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Cotações da soja recuaram na última semana

A forte queda no farelo e no óleo ajudou a puxar para baixo o grão


Foto: Divulgação

Nesta última semana de abril as cotações da soja, em Chicago, recuaram fortemente. O grão perdeu quase um dólar por bushel entre 18 e 27 de abril, com o fechamento desta quinta-feira (27) ficando em US$ 14,26/bushel, contra US$ 14,97 uma semana antes. A forte queda no farelo e no óleo ajudou a puxar para baixo o grão. O farelo chegou a US$ 426,00/tonelada curta, no dia 26/04, algo que não era visto desde o início de dezembro do ano passado. Já o óleo bateu em 50,78 centavos de dólar por libra-peso, no dia 27/04, a mais baixa cotação desde março de 2021, portanto, há mais de dois anos.

Ajudou, ainda, para o recuo, além da safra recorde no Brasil, apesar da quebra no Rio Grande do Sul, o fato de que o plantio da nova safra de soja nos EUA avançar rapidamente. O mesmo chegava a 9% da área esperada, no dia 23/04, contra 4% na média histórica para a data. Por outro lado, os embarques de soja, por parte dos EUA, começam a marcar passo, sendo que na semana encerrada em 20 de abril o volume atingiu a apenas 374.960 toneladas, ficando próximos do limite mínimo esperado pelo mercado. Com isso, o total embarcado, até o momento, no atual ano comercial, soma 47 milhões de toneladas, apenas 1% acima do realizado no mesmo período do ano anterior.

Veja as cotações da soja AQUI.

A situação é tão especial que a forte queda, nos preços internos brasileiros da soja, está levando os EUA a importarem a oleaginosa de nosso país. Nestes dias, dois navios, somando um total de 79.150 toneladas estariam embarcando a soja brasileira com destino aos EUA. O CS Satira, afretado pela The Andersons, deve zarpar no dia 30 de abril levando 33.000 toneladas de soja brasileira do porto de Santarém. Já um volume maior, de 46.150 toneladas, tem a Bunge como afretadora e teria sido embarcado no porto de Itacoatiara em 25 de abril. Efetivamente, diante da enorme safra nacional, e do fato de que os produtores seguraram o produto esperando melhores preços, apesar dos alertas, levaram à disponibilidade de muito produto neste momento no Brasil. Isso choca-se com o problema crônico da logística nacional, e temos prêmios negativos nos portos e preços em constantes baixas no interior do país.

Os Indicadores ESALQ/BM&FBovespa – Paranaguá (PR) e CEPEA/ESALQ – Paraná chegaram a operar nos menores patamares desde meados de setembro/20, em termos nominais, nestes últimos dias. A situação só não foi pior porque o câmbio voltou a trazer o Real para níveis ao redor de R$ 5,05 por dólar nesta semana, embora na quinta-feira (27) já tenha retornado à casa dos R$ 4,97.

Soma-se a isso o fato de que vai se confirmando o quadro indicado no início do ano, de que a demanda da China, por soja brasileira, está aquém do esperado, o que explica o fato de o país, mesmo com uma safra recorde, não estar batendo máximas mensais de exportação. Assim, a média gaúcha fechou a semana em R$ 135,04/saco, enquanto as principais praças locais negociaram o produto a R$ 125,00. Nas demais praças nacionais os preços giraram entre R$ 115,00 e R$ 124,00/saco Dito isso, as exportações de soja por parte do Brasil atingiram a média diária de 802.400 toneladas até a terceira semana de abril, superando com folga a média de abril do ano passado, que foi de 603.800 toneladas. Isso pode ser o primeiro sinal de que, ao menos nas vendas externas, o quadro está melhorando. Afinal, a safra, agora, começa a ficar disponível, após o grande atraso na colheita (o Rio Grande do Sul ainda está colhendo, devendo entrar maio à dentro nesta tarefa, algo muito raro). Em tal contexto, o Brasil já exportou, em abril, 10,4 milhões de toneladas de soja, contra 11,5 milhões em todo o mês de abril do ano passado. Lembrando que o recorde mensal se deu em abril de 2021, quando a exportação somou 16,1 milhões de toneladas, segundo a Secex.

Por enquanto, em números revisados, a Anec estima que o Brasil terminará exportando um total de 14,7 milhões de toneladas de soja em abril. Em tal contexto, já se projeta um recorde de 118,1 milhões de toneladas, de todo o complexo soja, a serem exportadas neste ano. Isso representaria 16,1% acima do volume exportado em 2022. Seriam 94 milhões de toneladas do grão, 21,5 milhões de farelo e 2,6 milhões de  toneladas de óleo de soja. Isso tudo se a safra atual fechar, no Brasil, efetivamente entre 153 e 155 milhões de toneladas.

Enfim, diante do atual quadro de mercado que se apresenta no país e no mundo, na atualidade, a grande dúvida que se instala entre os produtores brasileiros é se vendem agora ou deixam a comercialização para mais tarde (isso para aqueles que podem esperar). Lembrando que a realidade é diferente para cada caso, porém, de forma geral a possibilidade de preços um pouco melhores para o segundo semestre não se descarta, especialmente vinda dos prêmios. Entretanto, haverá muita soja para comercializar no segundo semestre, pois até o momento, pouco menos da metade da safra 2022/23 foi comercializada. Esta grande oferta, dependendo de como virá a nova safra dos EUA, pode derrubar Chicago (para novembro, momento da entrada da safra estadunidense, esta Bolsa cotava o bushel em apenas US$ 12,66 neste final de abril). 

O problema, para carregar a soja até o segundo semestre, na busca de melhores preços, é que não se tem certeza de melhorias substanciais no valor do saco de soja, longe disso. Além do fato de que isso causa custos financeiros, de armazenagem, quebra técnica etc. Será preciso muitos cálculos e uma boa gestão financeira do negócio. O quadro piora para os gaúchos diante de mais uma safra quebrada. Assim, no conjunto da obra, mesmo os preços melhorando no segundo semestre, será preciso uma melhora bem significativa para compensar a espera, especialmente diante dos atuais juros praticados no Brasil. Com isso, cada produtor deve rever suas estratégias, fazer suas contas e definir um rumo a tomar.

O quadro é bem mais difícil para quem não adota o sistema de média de comercialização, procurando trabalhar na construção de uma média de preço no conjunto da safra, o que não é novidade. Por outro lado, é preciso muito cuidado, pois mantidas as condições atuais em Chicago (especialmente uma nova safra normal nos EUA), quem deixar para vender no segundo semestre “não pode esquecer que vai vender com menos US$ 2,00/bushel em Chicago, fato que exigirá que os prêmios estejam muito positivos para não perder dinheiro. É uma conta que precisa de muita atenção", portanto. Ou seja, o quadro de preços tende a ser
melhor no segundo semestre, porém, pode não ser compensador para muitos.

Por exemplo: considerando um câmbio se mantendo ao redor de R$ 5,00, Chicago ao redor de US$ 12,70/bushel como está indicando a Bolsa neste momento; e prêmios melhorando para US$ 0,80/bushel positivo, o preço da soja no Rio Grande do Sul, na média, tende a ficar ao redor de R$ 128,00/saco na primeira parte do próximo semestre, ou seja, praticamente nos mesmos níveis de hoje, todas as demais variáveis não se modificando. Lembrando que para carregar a soja até o segundo semestre há os custos adicionais já citados. Dito isso, alertamos que estas são tendências apenas, para orientação na tomada de decisão de cada um, pois certeza ninguém tem.

A análise é da Central Internacional de Análises Econômicas e de Estudos de Mercado Agropecuário - CEEMA

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