação e isolamento dos animais que apresentam o comportamento;

b) Tratamento medicamentoso com antibióticos de amplo espectro (ex. penicilinas, cefalosporinas, etc.) e imersão da cauda em soluções terapêuticas.

c) A amputação cirúrgica das caudas afetadas pode ser drástica, mas necessária em severos e persistentes surtos de canibalismo.

Boa e nutrição e distração para prevenir o problema

A consultora técnica da FormilVet relata que a nutrição tem sido um dos principais pontos analisados quando se fala em canibalismo. Ela justifica que os animais adquirem comportamentos exploratórios baseados em suas deficiências metabólicas. Estas, por sua vez, podem ocorrer por conta dos animais não terem acesso à quantidade de alimento necessário, devido a competição social, ou por utilização dos nutrientes específicos a uma taxa superior em relação aos demais, como acontece em situações de estresse.

Segundo Brenda, calcula-se que em torno de dois terços dos casos de caudofagia estejam relacionados a problemas nutricionais, principalmente dietas com teores energéticos excessivos, baixos níveis de fibra, baixos níveis de proteína de origem animal, deficiência de sal e baixos níveis de cálcio e zinco. O sal é um dos poucos minerais presentes no sangue em altas concentrações e os animais o reconhecem como uma forma de minimizar alguma deficiência desse componente na dieta.

Principais fatores

A veterinária relaciona que os três principais fatores ambientais relacionados ao canibalismo são más condições de higiene, acúmulo de dejetos na instalação, excesso de umidade e alta concentração de gases no ambiente.
O tipo de piso também aparece como um fator de risco, com maior ocorrência do problema em pisos do tipo ripado, em relação ao compacto. “Esse tipo de piso não permite que os animais saciem a necessidade de exploração a sua volta”, acrescenta.

Uma orientação simples para prevenir a ocorrência do problema, expõe Brenda, é a presença de materiais distrativos, como palha ou correntes, dentro da baia. “Vários estudos têm demonstrado que o fornecimento de palha uma ou mais vezes ao dia diminui as chances do problema. Este efeito benéfico pode ser resultado de um melhor conforto térmico e físico que a palha proporciona e pela presença de material no chão para o animal explorar”, detalha.

As informações são da assessoria de imprensa da FormilVet.

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