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Clima em fevereiro: algodão e café beneficiados, milho safrinha e cana-de-açúcar em risco

Chuvas acima da média no centro-leste e seca no sul deve entrar no radar dos produtores



Foto: Pexels - Pixabay

Revisão Aline Merladete

O mês de janeiro foi marcado pela retomada das chuvas no centro-leste do país, o que contribui para o desenvolvimento das lavouras plantadas no final da janela de plantio, bem como vem favorecendo o estabelecimento daquelas que, historicamente, têm o plantio realizado no início do ano.

Já para o próximo mês, apesar das condições ainda indicarem a presença do El Niño com forte intensidade, a resposta da atmosfera já dá indícios do seu enfraquecimento. De modo que outros fatores climáticos começam a influenciar as condições de chuvas no Brasil.

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Também podemos esperar um mês de fevereiro mais quente do que o usual, em boa parte do país. Assim como chuvas mais irregulares em áreas que ainda demandam elevada necessidade hídrica, condição que deve aumentar a pressão hídrica nas lavouras.

Chuvas de Janeiro 2024

As chuvas, neste mês de janeiro, foram mais frequentes em áreas do Nordeste e Centro-Norte do país, como no MATOPIBA, norte de Goiás, nordeste de Mato Grosso Grosso e sul do Pará.

Contudo, essas chuvas vieram acontecer na segunda metade do mês, com a influência da formação da Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), beneficiando as lavouras de soja no MATOPIBA que ainda avançam em estádios do desenvolvimento vegetativo.

Além da maior presença das chuvas, a segunda metade do mês foi marcada por uma redução das temperaturas máximas, o que também foi benéfico para o desenvolvimento vegetativo e floração das lavouras. Muito embora, aquelas que foram fortemente afetadas no início do ciclo, pouco se beneficiaram das chuvas recentes.

Outra cultura que foi fortemente favorecida pela ocorrência das chuvas foi o algodão. O aumento das precipitações agora em janeiro, ocorreram paralelamente à incursão das chuvas, com as melhores condições sendo observadas ao norte de Minas Gerais e nos produtores da região Nordeste.


Mapas de chuvas registradas em Janeiro de 2024. Dado atualizado até 30/01/2024.


Mapas desvio da chuva em Janeiro de 2024. Áreas em vemelho e amarelo, indicam chuvas abaixo da méida. Áreas em azul, indicam chuvas acima da média. Dado atualizado até 30/01/2024.

Panorama Condições Oceânicas e El Niño

As condições devem influenciar o clima no decorrer deste mês de Fevereiro de 2024. Segue o padrão de águas mais quentes no Oceano Pacífico Equatorial, com valores de +1,7°C acima da média, mantendo ainda um quadro de El Niño – valores acima de +0,5°C além da média e acima do patamar de +1.5°C classificando o fenômeno como El Niño Forte.

Para o mês de Fevereiro, a condição de El Niño deve persistir, mas dando indícios do seu enfraquecimento no decorrer das próximas semanas.


Probabilidades para a persistência do El Niño (vermelho), La Niña (azul) e Neutralidade (cinza) no decorrer dos trimestres corridos. Fonte: IRI/Columbia.

Outro ponto de atenção se volta às condições oceânicas do Atlântico – costa do Brasil. Com as águas mais aquecidas, existe um maior fornecimento de umidade para as regiões próximas.

Para o mês, espera-se águas relativamente mais frias na costa da Argentina, o que pode diminuir a quantidade de água disponível para as chuvas no sul do país, ao passo que desde a costa do sudeste até o extremo norte, as temperaturas das águas oceânicas serão mais elevadas.

Previsão de para as temperaturas Fevereiro 2024

O consenso entre as projeções climáticas analisadas indica um aumento na probabilidade de temperaturas acima da média em grande parte do Brasil, exceto na região da fronteira Sul, onde as temperaturas devem permanecer relativamente abaixo da média para o mês de fevereiro. Este padrão térmico alterado tem implicações significativas para a agricultura.

Em primeiro lugar, o aumento das temperaturas contribui para a redução do ciclo vegetativo das culturas. Plantas como soja e milho, por exemplo, podem apresentar um ciclo mais curto em ambientes mais quentes, o que pode impactar tanto a fenologia quanto a produtividade. Além disso, temperaturas elevadas podem aumentar a taxa de transpiração das plantas, elevando consequentemente a demanda por água. Isso pode ser crítico, especialmente em regiões onde o acesso à água é limitado.

O contexto de chuvas mais irregulares, aliado a temperaturas mais altas, aceleram a perda de umidade do solo. Esse fenômeno reduz a eficiência do armazenamento de água no solo, impactando negativamente a disponibilidade de água para as plantas. Além disso, períodos prolongados de seca podem levar à degradação do solo, afetando sua estrutura, capacidade de retenção de água e fertilidade.


Previsão multimodelo Agrotempo para a variação de temperaturas em relação à média no mês de Fevereiro. Áreas em amarelo indicam previsão de temperaturas acima da média histórica.
 

Previsão de para as Chuvas Fevereiro 2024

A previsão de chuvas para o mês de fevereiro apresenta um padrão distinto no território brasileiro, com uma expectativa de precipitações acima da média no centro-leste do país, enquanto o norte e o centro-sul devem experimentar um período mais seco.

PAINEL DE PROJEÇÕES

Comparação entre diversas projeções para o desvio das chuvas no mês de Janeiro de 2024.

No Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná e Santa Catarina, a previsão de um período mais seco pode afetar adversamente o estabelecimento do milho safrinha, uma cultura significativamente sensível à variação na disponibilidade de água durante suas fases iniciais. A escassez de chuvas nesse período crítico pode resultar em emergência irregular das plântulas e desenvolvimento vegetativo inadequado, afetando potencialmente os rendimentos.

Para as lavouras de cana-de-açúcar em São Paulo, a redução das chuvas pode elevar o nível de estresse hídrico. Isso pode afetar o crescimento e o acúmulo de sacarose na cana, impactando diretamente a produtividade e a qualidade do açúcar produzido.

Em contraste, a previsão de chuvas mais abundantes é favorável para o cultivo do algodão em Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais, Bahia e Piauí. A umidade adequada durante as fases iniciais é crucial para o bom estabelecimento dessa cultura. Da mesma forma, para os cafezais do Norte de Minas Gerais, Espírito Santo e Sul da Bahia, que estão na fase de granação dos frutos, um aumento nas chuvas pode ser benéfico, desde que bem distribuído e sem excessos, para evitar doenças fúngicas.

No entanto, a combinação de chuvas frequentes e temperaturas elevadas exige um monitoramento fitossanitário mais rigoroso, especialmente nas regiões produtoras de café. Esta combinação climática pode favorecer o desenvolvimento de pragas e doenças, como a ferrugem do café, exigindo uma atenção especial para o manejo integrado de pragas.

Por fim, as áreas de milho e soja no sudoeste do Rio Grande do Sul, que estão nas fases de desenvolvimento vegetativo e enchimento de grãos, podem enfrentar desafios com a previsão de um fevereiro mais seco. A deficiência hídrica durante estas fases pode impactar negativamente o rendimento dessas culturas. No entanto, as lavouras de arroz, devido às suas práticas específicas de manejo de água, podem ser menos afetadas por essas condições climáticas.


Previsão multimodelo Agrotempo para a variação das chuvas em relação à média no mês de Fevereiro. Áreas em laranja indicam previsão de chuvas abaixo, e áreas em verde indicam chuvas acima da média histórica.

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