Cenário favorável à soja antecipa demanda ao grão
Recuo nos Estados Unidos sustenta preços e sojicultores de MT vendem a nova safra
Sojicultores mato-grossenses estão comercializando a safra 2012/13, temporada que começa a ser efetiva a partir de setembro, com o início do plantio. A antecipação, que não é fato raro no Estado, ganha mais motivação pelo atual cenário à commodity com preços firmes e considerados remuneradores, reflexo de mais um ano de demanda acima da produção. O estopim para se acelerar os negócios – enquanto alguns produtores ainda colhem a soja 2011/12, especialmente no nordeste do Estado – é o anúncio de que o maior produtor mundial do grão, os Estados Unidos, vão reduzir a área plantada no ciclo que tem início no próximo mês e poderão atingir um dos menores estoques da história.
Conforme o Boletim Semanal do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), divulgado na segunda-feira (02), a saca da soja valorizou 22% na comparação entre o último dia útil de março de 2011 ante o realizado em igual data deste ano. “O preço da soja em Alto Araguaia, maior cotação do Estado, no último dia de março de 2011 foi de R$ 41,80/saca e, na última sexta-feira, registrou como melhor negócio R$ 51/saca, preço 22% maior no mesmo período. Essa potência do mercado se reflete, inclusive, para os preços da safra 2012/13 de Mato Grosso, que já tem produtores que comercializaram parte da produção futura, com valores em torno de US$ 25, dependendo da localização”.
O Imea ainda não tem números sobre o volume da produção da nova safra já fixado no mercado futuro, mas o analista Cleber Noronha explica que este movimento estava em curso no Estado antes mesmo dos números sobre a área plantada nos Estados Unidos. “Sojicultores do sudeste do Estado estão antecipando vendas e aproveitando oportunidades, que para cada um deles, é vantajosa”. Ele destaca que os preços oscilam positivamente no meio da safra, período em que tradicionalmente a lei do mercado fala mais alto e deprime os preços, “as altas têm sido insistentes em plena safra. A maior oferta não tem empurrado as cotações para baixo. Isso prova que o mercado está aquecido e os produtos atentos para bons negócios, mesmo que sejam para a nova safra”.
O analista destaca ainda que os dados apresentados pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Usda) trataram na última sexta-feira apenas de área e mostram recuo de 1%. “Em abril sairão projeções de produção e produtividade e isso poderá mexer ainda mais com o mercado, com chances de novas elevações de preços”.
Esse conjunto de fatores – maior demanda mundial pelo grão e a safra norte-americana – poderá ampliar o apetite do mercado e o impacto disso será a rápida comercialização dos grãos da atual safra. Conforme o Boletim, a safra 2011/12 tem disponíveis 22% da produção de cerca de 21,95 milhões de toneladas. “O restante está comercializado de maneira antecipada e isso pode fazer com que a soja mato-grossense se esgote antes mesmo do encerramento da safra no mês de junho”. Para colocar mais velocidade no ritmo dos negócios, há uma previsão, ainda não-oficial por parte do Imea e da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja), de que a mistura de clima e ferrugem tenham causado sérios danos à produção e que cerca de 2 milhões de toneladas tenham sido perdidas, conforme antecipou o Diário na edição do último domingo. Se a quebra de safra se concretizar em números próximos à projeção, o volume disponível estará ainda menor.