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Cooperativas de crédito aproveitam boom agrícola

Agronegócio alavancou cooperativismo de crédito em MT, revela pesquisa da OCB


Agronegócio alavancou cooperativismo de crédito em Mato Grosso, revela pesquisa da OCB

O cooperativismo de crédito praticamente explodiu em Mato Grosso na última década, crescendo impressionantes 1.842%. Enquanto em 2000 o número de cooperados somava 11.903 pessoas, ao final de 2011 bateu a barreira de 231 mil, revela uma pesquisa do Sindicato e Organização das Cooperativas no Estado (OCB/Sescoop). Os adeptos deste modelo de sociedade buscam desfrutar de vantagens como tarifas e taxas menores, bem como o igual acesso à mesma gama de serviços oferecidos pelos tradicionais bancos.

Alta na atividade apoiada também pelo fortalecimento de diferentes setores da economia, a exemplo da agropecuária (cujo Produto Interno Bruto representa 26% do PIB estadual, acima de R$ 57,3 bilhões de acordo com o IBGE).
"O diferencial é que os cooperados são donos dos próprios negócios. Trabalham para eles mesmos e em havendo resultados positivos, retornam para o quadro social da forma como cada um participou. No banco, objetiva-se sempre um grupo minúsculo de acionistas", afirma Wilson José da Silva, conselheiro para o Ramo Crédito da OCB Mato Grosso.

A participação das cooperativas de crédito nas movimentações financeiras na unidade federada já chegou à casa de dois dígitos. Ou seja, do universo de empréstimos realizados 12% ocorrem via cooperativas. Em relação aos depósitos são 13, 5%, segundo o conselheiro.

Conforme lembra Silva, o ramo crédito integra um dos 13 diferentes setores de cooperativismo (agropecuário; consumo; crédito; educacional; especial; habitacional; infraestrutura; mineral; produção; saúde; trabalho; turismo e lazer).

Juntas, as 28 cooperativas de crédito atuantes em Mato Grosso representam 18% do total de cooperativas existentes na unidade federada, de acordo com a OCB. Cada uma voltada ao atendimento de um público específico. Nomes como Sicredi, Sicoob, Unicred, por exemplo, já vão sendo internalizados no dia a dia da população.

Quem atua especialmente com uma cartela de associados oriundos da atividade agrícola aposta em crescimento sustentado pelo agronegócio. E os números agrícolas do estado embasam a perspectiva. Com mais de 40 milhões de toneladas de grãos produzidos na safra 2011/12 o estado lidera o ranking da produção nacional, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). E se depender do campo, a renda agropecuária no estado pode subir 19,5%, batendo a barreira de R$ 33,9 bilhões, projeta o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea).

 
 
Mais renda dentro da porteira, maior a necessidade de um agente para operacionalizar a parte financeira. "Passa-se a usar uma cooperativa de crédito para fazer toda movimentação financeira necessária para a gestão do negócio", lembra Danilo Vicentim, gerente de Desenvolvimento do Sistema de Crédito Cooperativo - Sicredi - regional Mato Grosso, Pará e Rondônia.

Somente esta instituição cooperativa conta com 128 unidades de atendimento e postos avançados e 230 mil associados na regional. "Até 2015 pretendemos crescer 35% e passar de 330 mil associados no estado", pontua Vicentim. Somente em 2011, a cooperativa liberou mais de R$ 1 bilhão em recursos para o crédito rural.

A adesão e consequentemente a maior participação dos cooperados, contribuiu para elevar em 35% o patrimônio líquido da cooperativa (capital social, sobras e fundos de reservas) entre o primeiro semestre de 2011 e o igual período de 2012.

O diretor-executivo da Central Sicredi MT/PA/RO, João Abdalla, diz que o crescimento é influência do agronegócio, atualmente responsável por 70% do movimento de crédito do Sistema.

Para o produtor rural Laércio Pedro Lenz, de Sorriso, município a 420 quilômetros, o que atrai no cooperativismo de crédito é a menor burocracia.

