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Controle de pragas no armazenamento do arroz


Após a colheita e a secagem, o rizicultor, que pretende armazenar o grão, deve estar atento a essa importante etapa do processo de produção, pois, daí em diante, a conservação adequada do arroz será a garantia da preservação da qualidade do produto para consumo e de um bom rendimento no processamento industrial.

A temperatura ambiente, a umidade relativa do ar e o teor de umidade do grão no durante o armazenamento, são as variáveis mais importantes no monitoramento e controle da “saúde” do produto estocado. O teor de umidade máximo recomendado para o armazenamento dos grãos é de 13% a 14%. Entretanto, existe uma relação de troca muito estreita entre o grão e o ambiente em que se encontra, podendo ocorrer absorção ou perda de água por parte do produto armazenado, em função da umidade relativa do ar ambiente.

Felizmente, nas condições ambientais do Brasil Central, é comum o arroz entrar no armazém ou nos silos graneleiros com o teor de umidade ideal e apresentar, seis meses depois, teor de umidade em torno de 9% ou menos. Isso acontece porque, embora as temperaturas diárias sejam relativamente altas durante o período de estocagem (em torno de 30ºC), a umidade relativa permanece ao redor de 40%, ou abaixo, o que é muito favorável à boa conservação do produto.

Entre os insetos que causam maiores danos econômicos aos grãos armazenados, pode-se citar a traça dos cereais, os gorgulhos e o furador pequeno dos grãos. Estes insetos se destacam também pela capacidade de multiplicação, uma vez que poucos exemplares, podem formar populações consideráveis em um curto período de tempo.

A traça dos cereais é mais conhecida pelo agricultor na forma adulta, ou seja, mariposinhas. As fêmeas colocam seus ovos nas fissuras dos grãos com casca, podendo ocorrer a infestação no campo ou, geralmente, no próprio armazém. Após a eclosão, as lagartas deslocam-se bastante na massa de grãos, penetrando-os onde formam o casulo, que originará a mariposinha, que possui entre 6 a 8 milímetros de comprimento.

O dano da traça dos cereais é causado apenas pela lagarta que, ao entrar no grão, destrói seu conteúdo. Uma particularidade é que se trata de uma praga de superfície que infesta apenas os grãos localizados nos primeiros 10 centímetros de profundidade. Existem estudos, cujas estimativas de prejuízo com o inseto variam de 2% a 30%. Um detalhe é que dificilmente a traça dos cereais penetra em grãos de arroz com casca bem fechada.

A forma mais evidente dos gorgulhos para o produtor é também a fase adulta, quando surgem besourinhos com 2 a 4 milímetros de comprimento, de coloração avermelhada a quase preta. A cabeça é prolongada para frente com um tipo de tromba. As fêmeas abrem cavidades nos grãos para colocar seus ovos, onde o desenvolvimento ocorrerá até que o inseto atinja o fim da fase de desenvolvimento.

Os danos são causados tanto pelas larvas como pelos adultos. Eles afetam a quantidade e a qualidade do arroz descascado ou em casca. Ao contrário da traça dos cereais, que é uma praga superficial, os gorgulhos podem infestar a massa de grãos a mais de um metro de profundidade.

O furador pequeno dos grãos é mais visível na fase adulta, quando possui entre 3 a 4 milímetros de comprimento. Os adultos são de coloração marrom a preto, de forma quase cilíndrica. Os ovos são postos pela fêmea isoladamente ou agrupados no meio da massa de grãos. As larvas podem penetrar nos grãos partidos ou perfurados pelo inseto adulto. A pupa (estado intermediário entre a larva e a fase adulta) pode ser encontrada tanto dentro quanto fora dos grãos, no meio das impurezas.

Os três insetos podem infestar os grãos desde a lavoura, atacando praticamente todos os cereais. O arroz descascado ou com casca defeituosa é mais severamente atacado por essas pragas.

Quanto ao controle de insetos-pragas que atacam os grãos durante a armazenagem, o produtor precisa se precaver. A prática do expurgo no armazém é recomendada, a fim de eliminar as fases desses insetos que vêm do campo nos grãos de arroz.

Para tanto, utilizam-se defensivos químicos à base de fosfina. O produto comercial está disponível no mercado na forma de comprimidos (0,6 gramas), de pastilhas (3 gramas) ou de sachés (34 gramas). Os produtos liberam gás fosfina quando em contato com o ar.

A dosagem normalmente recomendada é de um comprimido para cada 3 a 4 sacos de 60 quilos de grãos ou uma pastilha para cada 15 a 20 sacos. A pilha de sacos deve ser coberta com lona de plástico adequada, vedando-se bem as bordas para evitar vazamento de gás, extremamente tóxico aos seres humanos e aos animais.

Na armazenagem a granel, em silos verticais, a aplicação do produto é feita, geralmente, dosando-se os comprimidos nos transportadores de carga, com posterior vedação das aberturas superiores. Em silos horizontais ou graneleiros, o procedimento mais comum é a introdução dos comprimidos na massa de grãos, por meio de uma sonda, cobrindo-se com lona de plástico.

O tempo de permanência do arroz sob a ação dos gases é muito importante para a efetividade do tratamento, recomendando-se um mínimo de três dias. Por ser muito tóxico, esse produto deve ser manuseado apenas por pessoas treinadas.

Além do expurgo, o manejo de pragas do arroz armazenado preconiza a limpeza dos depósitos antes do armazenamento e o tratamento periódico com inseticidas das superfícies internas do armazém para eliminar possíveis focos de infestação. A pulverização de malation 500 CE, deltametrina 25 CE e pirimifos-metil 500 CE deve ser feita sempre que forem notados focos de infestação.

A despeito dessas recomendações, um dos problemas cruciais no controle de insetos e demais pragas do armazenamento advém da exigência cada vez maior, por parte dos consumidores, de alimentos isentos de resíduos de pesticidas.

Essa situação induz à prática da armazenagem em atmosfera controlada, ou modificada, mantendo o ambiente do armazém dentro dos limites de temperatura e umidade relativa inadequados à proliferação de pragas.

Nesse mesmo sentido, os programas de melhoramento genético do arroz possuem uma tarefa importante. É fato que as variedades de arroz apresentam diferenças significativas quanto à suscetibilidade às pragas de armazém. Variedades com pouco ou nenhum defeito na casca dos grãos não são atacadas por essas pragas. Cabe, portanto, buscar a geração desses materiais que vem ao encontro das demandas atuais da sociedade.

Nóris Vieira

Evane Ferreira

Pesquisadores da Embrapa Arroz e Feijão (Santo Antônio de Goiás/GO)

Tel.: (62) 533-2110

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