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Cinco novas usinas às margens do rio Grande

Os Biagi e Junqueira realizam os investimentos em parceria com usineiros da região



As famílias Biagi e Junqueira realizam os investimentos em parceria com outros usineiros da região. Nunca um produto agrícola recebeu, em tão pouco tempo, tanto investimento na história do Brasil como a cana-de-açúcar. Calcula-se que perto de 50 usinas de açúcar e álcool estejam em construção no Brasil, num investimento total próximo de R$ 20 bilhões, incluindo os custos de implantação de 3 milhões de hectares de canaviais, com máquinas de preparo do solo, plantio, cultivo, colheita e transporte da cana até as esteiras que irão alimentar as novas unidades industriais.

"Tamanho investimento se justifica, talvez, por ser a cana uma das maiores transformadoras de energia solar em alimento e outros tipos de energia. A cana é uma verdadeira fábrica de energia renovável e limpa", disse o empresário Maurílio Biagi Filho, num recente sobrevôo no norte de São Paulo e sudoeste de Minas Gerais, onde as famílias Biagi e Junqueira, em parcerias com outras, investem na construção de cinco novas usinas de açúcar e álcool.

Do helicóptero é possível ter uma idéia real da pujança agrícola da região. O que se vê no laudo paulista, a partir de Ribeirão Preto, é uma imensidão de canaviais, dezenas de usinas, pomares de laranja, pastagens, manchas de seringais e pequenas cidades, algumas às margens do rio Grande, cujas represas criaram uma amplidão de águas que dividem os dois Estados. Do lado mineiro, além de belas serras, montanhas, rios e cachoeiras, também há, às margens do rio, grandes planícies com boiada e canaviais em formação.

É por ali, ao redor do município paulista de Orindiúva, onde se localiza a Usina Moema - uma das maiores do Brasil -, que se está cultivando uma faixa quase contínua de 185 mil hectares de canaviais, que produzirão um total de 15 milhões de toneladas de cana por safra no início da próxima década. Haverá até transporte em barcaças de caminhões de cana de uma margem a outra do rio Grande.

A partir da pioneira Usina Moema - um investimento de 1974 realizado pelas famílias Biagi e Junqueira -, é que estão surgindo as cinco novas unidades. Três delas em São Paulo: a Guariroba, no município de Pontes Gestal; a Ouroeste, na cidade de mesmo nome; e a recém-inaugurada Usina Vertente, em Guaraci. Duas ficam em Minas: a Itapagipe, no município homônimo; e a Frutal, também na cidade de mesmo nome.

A administração de quatro das cinco novas unidades ficará a cargo da Moema, acionista de todas elas. A exceção é a Usina Frutal, cuja gestão será feita a partir da tradicional Cia. Açucareira Vale do Rosário, de Morro Agudo, sua sócia majoritária.

O valor do investimento nas cinco novas unidades industriais - que, quando prontas, processarão 2 milhões de toneladas por safra cada uma - não foi informado. Mas, segundo apurado, só a área industrial absorverá recursos da ordem de R$ 500 milhões nos próximos três anos, incluindo o já realizado na Usina Vertente.

Seqüestro de carbono

O montante do investimento e seu retorno se justificam: "O balanço de energia da cana na produção de álcool mostra que cada unidade utilizada para este fim gera de 8 a 10 unidades de energia, informa Biagi. E acrescenta, pensando nos créditos de carbono negociados no mercado internacional: "Um metro cúbico de álcool seqüestra 2,6 toneladas equivalentes de carbono, face as substituições pelos derivados de petróleo por álcool". Outra justificativa: "Cada hectare de cana produz 9 mil litros de álcool".

Segundo Biagi, num determinado momento, só os diretores da Moema sabiam da realização desses investimentos, mas a empresa decidiu não comprar terras nas áreas onde as usinas serão construídas, dando oportunidades aos produtores rurais da região.

"O interessante dos investimentos na área agrícola é a parceria feita com agricultores locais", afirma Biagi. "Eles terão a opção de plantar por conta própria ou arrendar as terras", mais rentáveis do que a pecuária predominante da região.

Segundo Atílio Benedini, de Ribeirão Preto, tradicional corretor de fazendas do interior, "as novas fronteiras são a melhor opção de investimento para quem quer viver de arrendamento". Ele informa que o preço da terra na região das novas usinas é até um terço mais barato do que na região de Ribeirão Preto, onde o hectare custa entre R$ 20 mil e R$ 25 mil.

Os parceiros agrícolas locais ganham com a cana e poupam as indústrias de parte dos investimentos na área agrícola (pelo menos R$ 2,5 mil por hectare só no plantio). A área agrícola demandará, ainda, investimento adicional na compra de tratores, colheitadeiras, plantadeiras, implementos e insumos agrícolas, caminhões, carregadores e veículos de transbordo de cana.

A Guariroba terá como acionistas, além da Moema, as famílias Marchesi e Lunardi, de Ribeirão Preto, por meio da Cleel Empreendimentos, e a Agropecuária CFM Ltda.. Empresa de origem inglesa, com 100 mil cabeças de gado, a CFM é uma das maiores fornecedoras de cana do Brasil e proprietária da fazenda onde será instalada a Usina Guariroba. A unidade de Ouroeste, por sua vez, terá como sócia a usina Alcoeste, de Fernandópolis, da família Arakaki.

"O investimento mostra mais uma vez o espírito empreendedor das famílias Biagi e Junqueira, que, no início do Proálcool (Programa Nacional do Álcool, que comemora 30 anos nesta semana), montaram a Usina Moema, pioneira numa região até então sem a presença de canaviais", lembra Biagi, presidente da Moema. Como disse à época Eduardo Diniz Junqueira, presidente da Vale do Rosário e também acionista das usinas: "Se você subir no topo da árvore mais alta, não vai enxergar nenhuma fumaça saindo de chaminé de usina".

Euforia

Os prefeitos locais estão eufóricos com os novos investimentos. "Nossa arrecadação, atualmente de R$ 12 milhões por ano, vai quase triplicar com a vinda da usina para Itapagipe", informou a prefeita mineira Benice Maia (PSDB). Segundo ela, a TV Bandeirantes deverá instalar antena na cidade e até o Banco do Brasil voltará a ter uma agência local.

Biagi elogia a participação ativa dos políticos e do governo de Minas Gerais, "que incentivaram e ajudaram no processo" de implantação das unidades mineiras. Segundo ele, as usinas de Minas obtiveram financiamento do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), sendo que, para a Itapagipe, os recursos estão sendo liberados e, para Frutal, em análise final. Além de recursos próprios e do BDMG, há financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Com os altos preços do barril do petróleo e os prognósticos de que eles continuarão subindo; a grande defasagem do preço da gasolina; e a comercialização de carros bicombustível (que consomem álcool e/ou gasolina) ultrapassando 60% das vendas totais, é natural que o setor se prepare para atender à demanda por álcool. "O Brasil precisará dobrar a produção de álcool até 2010, para algo próximo a 30 bilhões de litros", diz Biagi.

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