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Contratos privados para negociar milho


Governo e BM&F lançarão no mercado novos mecanismos de venda para produtos agrícolas. Governo e iniciativa privada estão estudando lançar, em setembro, contratos de opção para o milho na Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F). A medida será a primeira da nova estratégia de política agrícola, visando a menor intervenção direta no mercado.

O instrumento poderá ser usado, futuramente, em outros produtos e servirá de embrião para a formação de uma companhia de comercialização agrícola. O plano surge no momento em que há escassez de recursos por parte do Tesouro Nacional para a ampliação do apoio à venda do grão e há melhoria do preço, com o crescimento das exportações. A perspectiva é de que parte do excedente de produção seja escoado pelos portos.

Mais recursos

O governo federal anuncia ainda a liberação de R$ 200 milhões para a Linha Especial de Crédito de Comercialização (LEC), com alongamento do prazo para contração para 12 meses. A data inicial era 31 de agosto.

As exportações de milho, nos últimos dias, diante da valorização do preço do grão no mercado internacional, estão aquecidas. No Porto de Paranaguá (PR), quatro navios aguardam para atracar.

Apenas no mês de agosto foram exportadas 288,4 mil toneladas de milho, o triplo do volume embarcado no mesmo período de 2002, quando haviam sido registradas 88,1 mil toneladas. Em todo o País, segundo levantamento efetuado pela empresa FNP Consultoria, foram escoadas 500 mil toneladas do grão neste mês.

Deives Faria da Silva, analista da FNP Consultoria, diz que houve melhoria do preço internacional devido à quebra da safra européia e à seca registrada nos Estados Unidos, refletindo-se em ganhos no mercado interno. Em uma semana, houve variação de 8,5% no preço pago em Paranaguá (PR).

Neste novo cenário é que começa a ser desenhada a estratégia para o setor de milho. "Nós não temos recursos, por isso precisamos criar novos mecanismos para aumentar a eficiência dos mercados", afirma Ivan Wedekin, secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e do Abastecimento (Mapa).

Ajuste fiscal

O secretário informa que o poder de intervenção do governo está pequeno, diante da necessidade de ajuste fiscal. Este ano, gastou-se com a comercialização menos de 10% do orçamento para apoiar a agricultura. Do total, 65% foram destinados à securitização das dívidas. Segundo Wedekin, até o vencimento das opções de café - 2 milhões de sacas de 60 quilos - seguirá o impasse para o lançamento de contratos para o milho.

O ministério pretendia ofertar papéis que somam 1,5 milhão de toneladas. De acordo com o secretário, enquanto o café teve apoiado 40% do valor de sua produção, os produtos básicos (milho, arroz, feijão e mandioca) receberam apenas 5% de sua renda.

Para a implantação do novo mecanismo, foi criado um grupo de trabalho que reúne governo e iniciativa privada. No mercado, algumas empresas já estão incentivando a comercialização futura do grão. É caso da Sadia, que pretende comprar 5% de sua demanda - cerca de 150 mil toneladas - antecipadamente, pagando valores próximos a US$ 5 a saca, para entrega do grão entre janeiro e fevereiro do próximo ano.

Preços futuros

"Estamos buscando liquidez e criando uma perspectiva para o produtor visualizar preços futuros", diz Ricardo Fernandes, gerente de compras de grãos e derivados da Sadia. Outra empresa, em São Paulo, está fechando contratos com os agricultores a preços próximos a R$ 17 a saca. A idéia é semelhante aos contratos de opção do governo federal, ou seja, se o mercado cair, o produtor tem a garantia do preço acordado, se subir, o valor será reajustado.

Maior transparência

O secretário diz que o novo mecanismo - contratos de opções privados - poderia ter o prêmio financiado pelo governo, bem como os níveis de preços balizados pelo Estado. Wedekin diz ainda que o lançamento destes títulos poderiam estar associados aos do governo, dando mais transparência e visibilidade dos preços futuros.

"Isso evita a gangorra dos preços e abre caminho para a criação de uma companhia de comercialização", afirma Ivan Wedekin, ressaltando que a iniciativa privada tem que incentivar a produção de sua matéria-prima, ajudando a regular o mercado.

Segundo o secretário, há a possibilidade ainda de, posteriormente, os contratos serem utilizados para outros produtos agrícolas. Fazem parte da nova estratégia do governo também lançar futuramente letras de câmbio agrícola e criar um fundo de investimento.

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