As exportações brasileiras de carne bovina ao Chile foram suspensas 7 de novembro por conta dos focos de aftosa no Paraguai, na divisa com Mato Grosso do Sul. O governo brasileiro, porém, após dois dias de reuniões entre técnicos locais e autoridades chilenas, anunciou na última semana que as exportações já estão liberadas, mas a informação ainda não foi publicada no diário oficial, o que deve acontecer amanhã.
As indústrias frigoríficas do Mato Grosso do Sul não conseguem exportar carne bovina para o Chile. Os embarques foram interrompidos no início do mês de novembro e as indústrias do estado acumulam prejuízos.
"Os dois melhores períodos para exportar para o Chile são entre agosto/setembro e novembro/dezembro em virtude de datas festivas nos meses de setembro e dezembro. Este ano não conseguimos atender à demanda do período novembro/dezembro", diz Ricardo Andrade, gerente de exportação do frigorífico Marfrig, que deixou de vender 200 toneladas no último mês, equivalente a US$ 350 mil, ao Chile.
Com uma indústria instalada em São Paulo e outra no Mato Grosso do Sul, o Marfrig, que exporta cerca de 400 toneladas de carne por mês para o Chile, reduziu os abates da fábrica do Mato Grosso do Sul e aumentou as escalas de São Paulo, apta a exportar para o Chile. "Mesmo assim, não evitamos as perdas", afirma Andrade. Com o maior rebanho do Brasil, de aproximadamente 23 milhões de cabeças, o Mato Grosso do Sul responde por metade das exportações de carne do Brasil, importante fornecedor de carne para o Chile.
Concorrência argentina
Ainda que a atual suspensão das exportações penalize apenas um estado, é provável que o Brasil ainda tenha muita dor de cabeça com o Chile ao longo de 2003. Isso porque após dois anos ausente deste mercado, a Argentina voltará a vender carne para o Chile no final do mês. O Chile é um dos principais mercados para as carnes resfriadas tanto da Argentina quanto do Brasil. O país importa anualmente entre 70 mil e 80 mil toneladas de carne.
Durante muitos anos este mercado se manteve nas mãos da Argentina, que o perdeu após o registro de aftosa no país. O Brasil começou a exportar carne para o Chile em grande volume a partir de 2000.
Entre os dez primeiros meses deste ano, as exportações brasileiras de carne bovina para o Chile somaram 57,18 mil toneladas, movimentando US$ 83,6 milhões, segunda maior receita do Brasil, depois da União Européia.
Em 1997, ano em que mais exportou para o Chile, a Argentina embarcou 59,7 mil toneladas de carne, movimentando US$ 141 milhões, segundo o Serviço Nacional de Sanidade e Qualidade Agroalimentar (Senasa) daquele país. A disputa deve ser acirrada: os preços da Argentina estão em US$ 1.500 por tonelada, 16% abaixo dos praticados pelo Brasil atualmente, de US$ 1.750.
"Já não há tempo hábil para que a carne brasileira chegue ao atacado antes do Natal", diz Antônio Camardeli, diretor da Associação Brasileira das Industrias Exportadoras de Carne Bovina (Abiec). No Mato Grosso do Sul estão instaladas importantes exportadores de carne bovina a exemplo dos frigoríficos Independência, Marfrig e Bertin.
Luciana Franco