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Clima dá otimismo para a colheita da uva no RS

Seca deve reduzir volume, mas a qualidade está acima da média


Seca deve reduzir volume, mas a qualidade está acima da média

A mesma seca que castiga algumas culturas no Rio Grande do Sul, a exemplo da soja e do milho, está levando ao setor vitivinícola gaúcho a perspectiva de uma das melhores safras dos últimos anos. Justamente no meio da colheita, especialistas afirmam que algumas variedades brancas já colhidas – como a chardonnay e pinot noir, usadas como vinho base de espumantes – sinalizam qualidade muito acima da média, e devem resultar em produtos igualmente superiores depois de elaborados os vinhos oriundos desta safra. Mesmo com o impacto do clima no volume de produção, a maturação e sanidade observadas nas videiras garantem o otimismo.


O gerente de marketing do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), Diego Bertolini, afirma que a estimativa da entidade é que o volume total seja reduzido em até 30% na comparação com 2011, quando a produção registrada foi uma das maiores safras da história, com 720 milhões de quilos colhidos. Por outro lado, o dirigente lembra que, mesmo com o granizo que afetou alguns parreirais, a qualidade da safra 2012 deve compensar os produtores. “A estiagem favorece na qualidade e maturação das uvas, mesmo com impacto no volume de produção”, explica o gerente de marketing.

Bertolini destaca que os produtores de vinhos finos têm focado suas atenções mais para a qualidade do que a quantidade de uvas produzidas, o que deve ter impacto, inclusive, na imagem e comercialização dos vinhos produzidos com as variedades cultivadas nesta safra. “Os produtores estão falando que, se o clima continuar assim, vai ser umas das melhores safras dos últimos 20 anos em termos de qualidade. Isso os estimula a se especializarem cada vez mais, com foco no consumidor”, argumenta.

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Flores da Cunha e Nova Pádua, Olir Schiavenin, confirma a qualidade atribuída às uvas pelo gerente do Ibravin. Para ele, a safra deste ano deve superar, inclusive, a de 2005, considerada uma das melhores da história. O dirigente aponta que, na região, o granizo foi localizado e afetou menos de 10% da produção, que já observou a cicatrização nas plantas atingidas. Na propriedade de Schiavenin, somente na terça-feira foram colhidas cinco toneladas da variedade bordô. “Ainda temos a uva Isabel, que deve ficar para a segunda quinzena de fevereiro, e é a mais produzida aqui na região”, explica o produtor. “Em termos de qualidade, está excelente, e o tempo está colaborando, o produtor não vem sentindo dificuldades em colher”, acrescenta Schiavenin.

Já Ademir Brandelli, enólogo e proprietário da Vinícola Don Laurindo, de Bento Gonçalves, vai além. De acordo com o especialista em vinhos, esta pode se confirmar como a melhor safra da vitivinicultura brasileira. Chegando à 36ª safra como enológo, ele afirma que a natureza foi sábia em dar aos produtores uma safra em larga quantidade – a de 2011 – e uma sequência de extrema qualidade como a atual, situação que faz com que, apesar da queda no volume produzido, os estoques do ano passado deem conta da demanda. “Estamos preocupados e interessados na qualidade, por isso a quebra de cerca de 20% da safra em função da estiagem será compensada no que ganhamos em qualidade”, diz o enólogo. Na Don Laurindo, as variedades brancas já foram retiradas das videiras, enquanto a colheita das tintas deve ser realizada a partir do Carnaval.

Na Vinícola Salton, que concentra 40% do mercado nacional de espumantes, a perspectiva de criar produtos especiais a partir desta safra também é realidade. Lá, todas as variedades brancas usadas na elaboração de espumantes já foram colhidas. Tanto estas quanto as que ainda serão colhidas são descritas como “espetaculares” pelo diretor-técnico da vinícola, Lucindo Copat. Ele explica que agora é o momento da colheita das uvas médias, a exemplo da moscato e variedades usadas em vinhos aromáticos. “Na próxima semana devemos iniciar a colheita das tintas, que são basicamente Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Tannat, e tudo indica que está pintando uma safra excelente, que vai ser marcante, com grandes vinhos que surgirão”, aponta o executivo.

Maior acervo genético de videiras da América Latina foi inaugurado em Bento Gonçalves

O ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Mendes Ribeiro Filho, e o presidente da Embrapa, Pedro Arraes, inauguraram na sexta-feira as instalações do maior acervo de material genético de videira da América Latina, o Banco Ativo de Germoplasma de Uva (BAG-Uva). O evento aconteceu na Embrapa Uva e Vinho, em Bento Gonçalves (RS). Mais de 150 pessoas prestigiaram a cerimônia, em que também foi realizado o lançamento do CD Cadastro vitícola georreferenciado: uso na caracterização vitícola e desenvolvimento da IG Monte Belo.

O banco Bag-Uva reúne cerca de 1.400 variedades de videiras entre espécies cultivadas e silvestres, variedades, clones e seleções. Atualmente, o acervo oferece suporte à obtenção de novas cultivares de uva, adaptadas às condições climáticas brasileiras. A iniciativa também vai auxiliar a evitar pragas e doenças climáticas, tornando a produção mais resistente.

Na cerimônia, foi inaugurado o prédio de laboratórios para apoiar as atividades do BAG-Uva. O local, com uma área construída de 340 metros quadrados, será denominado de Laboratório de Documentação, Conservação e Caracterização (LDCC). Foram investidos mais de R$ 2 milhões, desde 2010 – com recursos do projeto Agrofuturo/AgroVerde, apoiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) –, no LDCC, em melhorias como a construção do prédio de laboratórios e a aquisição de câmaras frias e equipamentos para conservação e avaliação da coleção.

Já o CD lançado é a primeira publicação do Cadastro Vitícola do Rio Grande do Sul que apresenta informações georreferenciadas dos vinhedos. A proposta é servir de subsídio à implementação da Indicação Geográfica (IG) de vinhos finos e espumantes Monte Belo. Além disso, para referência metodológica na atualização e expansão do Cadastro Vitícola, até o momento somente realizado no Rio Grande do Sul.

Para o ministro da Agricultura, a evolução do setor vitivinícola é sinal de que atitudes em favor estão sendo tomadas. “Que bons momentos não sejam de graça, isso é porque algumas coisas já estão sendo feitas”, afirmou Mendes Ribeiro

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