"As cooperativas são mais desburocratizadas e há facilidade em acesso do crédito. As sobras, também, retornam para o produtor e os recursos são movimentados dentro do próprio município", contextualizou ao Agrodebate.

Lenz decidiu aderir ao cooperativismo de crédito desde que iniciou as atividades no meio rural, há mais de duas décadas, no estado do Rio Grande do Sul. Foi neste estado que surgiu em 1902 a primeira cooperativa de crédito do Brasil.
 
O presidente do Sindicato e Organização das Cooperativas em Mato Grosso, Onofre Cezário, diz que de maneira geral, as cooperativas (de diferentes ramos), estão presentes em 80% do território do estado. Elas abrangem 34,72% da população do estado.

Um estudo da OCB mostrou ainda que com o passar dos anos, a participação na população economicamente ativa (PEA) também cresceu. Saltou de 2,95% em 2010 para outros 15,51% ao final de 2011. Sequência que traduz, segundo o dirigente, a difusão do cooperativismo em Mato Grosso.

"Nos últimos dez anos o crescimento do cooperativismo em Mato Grosso chegou a 200%", pondera Cezário.
No Brasil, são mais de 6,5 mil cooperativas atuantes em diferentes setores e com mais de 10 milhões de associados.

Especificamente as do ramo crédito somam 1.047 e 4,6 milhões de cooperados, total 16% superior ao de participantes em 2010, quando eram pouco mais de 4 milhões de pessoas. Atualmente, representam cerca de 3% do sistema financeiro e a meta é elevar o grau de representatividade para 10% nos próximos anos.

Para o conselheiro para o ramo fiscal da OCB em Mato Grosso, Wilson José da Silva, a não existência de cooperativas de crédito acarretaria em uma grave consequência aos milhões de cooperados.

"Se as cooperativas saíssem do mercado, o impacto seria de cerca de R$ 3 bilhões de taxas de juros que seriam pagas pelos associados".

Cooperativas de crédito são autorizadas a funcionarem pelo Banco Central e são fiscalizadas por essa instituição.
 
 
 
Mato Grosso do Sul

Em Mato Grosso do Sul uma das principais cooperativas de crédito é o Sicredi. A instituição atua no Estado desde o início da década de 90 e atualmente está presente em 36 municípios e tem cerca de 89 mil associados, sendo que em torno de 70% estão ligados diretamente ou indiretamente ao agronegócio.

O gerente de desenvolvimento de Negócios da Central Sicredi Brasil Central, Evandro Freo, diz que o cooperativismo de crédito é uma grande ferramenta para estimular o crescimento do setor produtivo do Estado.

"É um meio de o associado ter acesso ao mercado financeiro, buscando produtos e serviços a um custo mais acessível para financiar sua cadeia de produção, agregando valor no seu negócio. Outro fator importante, que como alternativa, atua também como moderador de mercado, dentro do setor financeiro", comenta.

O pecuarista Rafael Henrique Ruzzon, que tem propriedade rural em Camapuã, a 135 quilômetros de Campo Grande, e que é cooperado da instituição, aponta ainda outras vantagens do sistema. "Em uma cooperativa de crédito em tenho todos os serviços que teria a disposição em uma instituição bancária, com taxas menores e ainda sou sócio, sou dono. No fim do ano, se teve lucro ele ainda é dividido entre os cooperados", diz.

Em razão dessas facilidades, Ruzzon revela que todos os recursos que precisa tomar seja para custeio ou algum tipo de investimento na propriedade faz na cooperativa de crédito. "Faço a minha movimentação financeira lá porque vou ajudar a gerar um lucro que depois vai ser revertido para mim mesmo. É excelente", conclui.

O gerente do Negócios do Sicredi comenta que em razão desse modelo de negócio que a perspectiva para o crédito cooperativo é positiva. "As cooperativas de crédito têm se firmado no mercado financeiro como um sistema mais inclusivo, participativo e democrático, onde todos ganham", finaliza.
 

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