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Cenário do trigo está confortável, avalia Consultoria

Alguns players, como Rússia e Ucrânia, têm ganhado share global enquanto EUA e EU, os dois maiores produtores


Foto: Marcel Oliveira

O cenário global do trigo nos últimos anos tem sido bastante confortável em termos de abastecimento mundial. Alguns players, como Rússia e Ucrânia, têm ganhado share global enquanto EUA e EU, os dois maiores produtores, vêm direcionando a área para outras culturas. O aumento robusto da oferta advinda de países como Rússia e Canadá tem sustentado uma ampliação da produção e dos estoques globais do cereal ao longo dos últimos 5 anos, com crescimento médio de 1,0% e 4,2% a.a.respectivamente.

Contudo, o cenário ao longo da pandemia tem alterado esse fluxo global da commodity. A insegurança alimentar e a alta dos preços internacionais foram algumas das razões de mudança do trading dos principais ofertantes de trigo no mercado internacional. Um dos principais fatores de mudança originou-se na China. Com a nova política de aumento de estoques a fim de manter a segurança alimentar da população, o país aumentou significativamente os volumes importados das principais commodities com intuito de dar robustez aos estoques domésticos.

Essa corrida envolveu maiores compras externas de milho, e como o trigo é substituto do primeiro nas rações, isso ampliou o movimento de alta das cotações. As compras aceleradas pressionaram os estoques nas principais origens do trigo. Em 2020, o gigante asiático importou cerca de 11,3 MM de toneladas de milho e 8,4 MM de toneladas de trigo, aumentos de 135%  e 147%,respectivamente, em relação as importações do ano anterior. Embora haja um aumento dos estoques globais, o clima tem impactado as safras dos principais exportadores de trigo, como EUA, UE e Ucrânia, e preocupa a disponibilidade do grão para trading global da commodity. Além disso, a Rússia, maior exportador mundial, sobretaxou as exportações com vistas a limitar as vendas internacionais e frear as altas dos preços domésticos (inflação). O governo russo impôs uma taxa de exportação de € 25,0 por tonelada entre os dias 15 de fevereiro até 1° de março deste ano.

A partir de 1° de março, a tonelada será taxada em € 50,0. Esse aumento do custo advindo do principal player global poderá redirecionar os compradores para outras origens e, consequentemente, poderá aumentar os preços praticados internacionalmente. Ainda em relação à oferta global de trigo, tem sido ventilado ao mercado que a Ucrânia e a Argentina também têm  discutido internamente tarifar e/ou limitar volumes exportados da commodity como ferramenta para barrar a alta de preços internos dos alimentos, o que limitaria ainda mais a disponibilidade de importantes exportadores do cereal.

Diante disso, os preços do trigo atingiram os maiores níveis em 6 anos em Chicago. Em meados de janeiro/21, a cotação alcançou o pico de US$ 6,75, alta de 36,6% no período desde o inicio da pandemia, quando o bushel foi cotado a US$ 4,98 (mar/20). O consumo brasileiro de trigo está próximo de 12 milhões de toneladas por ano, enquanto a produção interna é capaz de abastecer apenas 40% da demanda local. Assim, o Brasil precisa recorrer às importações e a Argentina é o principal parceiro comercial. Por isso cabe a atenção também ao desenvolvimento da produção e das políticas agrícolas do país vizinho uma vez que elas podem impactar diretamente a oferta interna da commodity no Brasil.

Do ponto de vista da safra de trigo, a redução de 1,5% da área plantada atrelada às intempéries climáticas, que reduziram a produtividade, levou a uma queda de 9,5% no total produzido na safra 20/21 em relação ao ano anterior, totalizando 17 milhões de toneladas segundo a projeção da Bolsa de Cereales. Apesar da oferta argentina ser superavitária em relação ao consumo interno de trigo, que está em torno de 6 milhões de toneladas/ano, o governo argentino cogitou sobretaxar e limitar os volumes a serem embarcados para o mercado internacional, ainda que no último dia 11, a discussão parece ter perdido força em função do pronunciamento do presidente. Contudo, a inflação acumulada dos últimos 12 meses no pais é projetada em 38% e pode fornecer combustível para a retomada das discussões sobre limitar as vendas externas de trigo e elevar as retenciones, como visto recentemente no mercado de milho.

Restrições de volumes de trigo por parte da Argentina podem oferecer riscos momentâneos de abastecimento interno ou aumento expressivo dos custos da indústria local, visto que os compradores terão que buscar o cereal de origens mais distantes. Além dos preços internacionais em alta, o câmbio fraco também impulsionou as paridades de importação e afetou as cotações do cereal internamente. Há um ano, no Rio Grande do Sul, a saca de trigo estava sendo cotada a R$ 43,9, e atualmente encontra-se acima de R$ 75,0, alta de 73% no período.

Diante desse cenário de preços elevados, o governo federal isentou um volume de 750 mil toneladas de trigo importado fora do Mercosul da Taxa Externa Comum (TEC) de 10% até nov/21. Tal medida visa incentivar as aquisições do cereal de outras origens fora do bloco econômico. Vale destacar, que o mercado se encontra atualmente em período de preços mais arrefecidos diante do fim da colheita no Brasil e na Argentina. No entanto, para os próximos meses, as cotações podem voltar a subir caso o câmbio se mantenha nos atuais patamares, diante da necessidade de importação (entressafra).

Esses níveis de preços locais tendem a garantir bons níveis de margens aos produtores, que por sua vez, serão estimulados a aumentarem a produção do cereal, podendo arrefecer as cotações na próxima temporada. Para a indústria moageira o cenário para 2021 exigirá cuidados. De um lado, para aqueles que estão com estoques mais curtos há o risco de aumento de custo de aquisição do trigo, o que trará desafio de repasses de tais elevações para a indústria alimentícia. Por outro lado, para os que estão bem estocados, há também a preocupação de que uma melhora no ambiente econômico poderá levar a uma valorização do Real e impactar o valor dos produtos já armazenados, o que afetaria o balanço de tais companhias.

informações consultoria Agro do Itaú BBA

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