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Clima pressiona safra de grãos do país


Como acontece em todos os anos nesta mesma época, as atenções dos produtores brasileiros de grãos estão voltadas para os reflexos do clima em suas lavouras, em diferentes fases de desenvolvimento conforme a cultura e sua região de plantio. O que mudam todos os anos são o clima em si e, é claro, as perspectivas sobre seus efeitos, e nesses pontos este início de 2004 tem sido bem diferente de 2003. E diferente para pior, ainda que, de acordo com analistas, sem motivos para pânico.

Em janeiro do ano passado, as condições climáticas eram excepcionalmente favoráveis ao desenvolvimento da safra 2002/03, com chuvas em geral bem distribuídas e na medida certa para plantações de soja e milho. Agora, há problemas, como excesso de chuvas e pouca luminosidade em áreas do Centro-Oeste, que podem atrasar a colheita de soja, e escassez pluviométrica no Sul.

Gotardo Machado de Souza Júnior, técnico da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) especializado em soja, afirma que na última estimativa do órgão para a produção brasileira de soja em 2003/04, divulgada em dezembro, essas dificuldades foram levadas em conta. Na ocasião, o projetado volume de 58,76 milhões de toneladas foi considerado conservador até pelo ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues. Agora, a cautela ganha eco.

Também um pouco mais conservador desde o plantio desta safra, o analista Antonio Sartori, da Brasoja, reduziu sua própria estimativa para a soja. Segundo ele, o país dificilmente colherá mais de 57 milhões de toneladas, principalmente em virtude de quedas de produtividade no Rio Grande do Sul, com a seca, e na região do cerrado baiano, atualmente com pouca luminosidade.

Já as consultorias Safras & Mercado, Agência Rural, Tetras e Céleres por enquanto não alteraram suas previsões iniciais para a oleaginosa, todas em torno das 60 milhões de toneladas projetadas pelo Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) para o Brasil em 2003/04.

Para Renato Sayeg, da Tetras, a produção deve bater em 60 milhões de toneladas, com uma produtividade nacional que pode chegar a 2,9 toneladas por hectare, o que seria um novo recorde. Ele considera preocupante a estiagem no Sul, mas diz que uma frente fria que deve provocar chuvas na também seca Argentina neste fim de semana provavelmente chegará ao Sul, aliviando ou solucionando o problema.

Flavio França, da Safras e Mercado, mantém sua estimativa em 59,7 milhões de toneladas, mas diz que terá um novo levantamento em fevereiro - bem como a Conab, que terá uma nova pesquisa de campo. França diz que as condições gerais das lavouras de soja são boas, mostra alguma preocupação sobre a umidade no Centro-Oeste e expõe um temor "sem alarme" sobre o déficit hídrico na região Sul.

Anderson Galvão, da Céleres, também mantém sua previsão, em 59,7 milhões de toneladas, e o mesmo acontece com Fernando Muraro, da Agência Rural, que acredita em 59 milhões. Os dois, como os demais, chamam a atenção para a disseminação da doença conhecida como ferrugem asiática nas lavouras do país, mas lembram que os produtores estão mais atentos ao problema nesta safra e que o mal não deverá causar prejuízos significativos.

Para o milho, o cenário tem menos variáveis. Carlos Eduardo Cruz Tavares, economista da Conab especializado no grão, lembra que a última estimativa do órgão para a safra de verão foi de 32,65 milhões de toneladas, uma queda de 6,1% (reflexo do avanço da área de soja) e diz que os maiores temores são os efeitos de um veranico no Centro-Oeste em dezembro e a oferta nordestina.

Para Leonardo Sologuren, da Céleres, algumas regiões produtoras do Paraná e de Santa Catarina também vinham registrando falta de chuvas até a semana passada, mas a produtividade não havia sido afetada. Em outras regiões, como sudoeste goiano, Triângulo Mineiro e São Paulo, o clima estava normal até a semana passada. Na nova previsão da consultoria, que deve sair na segunda, a expectativa é que o número supere a previsão inicial, de 41 milhões de toneladas (safra de verão mais safrinha). O motivo é o crescimento do plantio em regiões consumidoras como São Paulo e Minas. "A soja roubou área de milho, mas não tanto quanto se imaginava".

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