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Cotações da soja são históricas na bolsa de Chicago

Preços internacionais quebram recordes, mas sojicultor do Mato Grosso avisa que na prática não há motivo para comemoração



O mercado internacional da soja vai confirmando as projeções traçadas pelos analistas e produtores há quase um ano, que apostavam na recuperação das cotações, especialmente em função da demanda aquecida e no avanço do milho sobre áreas originalmente ocupadas pela oleaginosa, principalmente nos Estados Unidos. A certeza de que a procura pelo grão será maior do que a oferta, ou uma equação muito próxima disso, fez com que na última sexta-feira, a cotação atingisse a marca de US$ 11,64 por bushel na Bolsa de Chicago, cifras que representam o maior valor desde julho de 1973, quando a máxima foi de US$ 11,87 por bushel. Em outras palavras, o grão alcançou o maior preço dos últimos 34 anos e entra para história como o segundo maior.

Convertendo o preço, a saca de 60 quilos obteve a cotação de US$ 25,66, já que o bushel é um padrão de medida norte-americano equivalente a 27,2154 quilos.

Para se ter uma idéia do avanço dos preços em Chicago (CBOT), em apenas um ano, a variação da cotação registra incremento de 75,8%. Comparando o preço da última sexta-feira, US$ 11,64/bushel com o fechamento do pregão de 14 de dezembro de 2006, quando a cotação ficou em US$ 6,62/bushel, é possível perceber a alta. “Há um ano o mercado vem revelando máximas históricas e agora a soja alcança a segunda maior da história”, frisa o analista de mercado da Agência Rural Commodities Agrícolas (AgRural), em Cuiabá, Daniel Sebben.

O presidente do Sindicato Rural de Tapurah (433 quilômetros ao médio norte de Cuiabá), Marusan Ferreira Barbosa, confirma os bons preços à saca, mas revela que menos de 5% dos produtores da região serão beneficiados com a ‘onda altista’ de Chicago, já que mais de 70% da produção prevista nesta safra 07/08 – em 16,78 milhões de toneladas – foi comercializada antes mesmo do plantio.

“As lavouras foram vendidas por preços em média de US$ 10,80, o que com dólar na casa de R$ 1,74 dá cotação local de R$ 18 por cada saca. Na melhor das hipóteses, a relação custo de produção e renda ficará empatada. O que o governo federal e a sociedade em geral têm de entender é que por mais uma safra não haverá renda para honrar o pagamento de um passivo de três safras ruins”. A dívida agropecuária no Estado, entre securitização, financiamentos e custeio, contabiliza R$ 10 bilhões.

“A valorização da saca em Chicago não representa nada para o produtor estadual, porque não há nada em mãos para ser comercializado”. A AgRural confirma que da safra velha (06/07) não há praticamente nenhum grão em poder do produtor.

As cotações, que são as melhores das últimas três décadas, como lembra o ruralista, são atrativas no mercado disponível, ou seja, para quem tem soja armazenada, à pronta-entrega. “E nenhum produtor tem grão da safra passada disponível. Ou seja: mais uma vez os grandes beneficiados serão as multinacionais (trades) que estão com os grãos”, explica. No mercado futuro, como informa o analista da AgRural, as cotações fixadas para entrega a partir de março, por exemplo, obtêm neste momento preços que variam de US$ 16,5 a US$ 19, dependendo da região do Estado, valores considerados remuneradores no atual cenário, porém “desfrutado por poucos produtores”, como frisa o presidente do Sindicato Rural de Tapurah. A Associação dos Produtores de Soja do Estado de Mato Grosso (Aprosoja/MT) confirma que, em média, 66% da produção de soja do Estado foi fixado a US$ 12.

“É um ciclo vicioso. Vendemos de maneira antecipada para poder iniciar a safra trocando a soja a ser plantada por insumos e no final da temporada não temos mais grãos estocados para aproveitar a tradicional elevação de preços durante a entressafra. Aí, temos de comprometer nossa soja novamente antes de plantar para ter acesso aos insumos”, adverte.

Marusan lembra que na safra passada os contratos futuros tiveram preços fixados em US$ 9. “O médio norte e norte do Estado têm a pior logística do país”, reclama. Ele conta que o frete, que variava de US$ 80 por tonelada de Tapurah ao porto de Paranaguá (PR) na temporada passada, já apresenta novos preços: US$ 120 por tonelada.

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